CRÍTICA | ‘Ex-Pajé’ merece muita atenção pela essência e mensagem que transmite

Giovanna Landucci

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29 de abril de 2018

Roteiro e direção de Luiz Bolognesi, o documentário Ex-Pajé traz uma visão sobre o que é a cultura indígena, mas, ao mesmo tempo, como ela foi – e é – ameaçada pela cultura do homem branco.

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O início do filme aborda o genocídio dos indígenas com uma filmagem antiga, datada de 1969, feita, talvez, com uma câmera super 8 mostrando seus costumes, danças, pinturas no corpo, etc. Em seguida já muda para um cenário atual, mostrando índios vestindo roupas e se portando como o homem branco, mas ainda falando sua língua pois muitos não aprenderam o português, principalmente os mais velhos.


 

Ele já não é pajé na tribo. Seu filho, que gosta de conversar com ele sobre os costumes antigos, lhe mostra trabalhos científicos que foram publicados sobre a história e costumes deles. E o ex-pajé compartilha também um livro que tem guardado com fotos e informações antigas de seus costumes. E logo já diz : “Antes consultavam o pajé, agora, só tomam aspirina”.

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Cenas mostram o ex-pajé andando de caminhonete com o sobrinho, pagando contas no centro da cidade, fazendo compras no supermercado e levando uma vida normal de homem branco, mas ainda usa seus colares sagrados e, na tribo, os antigos ainda seguem alguma cultura com artesanato, pesca e plantação.

Ao pescar, conversa com seu filho sobre o espírito que mora no rio e como era que se comunicava com ele para que os peixes lhe fossem entregues. O garoto lhe pergunta se ele não tem vontade de voltar a ser pajé e ele responde: “Não é possível, depois que o pastor disse que é coisa do diabo, todos viraram a cara pra mim”.

E assim entendemos até onde foi a ação do homem branco. O documentário consegue, de forma profunda e delicada, nos fazer enxergar como o “descobrimento” do Brasil, um passado de aproximadamente 500 anos atrás, ainda se reflete até os dias de hoje.

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Mas, então, uma reviravolta acontece. Pessoas começam a ficar doentes na tribo e uma mulher entra e entrega medicamentos a elas e dá as orientações de como utiliza-los. Pega as receitas que os médicos da cidade entregaram às mulheres da tribo e entrega genéricos quando não tem o mesmo da prescrições.

Na igreja, cantando louvores ao senhor em português, vemos o ex-pajé vestido de camisa, gravata e completamente isolado, olhando pela janela, como quem espera um novo alvorecer, uma volta no tempo, uma ajuda de seus deuses e espíritos, como quem se sente sufocado ao ser obrigado a seguir uma tradição que não é sua.

Os índios preparam o peixe que caçaram e um alimento feito à base da mandioca plantada, mas, além disso, em contraponto, sua família usa fogão à gás e senta na mesa para comer enquanto os pequenos estão no celular ou jogando um videogame. Mas, ainda assim, sua família segue algumas tradições. Eles falam dos tempos de outrora, diz que querem conseguir plantar mandioca e milho para fazer as preparações antigas, mas que não conseguem fazer porque estão sempre ateando fogo na floresta (os madeireiros vêm e destroem tudo) e o homem branco, junto aos índios que não seguem mais as tradições, passam a roçadeira que não deixa mais que seja feito como antigamente. Os madeireiros são pegos no flagra pelos índios da tribo que estão utilizando trabucos e espingardas para espanta-los.

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Ex-Pajé é um documentário que o tempo todo mostra essa contraposição de culturas entre os mais velhos e mais novos, entre viver próximo à mata e cuidar dela, mas utilizar aparelhos e coisas construídas pelo homem branco. Apesar de um tema pesado, o filme é leve e amarrado a uma história sobre um ex-pajé que resolve retomar seus costumes. Um exemplo disso está quando falta luz em sua casa. O filho e o sobrinho tentam trocar a lâmpada e ajustar o disjuntor. É quando o ex-pajé preocupa-se em dormir de luz apagada. Ao lhe perguntarem o motivo, ele responde que os espíritos da floresta estão bravos porque ele abandonou seu trabalho e suas crenças e vêm à noite cutuca-lo e machuca-lo com varas. Por isso, dorme de luz acesa e protegido por uma tela de mosquiteiro.

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Toda a película trata sobre um poderoso pajé que passa a questionar sua fé depois de seu primeiro contato com brancos, que julgam sua religião como demoníaca. No entanto, a missão evangelizadora comandada por um pastor intolerante é posta em cheque quando a morte passa a rondar a aldeia e a sensibilidade do índio em relação aos espíritos da floresta mostra-se indispensável.

Para quem é amante da sétima arte, amante da natureza e possui uma fé abrangente, vale acompanhar e sentir o que Ex-Pajé traz como essência e mensagem.

::: TRAILER

::: FOTOS

::: FICHA TÉCNICA

Distribuição: Gullane Distribuidora
Direção: Luiz Bolognesi
Data de estreia: qui, 26/04/18
País: Brasil
Gênero: documentário
Ano de produção: 2017
Classificação: Livre

Giovanna Landucci

Publicitaria de formação, sempre gostei de escrever. Apaixonada por filmes e séries, sim, posso ser considerada seriemaníaca, pois o que eu mais gosto de fazer é maratonar! Sou geek principalmente quando falamos de Marvel e DC. Ariana incontestável, acho que essa citação de Clarice Lispector me define "Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania. Depende de quando e como você me vê passar." Ah, como é de se notar pela citação, gosto de livros e poesia também.
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