CRÍTICA | Vendido como ficção científica, ‘Kin’ é um drama familiar com final eletrizante

Giovanna Landucci

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6 de setembro de 2018

Kin é um filme que trata de dramas familiares e sociais já que Eli (Myles Truitt), protagonista, é um garotinho negro, adotado, e que gosta de brincar em um ferro velho próximo a sua casa, colecionando coisas que encontra e também tentando revender algumas dessas peças, que pega sem permissão. Dentro deste contexto familiar, tem seu pai, interpretado por Dennis Quaid, que, por ter perdido sua esposa muito cedo, teve que assumir todos os papéis dentro de casa e acabou dando uma educação muito rígida para o menino. Hal Solinski tem mais um filho, mais velho e fruto de seu casamento, do qual é viúvo, interpretado por Jack Raynor, que sempre foi rebelde, e, por esse comportamento, acabou se aliando a pessoas erradas e sendo preso. De volta a sua casa, Jimmy Solinski traz turbulência quando chega e esse drama todo recai sobre Eli. Nessas suas idas ao ferro velho e aos locais em volta, o jovem encontra soldados intergalácticos abatidos e uma arma, que, com seu poder, destrói muros e pessoas, e que é acionada a partir do uso de sua digital.

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Com toda essa contextualização, fica a pergunta: quando vamos ter cenas de ação com a utilização dessa arma? Já acabou o drama? Bom, o que é necessário dizer é o filme demora a engrenar. Eli representa o arquétipo do herói, porém, infantil. Com vários sonhos e desejos, por pertencer a uma família com poucos recursos, ele anda muito sozinho e tem esse modelo do “mocinho” construído em cima de sua principal característica: bom coração, boa índole e corajoso, já que enfrenta dificuldades ao decorrer da história junto a seu irmão adotivo.

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No caso de Kin, o herói se empodera com sua coragem e pelo recurso que acabou de adquirir: a capacidade de atirar em  adversários com a arma apreendida com os soldados abatidos. O pré-adolescente sai em uma aventura, deixa a cidade de Detroit e cria coragem para enfrentar os vilões, para proteger o irmão ex-presidiário, que está envolvido em uma confusão com bandidos de uma gangue que financiou o jovem enquanto estava no presídio.

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Esse roteiro nos tempo de hoje servirá para incomodar algumas pessoas, pois Daniel Casey conta uma história que associa heroísmo à virilidade masculina, totalmente patriarcal e onde o herói, inclusive, salva a mocinha de seu terrível destino em ser prostituta. Sim, no meio do caminho, Zoë Kravitz, que vive a personagem Milly, embarca nessa aventura com os dois e mostra quem é o real menino imaturo na trama. Com direito a mulheres belas, violência, armas e carros potentes, perto do final do filme temos esse plot twist de enredo e roteiro arrastado para algo com um pouco de ação. A única opinião pessoal que colocarei nesse texto, por ser mulher, é que os diretores Jonathan Baker e Josh Baker tiveram cautela a tocar em aspectos raciais, com razão do protagonista, e o fizeram de maneira delicada, mas erraram a mão com relação ao tema que é pauta nos dias de hoje: a representação igualitária de gênero.

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Foto: Paris Filmes / Divulgação

Com relação à parte visual, as cenas são muito bem construídas, conseguindo combinar a cidade de Detroit de forma futurista e solitária. É realmente uma pena que boas imagens sejam mal utilizadas pelo roteiro cheio de falhas. Demora-se tempo demais nas perseguições entre os gangsteres e os mocinhos do filme, e o espectador fica confuso, pois entre todo esse drama familiar e a aventura que eles mergulham, há algumas cenas dos soldados intergalácticos que estão em busca da arma roubada por Eli. Estas histórias não conversam entre si e estes soldados – que parecem stormtroopers – parecem ter sido inseridos em um contexto onde não se encaixam.

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Zoë Kravitz rouba a cena com sua capacidade em destrinchar uma personagem simples como a sua. Tem também o excelente James Franco, que, no papel de Taylor Balik, faz um excelente chefe de gangue e salva algumas cenas que poderiam parecer forçadas pela atuação do pequeno Myles Truiit, que tem dificuldades quando as cenas demonstram maior emoção e impacto. O roteiro reforça a mistura entre o drama urbano sobre a pobreza, o drama familiar e o escapismo da fantasia, exatamente o que crianças costumam fazer em seus pensamentos, mas que, no filme, se torna real. E é aí que o longa realmente começa a transformação de um menino em super-herói. A criança se mostra muito mais madura que o irmão mais velho; a amiga que se juntou à trupe se torna a fada madrinha que mostra o quanto ele é capaz e o quanto pode fazer por ter bons princípios. São nestes momentos que vemos o nascimento de um grande herói. O que um super-herói que é humano faz? Perdoa mesmo quando se vê diante de uma situação difícil e tem maturidade para seguir adiante, superando obstáculos.

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Foto: Paris Filmes / Divulgação

Temos aqui uma história que é vendida como ficção científica, mas que, na realidade, trata de dramas familiares e do nascimento de um herói. Fiquem até o final pois este é o gancho para se entender toda a história. Porque Eli consegue manejar a arma? Quem são estes soldados intergalácticos e o que procuram? Tudo isso, após uma grande contextualização desnecessária, será respondido, dando o gancho para uma sequência e deixando com gostinho de quero mais, oferecendo assim, o que pretende ser o início de uma franquia. Há muitas surpresas e reviravoltas na parte final.

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Kin retrata a possibilidade de se viver com a consciência tranquila quando o caos beira a capacidade de legítima defesa como justificativa para toda essa baderna que ocorre durante a grande aventura que o irmão de Eli propõe. O fim justifica os meios? Com certeza essa era do cinema atual nos deixa com essa pergunta e, em termos de ousadia, esse longa é campeão, pois explodir seus inimigos pelo bem da família é uma das coisas retratadas.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Kin
Direção: Josh Baker, Jonathan Baker
Elenco: Jack Reynor, James Franco, Zoë Kravitz, Myles Truitt, Carrie Coon, Dennis Quaid
Distribuição: Paris
Data de estreia: qui, 06/09/18
País: Estados Unidos
Gênero: ação
Ano de produção: 2018
Classificação: 14 anos

Giovanna Landucci

Publicitaria de formação, sempre gostei de escrever. Apaixonada por filmes e séries, sim, posso ser considerada seriemaníaca, pois o que eu mais gosto de fazer é maratonar! Sou geek principalmente quando falamos de Marvel e DC. Ariana incontestável, acho que essa citação de Clarice Lispector me define "Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania. Depende de quando e como você me vê passar." Ah, como é de se notar pela citação, gosto de livros e poesia também.
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