CRÍTICA | ‘Intimidade Entre Estranhos’ segue por caminhos tortuosos e aposta na força do elenco

Bruno Giacobbo

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8 de dezembro de 2018

Assim como a vida, roteiros, às vezes, seguem por caminhos tortuosos. Vendo uma das primeiras cenas de Intimidade Entre Estranhos, novo filme de José Alvarenga Junior, os espectadores já meio que conseguem formular uma teoria sobre o que vai acontecer no restante do longa. Para aqueles que tiveram a curiosidade de assistir ao trailer, então, a tese é de uma clarividência óbvia. O casal Maria (Rafaela Mandelli) e Pedro (Milhem Cortaz) acaba de se mudar para o Rio de Janeiro. O novo lar fica em um pequeno edifício residencial, com um único morador, Horácio (Gabriel Contente), que além de tudo é o proprietário e o síndico do imóvel. Inicialmente, o relacionamento entre eles é confuso. O prédio possui várias regras que impedem qualquer pessoa com menos de 75 anos de viver minimamente livre. No entanto, com o passar do tempo, tudo vai se ajeitando e o texto vai seguindo pelos tais caminhos.

A personalidade de cada um dos integrantes deste trio de protagonistas é muito bem delineada. Maria é uma designer angustiada. Carioca de nascimento, vivia em São Paulo e não queria deixar a cidade. Todavia, Pedro, um ator em busca do sucesso, teve que se mudar para ficar perto do estúdio onde está gravando uma prestigiada série de televisão. E ela teve que vir junto. Ele não é menos angustiado e a vida deles está longe de ser um mar de rosas. Por sua vez, o jovem vive trancado em casa. Tímido, introspectivo, sua rotina se resume, basicamente, a compor músicas belas, mas melancólicas. Cada uma destas características e algumas outras surpresas, que vão surgindo com o desenrolar da história, são o ponto alto do script escrito pelo roteirista Matheus Souza em parceria com o próprio cineasta. O problema está em determinadas decisões que foram tomadas pela dupla de autores.

Optar pela previsibilidade inicial ou mudar totalmente de rumo? Quando entendemos qual foi o caminho escolhido, passamos a questionar algumas coisas. Maria, por exemplo, tem pelo menos uma atitude incondizente com a personalidade traçada lá no começo. A partir daí, o que decorre disto, acaba gerando estranheza. Outra coisa importante é lembrar que um roteiro não precisa dizer tudo com palavras, sugestionar, às vezes, é melhor do que explicar. Paralelamente, há certos erros de continuidade, típicos do texto televisivo, que são incômodos; e há também um apelo para clichês que possuem a mesma origem. Em que lugar está escrito que personagens principais precisam ter um desfecho feliz? Regra implícita da maioria dos folhetins brasileiros, ela está no norte desta história que é uma adaptação das letras das canções da trilha sonora composta pelos músicos Frejat e Leoni.

Quando sobem os créditos de Intimidade Entre Estranhos, nos deparamos com o nome da preparadora de elenco Fátima Toledo. Competente e experiente, é fácil apostar que foi ela que deu o tom do que acabamos de assistir. Não dá para apontar um destaque principal. Rafaela Mandelli, 39 anos, cria da Casa das Artes de Laranjeiras (CAL), Milhem Cortaz, 45 anos, ator que brilhou no cinema antes de dar as caras na TV; e Gabriel Contente, 21 anos, um dos titulares da atual temporada de “Malhação”, possuem experiências e trajetórias profissionais distintas, mas formam uma trupe coesa onde todos têm espaço para brilhar um pouquinho que seja. Gosto, particularmente, das cenas que ocorrem no terraço de um edifício, no Centro do Rio de Janeiro. É ali, naquele exíguo espaço de concreto, que os estranhos deixam de lado esta condição e criam laços de uma intimidade tortuosa e reveladora.

Desliguem os celulares e boa diversão.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Intimidade Entre Estranhos
Direção: José Alvarenga Junior
Elenco: Rafaela Mandelli, Milhem Cortaz, Gabriel Contente, José Dumont
Distribuição: Galeria Distribuidora e Globo Filmes
Data de estreia: qui, 13/12/2018
País: Brasil
Gênero: drama
Ano de produção: 2018
Duração: 111 minutos

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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