Deslembro filme (1)

CRÍTICA | ‘Deslembro’

Cadu Costa

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20 de junho de 2019

Ditadura. Para alguns infelizes, ela nunca existiu. Mas para a grande maioria, ela matou, torturou, destruiu e se escondeu nas lembranças dos militares e desaparecidos. Mas é preciso lembrar para nunca mais esquecer e aprender para nunca mais repetir. São manchas negras na história da América Latina, uma dor sem fim na vida de famílias que seguem sem saber o destino de alguns dos seus. É sobre uma dessas famílias que se centra a narrativa de Deslembro, filme com roteiro e direção de Flavia Castro (“Diário de uma Busca”).

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A trama

Deslembro centra sua história sobre Joana (Jeanne Boudier), uma adolescente, filha de brasileiros, que não tem nada de familiar com o Brasil. Seus pais se exilaram para Paris, na França, quando a perseguição política aumentou na Ditadura Militar. Agora, porém, a anistia e a promessa de uma abertura política faz com que a mãe de Joana, junto com o marido e os seus dois outros filhos, voltem ao Brasil. Mas não é fácil, pois Joana precisará lidar com um país diferente e enfrentar o mistério sobre o sumiço de seu pai durante os anos de chumbo.

A saber, a história é familiar à diretora Flávia Castro. Isso porque ela também foi exilada quando criança e retornou ao Brasil com a mesma idade da personagem Joana. No entanto, Deslembro não é uma autobiografia. Seria apenas uma história comum aos viventes da época.

Deslembro (2)

Delicado e diferenciado

O filme é delicado. Tem suas noções de rebeldia adolescente com medo do novo e busca por respostas aos traumas apresentados. Tem um quê de dramalhão sim, mas é melhor que isso. Deslembro usa elementos do cinema muito interessantes e é sim diferenciado de filmes que já abordaram o mesmo tema como “O Ano Que Meus Pais Saíram de Férias” (2006). A relação de Joana com a mãe demonstra, sobretudo, a negação de sua identidade enquanto brasileira como quando a menina diz não querer “voltar a esse seu país de merda”.

As atuações são um destaque, principalmente pra jovem estreante atriz Jeanne Boudier. A menina, francesa radicada no Brasil, passeia com desenvoltura no texto falado em francês, português e espanhol. Falta uma maturidade, claro, mas Jeanne compensa com talento, carisma e criatividade. A veterana Eliane Giardini no papel de avó de Joana, por outro lado, dispensa comentários.

Em suma, nesses tempos de negação da ditadura, Deslembro cumpre seu papel de retratar com emoção e fatos. É um filme emocionante para quem, como os retratados na película, buscam a verdade e o reencontro com si. Adentrem nesta trama e no que ela significa para todos nós. É importante lembrar aos que tentam deslembrar as histórias que devemos nunca esquecer.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Deslembro
Direção: Flávia Castro
Roteiro: Flávia Castro
Elenco: Jeanne Boudier, Hugo Abranches, Arthur Raynaud, Eliane Giardini
Distribuição: Imovision
Data de estreia: qui, 20/06/19
País: Brasil
Gênero: drama
Ano de produção: 2018
Duração: 96 minutos
Classificação: 14 anos

Cadu Costa

Cadu Costa era um camisa 10 campeão do Vasco da Gama nos anos 80 até ser picado por uma aranha radioativa e assumir o manto do Homem-Aranha. Pra manter sua identidade secreta, resolveu ser um astro do rock e rodar o mundo. Hoje prefere ser somente um jornalista bêbado amante de animais que ouve Paulinho da Viola e chora pelos amores vividos. Até porque está ficando velho e esse mundo nem merece mais ser salvo.
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