CRÍTICA | ‘Ela Quer Tudo’ retrata o divertido e complexo processo de libertação sexual

Gabby Soares

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5 de janeiro de 2018

Ela Quer Tudo (She’s Gotta Have It) é a aposta da Netflix no primeiro trabalho de Spike Lee. O filme homônimo foi escrito e dirigido, além de atuado, pelo renomado diretor ainda no início de sua carreira, em 1986. Já a série, lançada no final de 2017, também conta com seu roteiro e direção para guiar o desenvolvimento, mas têm diferentes roteiristas e diretores para retomar, atualizar e expandir a história original. Com um visual e complexidade mais atuais, a obra acompanha uma mulher jovem, negra e pansexual vivendo no Brooklyn.

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A ideia é retratar as dificuldades que Nola Darling (DeWanda Wise) encontra na tentativa de conciliar sua profissão como artista, vida financeira, amizades e vida sexual. Nola namora três homens bem diferentes: Jamie Overstreet (Lyriq Bent), um homem mais velho, pai e investidor, Mars Blackmon (Anthony Ramos), um divertido jovem que trabalha como garçom e tem fortes ligações com o hip-hop e a arte de rua, e Greer Childs (Cleo Anthony), um fotógrafo de moda com uma grande autoestima. E tudo ia bem até que ela é assediada sexualmente na rua e os homens em sua vida decidem que talvez não queriam mais um relacionamento aberto.

A questão do direito às diferentes formas de liberdade, de personalidade, artística, estética e sexual, permeia completamente a série. A personagem de Nola é a representação da mulher que está em busca de ser e fazer o que deseja em privado e em sociedade. Dessa forma, além da discussão inicial de novos formatos de relacionamentos emotivos e sexuais, Ela Quer Tudo apresenta quase que um manifesto artístico que engloba política, sociedade e etnia.

Assim, apesar da série dialogar diretamente com o espectador jovem, ela também falha no desenvolvimento de cada uma das narrativas que seus personagens e situações apresentam e provocam. Parece que apesar do roteiro tocar em pontos chaves, não os segue, apenas levanta a discussão. Faltou o aprofundamento de algumas das problemáticas levantadas pelo roteiro, como a relação de Nola e seus vizinhos do Brooklyn com os novos moradores ou as diferentes visões sobre autoestima e arte entre ela e suas amigas, Clorinda Bradford (Margot Bingham) e Shemekka Epps (Chyna Layne).

O formato da obra retoma muito do estilo de Spike Lee, e esse talvez seja o ponto mais forte da série. A sensação é que, de forma geral, esse é um retrato muito pessoal de Lee, seja pelas influências de seu primeiro filme, a presença de seus familiares na produção ou pelos próprios elementos da série, como a familiar fotografia ou a força que as diferentes formas de arte têm na história. As constantes referências que Nola faz ao cinema e suas discussões sobre a arte plástica ser uma das melhores formas de se expressar, principalmente em momentos que a personagem está em crise, são exemplos disso. A inserção e importância da trilha sonora para o desenvolvimento da narrativa também é um importante traço da produção como um todo. As capas dos discos indicando os artistas utilizados é um charme a mais.

Gravado de uma forma que lembra um documentário, no caso focado na vida sexual de Nola, Ela Quer Tudo é uma série que apresenta diferentes facetas. Trata de assuntos extremamente importantes e complexos e consegue fazer isso de forma divertida e envolvente. Poderia ter investido mais no aprofundamento e desenvolvimentos de narrativas paralelas com os personagens secundários, mas ainda assim cumpre a tarefa de retomar uma interessante história.

::: TRAILER

https://youtu.be/whvPjWm7ZE0

::: FOTOS

::: FICHA TÉCNICA

Título original: She’s Gotta Have It
Criação: Spike Lee (2017)
Elenco: DeWanda Wise, Cleo Anthony, Lyriq Bent
País: EUA
Gênero: Comédia, Drama, Romance

Gabby Soares

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