CRÍTICA | ‘O Destino de uma Nação’ ganha o espectador já na primeira cena

Wilson Spiler

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11 de janeiro de 2018

Descendente de famílias da aristocracia e nobreza britânica, Sir Winston Leonard Spencer Churchill, mais conhecido com Winston Churchill, nasceu em 30 de novembro de 1874, em Woodstock, Inglaterra. Segundo informações de sua biografia, Churchill foi uma criança rebelde, com resultados medíocres na escola, mas que, com dedicação, formou-se numa das mais prestigiosas escolas e conseguiu ingressar no colégio militar real, formando-se em oitavo lugar.  Seu pai, Lorde Randolph Churchill, foi um político de sucesso, tendo servido o Partido Conservador como ministro da Fazenda do Reino Unido em 1886. Sua mãe, Jennie Jerome, foi uma socialite norte-americana, filha do financista Leonard Jerome, que detinha uma fortuna multimilionária.

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Winston Churchill assumiu, em 1911, como Primeiro Lord do Almirantado, cargo de muito prestígio na marinha britânica. Mas, por ter sido o responsável pela desastrosa campanha Gallipoli e Dardanelos na Primeira Guerra Mundial, deixou o cargo. Seu prestígio, por conta disso, decaiu no Parlamento. Ele passou, então, a viver um declínio político dos anos 20 até os 30, quando, a partir da Segunda Guerra Mundial, os políticos exigiam a troca do primeiro-ministro britânico, Neville Chamberlain, considerado passivo e inapto para tempos pouco ordeiros. O favorito para assumir o cargo era o Conde de Halifax, que recusou o convite. Para tentar colocar um pouco de paz no Congresso, a bola da vez escolhida foi nosso personagem principal.

Repassada um pouco a história, é hora de falarmos de O Destino de uma Nação (Darkest Hour), filme dirigido pelo competente Joe Wright, diretor acostumado com obras de época como “Anna Karenina”, “Orgulho & Preconceito” e “Desejo e Reparação”, e responsável pelo ótimo episódio de Black Mirror, “Nosedive” (aquele das redes sociais). O longa já começa com uma tomada espetacular do Parlamento discutindo a troca de Chamberlain por outro nome mais agressivo. Com uma trilha sonora impecável criada por Dario Marianelli, velho conhecido de Wright nos trabalhos citados anteriormente, a primeira cena ganha o espectador logo de cara. As músicas compostas para a película são admiráveis e merecem os comentários elogiosos. Aliás, o cineasta foi inteligente ao escolher os momentos certos de colocá-las na projeção. Isso porque há diversos outros instantes em que o silêncio foi tão “gritante” quanto as canções.

O Destino de uma Nação, curiosamente, conta a mesma história de outro filme de sucesso deste ano: “Dunkirk”. No entanto, a trama é relatada sob outra perspectiva. Enquanto o longa dirigido por Christopher Nolan aborda o lado militar e mostra o front de batalha, aqui, o que importa são os bastidores da guerra e como tudo foi debatido. Trata-se do momento frágil da Grã-Bretanha em 1940, quando Hitler tomou de assalto a Europa continental e encurralou quase todo o exército inglês no litoral da França. Enquanto alguns parlamentares (inclusive Halifax e Chamberlain) exigiam um aceno de rendição perante a Alemanha, Churchill e outros aliados não aceitavam o aceno da derrota.

Esse é um debate interessante posto em questão no filme. O que é preferível? Ver seu país sendo dominado pela Alemanha nazista de Hitler, sob rendição da Itália fascista de Mussolini, e acabar com o extermínio do exército britânico no campo de batalha, ou não desistir e, mesmo diante de tantas mortes – e de uma improvável vitória, tentar derrotar o inimigo ainda que a diferença de homens seja enorme? Colocada sob o ponto de ótica do povo, a secretária Elizabeth Layton (interpretada pela ótima Lily James) tem um irmão morto na batalha de Dunquerque (como diz a legenda). Com isso, ao mesmo tempo em que Churchill (interpretado brilhantemente pelo incrível Gary Oldman – merecido vencedor do Globo de Ouro pelo papel) mostra-se insolente e irredutível no início da projeção, ele vai aos poucos cedendo e chega a um ponto onde se vê encurralado, sem saída, onde a decisão mais viável é se render. No entanto, sabemos que isso não aconteceu (e isso não é um spoiler, visto que todo mundo sabe que os alemães não venceram a Segunda Guerra).

Por esse lado, talvez esse seja o grande pecado de O Destino de uma Nação. A “romantização” de Winston Churchill era desnecessária, pois, além de sua postura conservadora e a favor da guerra, ele é considerado racista e machista por alguns historiadores. Ou seja: a permissão de uma mulher na Sala de Mapas e a atitude do metrô seriam impensáveis para o personagem (ao ver o filme, vocês irão entender melhor). Além disso, há diversas outras passagens da história do político que dificilmente fariam com que ele amolecesse o coração para a população mais pobre.

Porém, esse talvez seja o único deslize da produção. O restante do trabalho técnico é impecável. Como já disse acima, O Destino de uma Nação prioriza as discussões de bastidores da Guerra, mas as cenas que aparecem – em grande parte aéreas – são espetaculares. Em uma tomada, um menino é visto de cima com a câmera por dentro de um avião e, logo em seguida, ela desce e inverte o ângulo para o jovem, que faz um gesto com a mão como se visse a aeronave por um binóculos, mostrando a distância dos civis para os congressistas. Há inúmeras outras metáforas que fazem deste longa especial. Isso sem contar com as excelentes interpretações e caracterizações dos atores, além da belíssima fotografia, do incrível figurino e da magistral edição de som. Como dito anteriormente, Gary Oldman está exuberante em sua performance. Com sotaque carregado britânico e até mudanças nas vozes, o ator entrega uma atuação homérica e merece ao menos uma indicação ao Oscar. Acho que é, desde já, um dos fortíssimos concorrentes ao prêmio (a Academia adora um drama histórico, não se esqueçam). Mas, além dele e de Lily James, Kristin Scott Thomas (Rei da Inglaterra) e Ben Mendelsohn (esposa de Churchill) também arrebentam em seus papeis.

Com todos esses predicativos, O Destino de uma Nação é um filmaço que estreia nesta quinta-feira (11/01) nos cinemas brasileiros. Imperdível tanto para quem gosta de História ou de uma boa história.

::: TRAILER

:::: FOTOS

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Darkest Hour
Direção: Joe Wright
Elenco: Gary Oldman, Kristin Scott Thomas, Ben Mendelsohn
Distribuição: Universal
Data de estreia: qui, 11/01/18
País: Reino Unido
Gênero: biografia
Ano de produção: 2017
Classificação: 12 anos

Wilson Spiler

Will, para os íntimos, é jornalista, fotógrafo (ou ao menos pensa que é) e brinca na seara do marketing. Diz que toca guitarra, mas sabe mesmo é levar um Legião Urbana no violão. Gosta de filmes “cult”, mas não dispensa um bom blockbuster de super-heróis. Finge que não é nerd.. só finge… Resumindo: um charlatão.
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