CRÍTICA | A narrativa faroeste de ‘Godless’ tenta inovar, mas desaponta

Gabby Soares

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4 de janeiro de 2018

Uma das novas séries originais Netflix aposta no gênero faroeste para contar a história de vingança entre Frank Griffin (Jeff Daniels), um fora da lei, e Roy Good (Jack O’Connell), seu antigo companheiro. Godless também intenciona apresentar ao espectador a história da cidade de La Belle, que, após um desmoronamento em sua mina, conta quase que exclusivamente com mulheres para continuar funcionando.

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É nessa terra sem lei e sem Deus que Alice Fletcher (Michelle Dockery) com seu filho e sogra tentam sobreviver, assim como o xerife Bill McNue (Scoot McNairy) e sua irmã Mary Agnes (Merritt Wever). Os diversos problemas que uma comunidade com um oficial que não parece mais apto a exercer o policiamento e com a economia estagnada são somados à promessa de violência de Griffin. Isso porque desde que Roy chegou ao local a rixa dele com o antigo companheiro parece destinada a encontrar seu clímax na pequena cidade do Oeste americano.

A proposta é misturar o gênero faroeste com uma inovação em seus personagens no que diz respeito às relações e papeis sociais entre eles. Apesar de ainda apresentar com características como alguns clichês e o aspecto maniqueísta e violento das produções similares, também conta com uma complexidade na interação entre seus personagens, que é o maior atrativo da série. Um elemento sempre presente é a tensão entre os diferentes grupos, como as mulheres, homens, brancos, pretos e índios, além das questões internas de cada um deles.

No entanto, o protagonismo de personagens brancos e masculinos foi uma característica que continuou em Godless, e é também um de seus pontos fracos. Os diferentes núcleos poderiam ter sido mais explorados no decorrer da série. O exemplo mais claro disso é a falta de espaço que as mulheres de La Belle tiverem na narrativa. A administração da cidade sem homens e a forma como elas lidaram com os diferentes grupos nas proximidades poderiam ter tido muito mais espaço na história.

No lugar disso, o desenvolvimento e justificação da relação entre Roy e Griffin é o foco da série, em especial a personalidade deste último. A complexa e distorcida forma com que o velho homem vê e age no mundo é um dos pontos mais explorados e, apesar desse desenvolvimento ser um ponto forte do roteiro, não era necessária tanta repetição. Já no primeiro episódio é demonstrado o potencial de destruição e medo que o personagem psicótico tem.

Outro problema foi o uso, em alguns momentos, de diálogos para explicar a personalidade de Griffin e o passado dele e de Roy. Isso destoou da maior parte dos diálogos da série, que foram bem escritos. Um mérito do roteiro foram as falas e os silêncios, que traziam consigo uma variedade de significados, muito além daquilo que estava realmente sendo dito.

Aspectos técnicos, de forma consistente, foram a atração de Godless. Com uma linda fotografia e uma direção que não deixou a desejar em cenas de combate e tensão, a produção soube trabalhar com o ponto mais forte o faroeste: as cenas de batalha e duelo. A série se mostra, assim, uma boa escolha para quem gosta do gênero. Tinha o potencial para ser muito melhor, mas ainda assim trabalhou bem em sua primeira – e única pelo que é perceptível – temporada com uma história e personagens interessantes.

::: TRAILER

https://youtu.be/mMUiRYoc76A

::: FOTOS

::: FICHA TÉCNICA

Elenco: Jeff Daniels, Michelle Dockery, Jack O’Connell
Gênero: Drama, Faroeste
Criação: Scott Frank

Gabby Soares

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