Crítica de Teatro: Venus em Visom
Giselle Costa Rosa
No final da peça, toca a introdução da música “Venus in Furs”, composta por Lou Reed (1942 – 2013) para o álbum “The Velvet Underground & Nico” (1967). A canção faz referência ao livro homônimo “Venus in Furs” (1870), de Leopold Von Sacher-Masoch. O verso “Strike, dear mistress, and cure his heart” remete ao assunto abordado durante o espetáculo Venus em Visom cujos personagens de Vanda e Thomas ficam a cargo de Bárbara Paz e Pierre Baitelli respectivamente.
Vanda é uma atriz estabanada, desengonçada e vulgar que vai perturbar Thomas, um roteirista e diretor de teatro, na busca do papel tão almejado. Ela chega ao final do dia quando as audições já haviam terminado. Thomas, em sua mesa, exausto, por conta da longa bateria no casting, está prestes a ir embora. Mesmo assim, Vanda insiste em se apresentar. Contra todos os fatores desfavoráveis, ela consegue. Perceba que ela representa tudo o que Thomas odeia. No entanto, ao forçar a barra, demonstra ser excelente para o papel. Nesse momento, consegue prender a atenção dele. Vanda não só sabe o texto todo, como encena perfeitamente. É o que basta para que comece a submeter o encenador – no caso o diretor – à servidão da personagem do livro. Cria-se um laço de fascínio e manipulação, de domínio e submissão entre os dois personagens de teatro.
Um homem pede à mulher que ama para que o torne seu escravo e inflija a ele todas as torturas que quiser. E assim, pouco a pouco, Vanda e Thomas começam a viver entre eles as perversões dos personagens. A peça apresenta temas como domínio feminino e sadomasoquismo. Doses grandes de amor, castigo e humilhação. Os personagens são inspirados a partir da própria vida de Sacher-Masoch, o qual se deve o termo masoquismo, e Fanny Pistor, uma escritora emergente. Pistor contatou Sacher-Masoch com sugestões para melhorar sua escrita e torná-lo adequado para ser publicado.
Hector Babenco, currículo dominado pelo cinema, dirige a peça. Talvez tenha pecado por não ter segurado mais a onda de Bárbara Paz, um pouco acima do tom no início, e por não ter ousado mais. A personagem pede um exagero. Porém, um tom a menos equalizaria sua atuação. Faltou domar um pouco mais a bela fera. Baitelli, o ator que contracena com a Bárbara, atua justo, na medida. Inclusive quando ensaia uma troca de gênero.
O texto de David Ives segue intercalando presente e passado. Traz ao ringue homem e mulher, despidos de seus pudores. Cada qual terá que lidar com as questões de libido e vaidade. Um duelo onde subjugar o outro à sua vontade é o objetivo final. Para conseguir o que se quer, nada e ninguém será poupado.
Vale lembrar que existe uma HQ inspirada nessa novela “Venus in Furs”. A incumbência ficou por conta de Guido Crepax, primeiro grande mestre dos quadrinhos eróticos. A Vênus das Peles complementa outras obras de destaque como Valentina, Justine (baseado em histórias do Marquês de Sade) e Emanuelle.
FICHA TÉCNICA:
Texto: David Ives
Tradução: Daniele Ávila Small
Direção: Hector Babenco
Elenco: Barbara Paz e Pierre Baitelli
Direção de Produção: Cinthya Graber e José Carlos Furtado Filho
Cenário: Bia Junqueira
Figurino: Antônio Medeiros
Iluminação: Paulo César Medeiros
Projeto de som: Andrea Zeni
Relações Públicas/ Convidados: Liège Monteiro e Luiz Fernando Coutinho
Assessoria de imprensa: Liège Monteiro e Luiz Fernando Coutinho
Uma produção: Cinthya Graber e José Carlos Furtado Filho