CRÍTICA | ‘O Anjo’ é ágil, tenso e até divertido, mas insuficiente para vencer o Oscar

Bruno Giacobbo

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10 de novembro de 2018

O escolhido do multicolorido e plural cinema argentino para representar o país na corrida pelo Oscar, no próximo ano, O Anjo (El Angel), do cineasta Luís Ortega, é um longa-metragem baseado em um história real de crimes. Muitos crimes. Não é a primeira vez que isto acontece. Três disputas atrás, o escolhido fora “O Clã”, que narrava as atrocidades da infame Puccio. A obra era muito boa, mas não conseguiu a indicação daquela vez. O que faz nossos vizinhos portenhos pensarem que, em uma época de filmes conscientes, que tratam de algumas das pautas mais importantes do Século XXI – racismo, a mulher no mundo moderno, desigualdades sociais e afins – um candidato bastante parecido terá mais sucesso desta vez? Talvez, a pegada. Apesar de serem produtos que partam do mesmo ponto, eles possuem desenvolvimentos e tratamentos diferentes.

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Carlos Eduardo Robledo Puch, mais conhecido entre os pais e os amigos pelo apelido de Carlitos e que mais tarde foi batizado pela imprensa, entre outras coisas, de “O Anjo da Morte”, era um menino de rosto andrógino, feições delicadas e gestos suaves quando começou a roubar. Vivido no filme pelo ator Lorenzo Ferro, no início da sua carreira de crimes ele invadia residências vazias e roubava somente o que estava ao seu alcance sem oferecer risco as pessoas. No entanto, com o tempo, o jovem desenvolveu nítidos traços de psicopatia e cada vez que estes se tornavam mais latentes, mais graves foram se tornando os seus crimes. Na obra, produzida pelos Irmãos Almodóvar e roteirizada pelo próprio diretor, esta mudança acontece quando o protagonista conhece Ramón Peralta (Chino Darín), filho de José Peralta (Daniel Fanego), um experiente assaltante que acabou de deixar a cadeia.

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Inicialmente, o trio forma uma quadrilha de sucesso: a audácia de Carlitos, aliada à expertise de José e a força de Ramón, formam um combo e tanto. Só que, como diz alguém, lá pelas tantas, no longa, mal comparando, ladrão é como artista. E se esta máxima faz algum sentido, então já era de se esperar que o ego falaria mais alto. E, neste aspecto, ninguém tinha mais ego do que o imberbe “Anjo da Morte”. Ele se considerava um artista, um esteta na arte de cometer crimes. Havia outro elemento que devidamente provocado queimaria tão rápido quanto rastilho de pólvora: o amor. E esta questão foi levantada pelos jornais da época: Amor por quem? Desde o começo da história, a opção sexual de Puch está em xeque. Ele tem uma namorada, mas não parece dar muita bola para ela. Quando conhece Ramón, a atração parece ser outra e as coisas são colocadas de um jeito que é para o público ficar em dúvida.

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O bom longa de Luís Ortega se difere da ótima película de Pablo Trapero ao apostar em um viés mais pop. Apesar desta ser uma obra de crime e de vermos tiros em alguma profusão, ao longo de toda a projeção, esta não chega ser uma produção essencialmente violenta. Nada capaz de assustar a sua avó e fazer você levar aquela bronca no jantar de domingo. O diretor investiu em cores alegres e berrantes; enquanto o desconhecido (e muito bom!) ator Lorenzo Ferro compôs o seu personagem como um bon vivant que aprecia a vida (apesar de tirado a vida de outras 11 pessoas), um belo prato de bife à milanesa com purê de batatas e capaz de dançar, de forma bem desenvolta, na cena de um crime. O Anjo é filme-crime-família, ágil, tenso, um pouco longo e até mesmo divertido. Vale o ingresso, só que, hoje, isto parece ser insuficiente para disputar o Oscar com chances de vitória.

Desliguem os celulares e ótima diversão.

*Filme visto no 20º Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: El Angel
Direção: Luis Ortega
Elenco: Lorenzo Ferro, Chino Darín, Daniel Fanega
País: Argentina e Espanha
Gênero: drama e crime
Ano de produção: 2018
Duração: 118 minutos
Classificação: a definir

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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