CRÍTICA | ‘Deuses Americanos’ apresenta história cheia de mistérios, mitologias e olhar crítico à realidade

Gabby Soares

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31 de julho de 2017

Deuses Americanos (American Gods) foi uma das séries mais esperadas da última temporada de estreias da TV estadunidense. A aposta da Starz é baseada na obra de Neil Gaiman e conta a história da guerra entre os seres mitológicos chamados de novos e antigos deuses estão travando. Com a interação de diferentes mitologias, uma linha do tempo que não segue uma cronologia rígida e acontecimentos que aparentemente não se encaixam na narrativa principal, ‘American Gods’ entrega uma história que envolve o público na busca por respostas para as incessantes perguntas que surgem.

A primeira grande questão é o papel que Shadow Moon (Ricky Whittle) desempenha em toda a guerra dos deuses. Shadow é o personagem em que a narrativa mais se foca, desde o momento em que ele descobre que sua mulher, Laura (Emily Browning), morreu em um acidente de carro até todos os problemas que seu novo trabalho com Wednesday (Ian McShane) o traz. E esse é outro personagem que dá a série um ar de mistério, já que é claro que ele é um deus, mas todo o resto sobre ele é incerto.

Essa característica de Deuses Americanos, de manter o espectador engajado em saber como cada detalhe se encaixa na história, faz com que a série tenha um grande trunfo e um potencial defeito. Ao mesmo tempo que essa estratégia narrativa mantém o interesse do público, o uso excessivo desse recurso às vezes dá a impressão de que algo simplesmente está faltando, talvez por uma falha no roteiro. É possível que para aqueles que tenham lido o romance no qual a série é baseada esse não seja um problema, mas pensando na autonomia que a produção deveria mostrar, isso pode ser considerado como um aspecto negativo.

Uma das melhores características dessa história é a sua capacidade de realizar críticas sociais, políticas e religiosas de uma forma ao mesmo tempo simples e espetacular. Racismo, machismo, misoginia, homofobia, intolerância religiosa e cultura armamentista são alguns dos assuntos abordados no roteiro dessa série. Seja através dos diálogos, das grandes cenas ou do foco em detalhes, Deuses Americanos se posiciona de forma crítica, cínica e contundente em relação à realidade. Os diálogos merecem especial atenção, até porque são complexos, bem construídos e muitas vezes precisam ser levados em consideração inseridos no contexto geral da série.

As linguagens imagéticas e sonoras também colaboram para o clima surreal e para o caráter crítico da série. Os planos fechados em detalhes que não parecem fazer diferença para o desenrolar dos acontecimentos, mas que apresentam uma profundidade de sentidos dentro do contexto assim como exageros, como a quantidade de sangue que aparecem ocasionalmente, é uma característica que demonstra como “American Gods” é uma produção bem executada. O mesmo vale para o som estourado ou o silêncio nas cenas: todos são aspectos que ajudam a construir significados na história.

Outro ponto extremamente forte da série é a diversidade de personagens e a exploração de diferentes mitologias. Shadow é o único contato do público com aquilo que pode ser considerado como normal, todos os outros personagens contribuem para a exploração de diferentes questões, tradições, culturas e crenças. E é na junção da mitologia egípcia, com a nórdica, com a eslava, com diferentes lendas africanas, entre outras, e ainda uma abordagem teológica atual que faz de ‘American Gods’ uma rica experiência.

Atuações provocantes, elenco de peso e cenas visualmente incríveis, os primeiros oito episódios da primeira temporada fizeram um ótimo trabalho em apresentar a série. E pelo que tudo indica a segunda temporada, já confirmada pela Starz, irá trazer cenas e plots tão marcantes quanto, ou talvez até mais, considerando os personagens e o contexto surreal e bem construído em que Deuses Americanos insere seu público.

TRAILER:

FOTOS:


FICHA TÉCNICA:
Criadores: Bryan Fuller, Michael Green
Diretores: David Slade, Adam Kane, Vincenzo Natali, Floria Sigismondi, Craig Zobel
Roteiristas: Bryan Fuller, Neil Gaiman, Michael Green, Maria Melnik, Bekah Brunstetter, Seamus Kevin Fahey, David Graziano
Elenco: Ricky Whittle, Emily Browning, Crispin Glover

Gabby Soares

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