CRÍTICA | Uma ‘Guerra Fria’ em clima de Romeu e Julieta

Giovanna Landucci

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17 de outubro de 2018

“Romeu e Julieta” é um texto de William Shakespeare reconhecido internacionalmente traz a história de dois amantes completamente apaixonados que lutam contra suas famílias, que são contra o relacionamento, contra as diferenças sociais e as objeções a esse amor. No polonês Guerra Fria (Zimna Wojna), é possível fazer uma analogia à obra do escritor britânico, mas, antes, vemos o retrato de uma sociedade que passa por um período politico conturbado, ditatorial e que simplesmente acaba por mudar o rumo da vida de diversas pessoas. Stalin está no poder e seus seguidores querem impor censura a todos os tipos de comunicação e arte, inclusive o teatro, a música e a informação das rádios locais. Considerados opositores ao regime, quem ouvia a rádio Liberty, acreditava em Deus ou até mesmo cultivava costumes locais, era repreendido e a sociedade vivia entre medos e conflitos.

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O filme do diretor Pawel PawliKowski tem como pano de fundo a década de 50 na Polônia e, como o nome já diz, onde a Guerra Fria permeava os países arredores. Dois amigos se juntam para pôr em pratica um sonho: formar um time de jovens para balé típico local e um coral com os melhores talentos que eles buscaram pela cidade, nos vilarejos. Um homem, pianista, professor de canto chamado Wiktor (Tomasz Kot) e uma mulher, professora de balé intitulada Irena (Agata Kulesza), se unem para abrir em um casarão local uma escola de música e dança, e percorrem a cidade em busca de talentos.

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Mas o que “Romeu e Julieta” poderia servir de comparação com este filme? É que uma das alunas se destaca entre os demais por sua voz doce e diferenciada, que canta com a alma e rouba o coração do professor. Eles se veem em uma mistura de paixão juvenil e imatura, louca e envolvente, e um amor impossível pelas diferenças sociais, políticas e de origens distintas entre os dois. Zula, a jovem pobre interpretada por Joanna Kulig, se vê entregue aos braços de seu mestre, um burguês que é contra o regime em que seu país se encontra.

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Foto: California Filmes / Divulgação

O cônsul da região (Adam Woronowicz) resolve patrocinar a companhia de balé e o coral, desde que sejam cantadas musicas regionais folclóricas misturadas com cânticos favoráveis a Stalin e ao regime atual. Eles se veem obrigados a seguir com os ensaios, pois essa figura imponente os encurrala de maneira a não poder negar a proposta. O cônsul, então, inicia sua investigação sobre Wiktor usando como isca a garota da franja pela qual ele se apaixonou. O professor, então, decide fugir do país, pois já era evidente sua oposição ao regime. Em Paris, se envolve em vida boêmia e alguns anos passam até reencontrar seu grande amor. Em certos momentos, podemos entender essas idas e voltas como um roteiro arrastado, mas esta é a intenção do autor, pois, nessa visualização, consegue transpassar o sentimento desse amor distorcido que eles vivem.

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Guerra Fria é uma película trabalhada inteiramente em P&B, ou melhor, com nuances em escalas de cinza para retratar perfeitamente a época e trazer o espectador ao clima da década de 50, com takes muito bem elaborados, onde a fotografia transborda na tela com um jogo de luz e sombra sobre os palcos e apresentações dos artistas com enquadramentos perfeitos e retratos completos dessa arte. Trata-se de uma obra que algumas perguntas somente são respondidas na última cena. A trilha original, os sons ambientes, a mixagem de som e as canções escolhidas retratam a época e seguem todo o sentimentalismo dos conflitos vividos entre os personagens. O amor que nunca morre com a passagem do tempo desperta no espectador o interesse em saber se os dois amantes realmente conseguirão ficar juntos no final, mesmo em meio a tantas adversidades, inclusive de temperamentos.

*Filme visto na 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Zimna Wojna
Direção: Pawel Pawlikowski
Roteiro: Pawel Pawlikowski, Janusz Glowacki
Elenco: Joanna Kulig, Tomasz Kot, Borys Szyc, Agata Kulesza, Cèdric Kahn, Jeanne Balibar, Adam Woronowicz
Produção: Opus Film, Polish Film Institute, MK2 Films, FILM4, BFI
Distribuição: California Filmes
Classificação: 16 anos

Giovanna Landucci

Publicitaria de formação, sempre gostei de escrever. Apaixonada por filmes e séries, sim, posso ser considerada seriemaníaca, pois o que eu mais gosto de fazer é maratonar! Sou geek principalmente quando falamos de Marvel e DC. Ariana incontestável, acho que essa citação de Clarice Lispector me define "Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania. Depende de quando e como você me vê passar." Ah, como é de se notar pela citação, gosto de livros e poesia também.
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