CRÍTICA | ‘Estrada Sem Lei’
Jorge Feitosa
|11 de junho de 2019
Faroeste na América Profunda.
O crash da Bolsa de Valores americana de 1929 foi um período negro na história dos Estados Unidos. Seus efeitos foram sentidos ao longo de toda a década seguinte. Esse período também foi conhecido como A Grande Depressão, uma recessão devastadora onde famílias perderam não apenas seus empregos, mas seus próprios lares com a execução de hipotecas bancárias.
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Com a pobreza dominante, era de se esperar que a criminalidade prosperasse. Houve o surgimento de assaltantes de banco que, muitas vezes, recebiam o apoio da própria população. Culpando as instituições financeiras por suas perdas, muitos exaltavam os feitos de bandidos como John Dillinger e o casal Bonnie Elizabeth Parker e Clyde Chestnut Barrow. Os feitos deram a eles o status de celebridades.
A história de ‘Estrada Sem Lei’
A saber, Estrada Sem Lei (The Highwaymen) aborda a caçada a esse casal. Entretanto, não pelo olhar glamourizado da mídia da época, mas de quem a empreendeu. Pressionada pelos dois anos de ousadia crescente dos bandidos e sua gangue, a governadora do Estado do Texas, Ma Ferguson (Kathy Bates), segue o conselho do chefe do departamento de correções Lee Simons (John Carrol Lynch) e contrata o ex-Texas Ranger Frank Hammer (Kevin Costner) para pôr um fim nisso.
Desde o início da projeção, com seus planos e enquadramentos das estradas, bem como reluzentes veículos Ford no lugar das planícies e cavalos americanos, vemos que se trata de um autêntico faroeste. Num período em que a vida fora da lei ainda podia ser levada com relativa liberdade. Onde ainda se utilizavam revólveres Colt de ação única.
Direção segura e roteiro primoroso
A direção de John Lee Hancock é segura e precisa. Além disso, sua decisão de não mostrar os rostos de Bonnie (Emily Brobst) e Clyde (Edward Bossert) durante quase todo o filme mantém a aura de lenda do casal sem romantizá-lo. Ademais, ele não poupa o espectador do rastro de sangue deixado em seu caminho.
Outro primor é o roteiro de John Fusco. O texto de Estrada Sem Lei aborda com maestria tanto o passado violento quanto a ação presente de Hammer e seu parceiro Maney Gault (Woody Harrelson). Com diálogos incisivos e sem nenhuma linha além do necessário, a história se desenvolve deixando claro que essa caçada não terminará sem um enxame de balas.
Por fim, destaque também para as locações e reconstituição de época de Michael Corenblith e Susan Benjamin. A dupla remonta a Era de Ouro do cinema americano em contraste com a penúria dos acampamentos de famílias desempregadas. Pessoas que tentavam viver de forma honesta apesar do desalento que assolava a nação.
Em suma, Estrada Sem Lei é uma obra que deixará uma impressão permanente em quem a assistir. Sua visão imparcial de uma história tantas vezes recontada é necessária para que, em tempos atuais, não se pinte de preto e branco uma tela cinza.
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Título original: The Highwaymen
Direção: John Lee Hancock
Roteiro: John Fusco
Elenco: Kevin Costner, Woody Harrelson, Kathy Bates, John Carroll Lynch, Kim Dickens, Thomas Mann, William Sadler
Distribuição: Netflix
Data de estreia: sex, 29/03/19
País: Estados Unidos
Gênero: drama, biografia
Ano de produção: 2019
Duração: 132 minutos
Classificação: 16 anos
Jorge Feitosa
@jorgefeitosalima
