Fora de Série

CRÍTICA | ‘Fora de Série’

Julio Mantovani

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13 de junho de 2019

Fora de Série (Booksmart), dirigido por Olivia Wilde, marca sua estreia no cinema como diretora. Ele narra a história de Molly (Beany Feldstein) – representante de turma do último ano do ensino médio – e Amy (Kaitlyn Dever), sua melhor amiga. As duas são alunas dedicadas que abdicaram de sua vida social e dos momentos de farra para entrar em Yale, uma universidade americana de referência. Após descobrir que seus colegas menos esforçados também conseguiram se classificar para boas universidades, Molly se arrepende e decide curtir intensamente até a noite de formatura.

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E que jeito melhor do que ir numa festa dada por Nick (Mason Gooding), o atleta mais popular da escola? Além de mostrar para todos os seus colegas o quanto é descolada, Molly decide dar um “empurrãozinho” na vida amorosa de Amy. Isso porque Ryan (Victoria Ruesga) – a menina por quem a sua melhor amiga é apaixonada – estará lá. Aliás, é através desse interesse romântico que as duas ficam sabendo da festa. Logo no começo do filme, ela mesma sugere que a dupla deveria sair com o restante da turma.

O problema é que nem Molly e muito menos Amy sabem como chegar até a casa da Tia de Ryan, local do evento. Em parte por terem decidido comparecer à festa tarde demais, em parte por não terem lá muito contato com os outros colegas. Ninguém passa a elas essa informação. Por isso, elas precisam usar sua inteligência para chegar lá antes que a noite acabe.

Pegada contemporânea e sem esteriótipos

Alguns pontos interessantes na trama tipicamente colegial precisam ser ressaltados. Fora de Série se destaca por sua pegada contemporânea. Entre outras coisas, o filme transmite a mensagem de que nem sempre as coisas são do jeito que parecem ser. A grande maioria dos personagens mostra uma faceta que não corresponde ou expressa a sua verdadeira identidade. E, justamente por isso, o longa se destaca. Quem está acostumado com estereótipos vai ser pego de surpresa pela trama.

Outro ponto positivo é que a película reinventa um pouco as comédias românticas adolescentes. Isso é ótimo. Afinal, ao longo dos anos, o gênero foi se saturando cada vez mais. Dessa forma, foi se afastando progressivamente da realidade. Com um jeito mais subjetivo, sem fazer personagens completamente bons ou completamente maus, o roteiro humaniza a figura do adolescente com sutilezas e contradições.

Fora de Série

Foco na amizade e relacionamento muito além do superficial

Apesar de ser uma comédia romântica, a história se foca muito mais em desenvolver a amizade de Molly e Amy do que em seu relacionamento platônico com suas respectivas paqueras. Na verdade, o relacionamento das duas é trabalhado de um jeito bastante complexo. Ela vai muito além do superficial. A personalidade forte de Molly e seu jeito impetuoso de tomar o controle das situações faz com que ela seja a principal fonte de apoio para a quieta e, de outra forma solitária, Amy. Por outro lado, o jeito sensível e maduro dessa última oferece conforto à protagonista.

Por estar sempre torcendo e incentivando Molly, Amy alimenta seus sonhos e as suas ambições. Na verdade, vemos as duas trocando elogios e comprimentos várias vezes durante o filme. Assim, transmite a ideia de que ambas são inseparáveis e de que sua amizade é “perfeita”. Entretanto, na realidade, existem pontos de atrito muito complicado entre as duas.

Dona de uma personalidade forte, a protagonista é ambiciosa e muitas vezes não escuta sua melhor amiga ou leva a sua vontade em consideração. Por outro lado, Amy tenta proteger os sentimentos da representante de turma e – durante o processo – mente, bem como omite certas informações, deixando-a no escuro.

Fora de Série

Personagens críveis e bem detalhados

A proposta de Fora de Série funciona por fazer com que o relacionamento e os personagens sejam críveis e bem detalhados. É fácil identificá-los e compará-los com as pessoas que nós conhecemos e com as quais convivemos. Principalmente nessa época da vida. A personagem de Amy, pelo contrário. Ela acaba sendo muito mais carismática do que a própria protagonista, que consegue ser bem desagradável em alguns momentos.

Por outro lado, existe um certo exagero na tentativa de humanizar alguns personagens e justificar suas atitudes. Hope (Diana Silvers) é um bom exemplo disso. A tentativa de explicar seu comportamento cruel e seus comentários maldosos é falha. O filme acaba passando uma mensagem meio problemática sobre o que é e o que não é aceitável em uma relação afetiva.

Em geral, Olivia consegue acertar muito bem e os personagens são bem trabalhados e bem desenvolvidos. O que não funciona bem em Hope, dá certo com Jared (Skyler Gisondo). O jovem passa de um babaca para um personagem realmente adorável de uma hora para a outra. Porém, de um jeito bem espontâneo e natural. A excêntrica Gigi (Billie Lourd) é um desses personagens que você ama ou odeia. Entretanto, ela gera muitas risadas ao longo do enredo. Além disso, o outro emprego do Diretor Brown (Jason Sudeikis) rende a ele uma participação breve, mas hilária.

Fora de Série (4)

Humor inteligente

O humor, em geral, é bem-sucedido em suas piadas e colocações. Uma coisa que Fora de Série faz bem é usá-lo para levantar algumas questões relevantes, como a polêmica do porte de armas. Em alguns momentos, há um exagero que chega a ser um pouco incômodo. Afinal, algumas cenas não adicionam muita coisa e poderiam ter sido deixadas de fora sem nenhum prejuízo. É o que acontece quando as meninas ingerem drogas por acidente e começam a fantasiar que são bonecas. Mas, novamente, são momentos raros e o filme se recupera bem desses episódios, fluindo bem na maior parte do tempo.

Em seu melhor, Fora de Série é engraçado, irreverente, criativo e renova o gênero – o que é sua principal proposta – colocando algo de profundo e inusitado em algo que poderia ser superficial e batido. Em suma, por todas essas razões, vale a pena assistir o filme.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Booksmart
Direção: Olivia Wilde
Elenco: Kaitlyn Dever, Lisa Kudrow, Jason Sudeikis
Distribuição: Imagem
Data de estreia: qui, 13/06/19
País: Estados Unidos
Gênero: comédia
Ano de produção: 2019
Duração: 105 minutos
Classificação: 16 anos

Julio Mantovani

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