CRÍTICA | ‘Kong: A Ilha da Caveira’ é puro entretenimento

Thiago de Mello

|

10 de março de 2017

Um símio gigante, ótimo trabalho de CGI, atores renomados e carismáticos, ação e um toque de humor. A proposta de Kong: A Ilha da Caveira é o mais puro entretenimento de uma diversão descompromissada. E ele atinge esse objetivo, mas, infelizmente, não sem cometer algumas falhas maiores e menores.

Em 1971, durante a Guerra Fria, a organização secreta Monarch encontra uma ilha até então desconhecida. Bill Randa (John Goodman), chefe de um dos departamentos da Monarch, convence o senador Willis (Richard Jenkins) a se antecipar à URSS e descobrir os mistérios que a ilha abriga. Ao chegar, a equipe de exploração – composta por James Conrad (Tom Hiddleston), Mason Weaver (Brie Larson), Jack Chapman (Toby Kebbell), Randa, entre outros – liderada pelo coronel Preston Packard (Samuel L. Jackson) se depara com um símio gigante que destrói os helicópteros que os conduziam. Presos num terreno desconhecido e hostil, a equipe precisará encontrar um forma de sobreviver e escapar, mas não sem antes descobrir uma nova realidade.

Kong: A Ilha da Caveira é um reboot e o segundo filme da franquia Kong-Godzilla, iniciada em 2014 com Godzilla (de Gareth Edwards). A proposta é preparar o terreno para criar um crossover entre os personagens. Logo, tanto Kong quanto Godzilla habitam o mesmo universo. Porém, diferentemente do tom contido, sombrio e austero do filme de 2014, Kong: Ilha da Caveira é grandiloquente, leve, colorido e animado.

O prólogo que antecede o título é certeiro: ele define o estilo e forma do filme em poucos minutos. A fotografia jamais perde as perspectivas de tamanhos. A insignificância do homem ao lado da imponência do primata gigante é refletida e absorvida com precisão. Isso também é mérito do ótimo trabalho de imersão realizado pelo 3D. Há sempre um objeto mais perto da câmera, servindo ora como ponto focal, ora como ponto referencial, para criar uma boa noção e exploração da profundidade de campo.

A direção de Jordan Vogt-Roberts é bastante elogiável quanto à estética e à captura da imponência de Kong. Já na condução narrativa, ela deixa um pouco a desejar. Kong é um filme vistoso, colorido e visualmente grandioso. A imponência magnânima do símio e das locações é muito bem retratada. Vogt-Roberts desenvolve belos momentos graças ao ótimo olhar estético e de enquadramento. A figura de Kong jamais perde o “peso” por obra da fotografia – mais um ótimo trabalho de Larry Fong (Batman vs Superman: A Origem da Justiça, Super 8, 300) – que sempre valoriza a presença colossal do personagem, colocando-o contra o pôr-do-sol, enquadrado por fogo, sob a luz do luar, etc. Quando Kong está em cena, o fascínio com o qual o diretor retrata-o é admirado pelo espectador, que assiste a ótimos momentos de ação. Porém, é quando o personagem não aparece que o filme mostra seus defeitos.

O primeiro arco é sensacional, graças a Kong. Já o segundo, onde ele deixa de ser o foco e quase desaparece da história, é problemático. O filme não tem nenhum personagem interessante ou relevante. Todos são bidimensionais, sem qualquer profundidade, ancorados meramente no respectivo carisma de cada ator/atriz. Embora seja um elenco bastante carismático, isso não é suficiente para conduzir a narrativa, que deixa de ser empolgante e começa a se arrastar.

O roteiro de Dan Gilroy, Max Borenstein e Derek Connolly, baseado em história de John Gatins, é diretamente responsável pelo problema. Há uma série de furos, saídas preguiçosas e momentos cômicos pouco funcionais e/ou mal alocados que minam a experiência. Parte considerável desses problemas reside no personagem Hank Marlow, de John C. Reilley. A função de Marlow é expor a trama, ser o alívio cômico e oferecer soluções para todos problemas que assolam a equipe. Embora o ator trabalhe com a costumeira competência, o personagem, além de fraco, não passa de um preguiçoso dispositivo narrativo. Além disso, ele ofusca a presença dos habitantes da Ilha da Caveira, que mais parecem parte do cenário do que personagens.

A ausência de Kong é resultado de uma ameaça bem menos interessante, os Skullcrawlers, além de uma pequena subtrama do personagem de Samuel L. Jackson. Nesse ponto, faltou foco à direção de Vogt-Roberts, que tentou dividir o heroísmo de Kong e a vilania dos Skullcrawlers com os demais personagens, dando a eles mais importância do que necessário.

A terceira parte volta a apresentar boa qualidade assim que o primata tornar a ser o centro das atenções. A luta final é esplendorosa e resgata o tom de fascínio que iniciou o filme. O CGI faz um trabalho admirável por toda obra, mas é no fim que ele se destaca, principalmente no confronto final. Dá pra sentir o impacto da luta, que transcorre com poucos cortes, sempre permitindo que o espectador acompanhe bem o que está acontecendo.

O final já cria um gancho para um novo filme. E a cena pós-créditos – não se esqueça dela – estabelece laços ainda maiores.

Vale citar também a ótima seleção musical que preenche a obra, apoiada em clássicos do rock dos anos 70. Cada música foi escolhida com objetivo de somar à narrativa de suas respectivas cenas, além de ajudar a manter um mínimo de empolgação até mesmo nos momentos onde o filme patina.

Conclusão

Kong: A Ilha da Caveira é puro entretenimento. O elenco estrelado faz o possível para criar uma diversão ininterrupta e, pelo ótimo início, parece que é o que teremos. Porém, o filme toma decisões que quebram o animador ritmo sugerido no arco inicial. Felizmente, o final do longa retoma boa parte da qualidade proposta, gerando saldo positivo à experiência do espectador e, graças à cena pós-créditos, dando um futuro bastante promissor à franquia. O longa estreou nesta quinta-feira, 9 de março, em circuito nacional.

*Texto publicado originalmente no site “O SETE”, parceiro do BLAH CULTURAL

TRAILER:


GALERIA DE FOTOS:


FICHA TÉCNICA:
Título original: Kong: Skull Island
Direção: Jordan Vogt-Roberts
Roteiro: Dan Gilroy, Max Borenstein, Derek Connolly, baseado em história de John Gatins
Elenco: Tom Hiddleston, Samuel L. Jackson, Brie Larson, John Goodman, Tian Jing, Corey Hawkins, Jason Mitchell, John Ortiz, Shea Whigham, Toby Kebbell
3D
Distribuição: Warner
Data de estreia: qui, 09/03/17
País: Estados Unidos
Gênero: aventura
Ano de produção: 2016
Classificação: 16 anos

Thiago de Mello

Jornalista amante de cinema, de rock, de cultura pop e de Bloody Mary. Além de colaborar para o Blah Cultural, é idealizador do osete.com.br.
O que sabemos sobre Wicked Boa noite Punpun Ao Seu Lado Minha Culpa Lift: Roubo nas Alturas Patos Onde Assistir o filme Lamborghini Morgan Freeman