Patrulha do Destino

CRÍTICA | ‘Patrulha do Destino’ (1ª Temporada)

Leandro Stenlånd

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25 de maio de 2019

Às vezes, é preciso ter culhões para conseguir produzir algo de qualidade. Seja em nossas vidas ou para que outras pessoas consigam aprovar com satisfação. No mundo de hoje, no qual tudo anda muito repetitivo e piegas, além de cafona, séries e filmes de heróis acabam caindo num marasmo muito gigante. A cada dia, o formato caminha para um destino em que seus diretores e produtores precisarão repensar em como manter o público interessado.

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As séries da DC

Desde que começamos a acompanhar as séries de heróis da Warner, como The Flash, Arrow, Legends of Tomorrow e Supergirl, vimos que o formato rapidamente se cansou. Isso pela incompetência de seu produtor, Greg Berlanti, que não teve capacidade de manter os seriados com grandes referências. Como isso não aconteceu, logo surgiu Gotham e a esperança também foi retomada. Mas também foi outro caminho desviado da excelência para uma fatídica tragédia.

Assim sendo, como então confiar que a DC teria um retorno triunfal nas telinhas? Eis que Krypton apareceu! Assim, renovamos as esperanças e, mais uma vez, o formato ganhou sobrevida com Titãs. Desde que as duas séries surgiram, nada mais poderia melhorar, certo? Imaginava-se, no entanto, todas as outras mencionadas no parágrafo acima poderiam ir para o lixo. Então, recomeçamos tudo com Patrulha do Destino (Doom Patrol). Agora, vamos falar de um seriado cuja competência foi questionada. Afinal, Berlanti continua envolvido em quase tudo onde a DC está. Assim como nas outras produções, aqui não é diferente.

A DC, com seu serviço de streaming, está trazendo vários dos seus personagens para as telas do mundo todo através de séries originais. Enquanto o primeiro seriado a ser produzido é sobre um grupo de heróis bastante conhecido pelo público, os Titãs, o mesmo não pode ser dito do que vem na sequência.

Foto: Divulgação

Declaração de amor aos fãs

Patrulha do Destino nada mais é que uma declaração de amor aos fãs. Na série, os produtores reimaginam um dos mais estranhos grupos de super-heróis da DC, sendo eles: Homem-Robô, Homem-Negativo, Mulher Elástica Crazy Jane, liderados pelo cientista Dr. Niles. Cliff Steele era um piloto automobilístico até que sofreu um gravíssimo acidente durante uma corrida que deixou seu corpo completamente destruído. Do desastre, apenas seu cérebro sobreviveu, o que possibilitou ao Dr. Niles Caulder realizar um transplante para um corpo de metal, transformando Steele no Homem-Robô.

Os membros da equipe sofreram acidentes terríveis que lhes deram habilidades sobre-humanas. Mas também os deixaram marcados e totalmente desfigurados. Traumatizados e oprimidos, temos então uma equipe totalmente solúvel. Isso graças ao vilão mais poderoso já visto até o momento em qualquer série televisiva. Ele é o que sempre queríamos ver e que mais se aproxima da perfeição, muito por conta do ator Alan Tudyk. Mas falemos dele mais para frente. Esse super-grupo surgido na revista My Greatest Adventure #80, publicada pela DC Comics em 1963, ganhou um sucesso estrondoso e acabou fazendo com que a revista fosse rebatizada para Doom Patrol na edição 86. Criada por Arnold Blake em 1960, a Patrulha do Destino teve seu maior destaque durante a fase do lendário Grant Morrison, nos anos 1980.

Roteiro redondinho

O que há de tão atrativo em Patrulha do Destino é a forma com que tragédia que afetou essas pessoas, que se tornaram heróis, é contada. Um grupo de pessoas, que mais parecem umas tranqueiras, virem a possuir heroísmo em suas almas. Não nasceram de berço com poderes, como é o caso da Mulher-Maravilha, do Aquaman ou do Homem de Aço. A história do Ciborgue é uma das que mais se encaixa aqui para mostrar que todos esses poderes tiveram uma razão.

Patrulha do Destino

Foto: Divulgação

O que mais impressiona no roteiro é a forma como os conflitos de episódios anteriores são apropriadamente recolocados, sem danificar qualquer parte do drama conhecido no capítulo anterior, e dando sentido ao que está por vir no próximo. Vejam que a linha de busca ao chefe se mantém em paralelo ao desenvolvimento do grupo e do vilão, e, com isso, vemos os personagens mudando a todo tempo, seja para o bem ou para o mal. É possível perceber que o texto torna-se mais denso e que o elemento de bizarrice sempre está acompanhado de algo mais pesado que o normal, de alguma forma mais triste. Os acontecimentos que envolvem Larry e o transtorno de Crazy Jane sempre densificando seus contos.

O vilão

Alias, não há como não deixar de novamente mencionar o vilão, e é exatamente esse o pulo do gato. Intitulado de SENHOR NINGUÉM, ele nada mais é que isso mesmo. Conhecido como Eric Morden, ele sempre foi um mestre criminoso que, após ser exposto ao experimento de um cientista nazista, teve sua mente irreparavelmente enlouquecida e converteu seu corpo em uma massa virtual viva. Além disso, também ganhou o poder de drenar toda a sanidade e realidade de um ambiente. Sr. Ninguém fundou a Irmandade do Dadá, um grupo de supervilões insanos que compartilhavam das ideias dele  de mudar o mundo. Na série, a primeira coisa que você terá empatia é por ele. Nosso ”amado vilão” está determinado a forçar os outros a verem o mundo como ele enxerga. Inerentemente sem sentido e caótico. Simplesmente tacando fogo no inferno e, por incrível que pareça, consegue incendiar até o diabo.

A sala totalmente branca – cujo nome é WHITE SPACE -, no qual Sr. Ninguém fica preso antes de sua transformação, é sem sombra de dúvida, uma espécie de homenagem às salas brancas em que algumas exposições de arte Dadaístas eram vistas. Daí, certamente veio o nome da Irmandade do Dadá. Ela não é diretamente mencionada durante os capítulos, porém, está impregnado, inclusive no episódio final da série.  A cor branca, em si, é a ausência de significado e distanciamento de sentidos e isola completamente o objeto das interferências externas. Esse uso do branco e sua ideologia acolhidas pelo neodadaístas Robert Rauschenberg, que, em 1951, criou suas White Paintings, pinturas cujo propósito era reduzir a arte a sua natureza mais essencial, e, subsequentemente, levá-la à possibilidade da pura experiência, teve grande amostra aqui. Principalmente na cena final do último episódio.

Foto: Divulgação

Que vilão?

Mas, com ou sem white space, de fato, não há um vilão diretamente adicionado à trama. Ele nada mais é que o narrador do show. Enquanto um herói definha tendo sua narrativa contada por um vilão que deturpa e consegue divertidamente alternar a realidade conforme sua narração, os alter-egos pouco entendem que isso está acontecendo e afetando-os. Sequer possuem a menor noção de que o vilão está traçando cada rota de sua jornada. E é isso que deixa Patrulha do Destino ainda mais dinâmico. Enquanto a equipe tenta solucionar diversos problemas pessoais, isso vai desviando o foco de suas mentes, carregando-os para um caminho distópico, fantasioso e por vezes hilário. Graças a quem? NINGUÉM!

Desde a aparição de Eric Mordern, em 1964, nos quadrinhos, até seu retorno, em 1989, se passaram longos 25 anos. A ausência do personagem se deu graças a sua saída da Irmandade do Mal, explicada na série. Grant Morrison precisou explicar o retorno do personagem. Isso ocorreu após ameaças do Cérebro e Monsieur Mallah de matá-lo. Ele ficou então escondido durante 25 anos no Paraguai, também mencionado no seriado. Há, inclusive, todo um episódio se passando no país.

A grande atuação de Alan Tudyk

É necessário dizer que NÃO EXISTE Patrulha do Destino sem a maestria de Alan Tudyk, o vilão. Ele nos dá a graça de sua presença visual nos episódios iniciais, fazendo com que sua voz permeie em nossa mente como o contador de histórias. Ela choca as mentes de nossos futuros heróis, os traumatiza e expõe um turbilhão de verdades até então escondidas pelo tutor do grupo, Niles. O malfeitor consegue ser tão fascinante em seu show que tira sarro da série. Diz que poderia controlar todo o serviço de streaming se quisesse, afinal, é um baita ser dominante, mostrando que o programa pode sim trilhar por caminhos estranhos e conter furos de roteiros que tudo será aceito de bom grado, visto que o intuito é divertir e – com um vilão desses – causar!

Patrulha do Destino

Foto: Divulgação

A mentira é um baque para todos, ainda mais quando se confia. E, tudo isso, toda essa rebeldia, essa satisfação de viver um herói que conseguiu se aproximar de um Coringa, sendo sarcástico e palhação como de costume apenas para introduzir a verdade e mostrar que o real vilão, não era ele! Há diversas formas de desconstruir a forma como se vê um vilão. Há tempos foi-se ensinado que, por exemplo, o Mestre dos Magos era o real malvado da história. Ela fazia com que os heróis de Caverna do Dragão entrassem num loop incessante para que pudessem realmente retornar às suas famílias. Aqui não é diferente! Em busca de reconciliação no íntimo de cada personagem, a busca pela ordem se faz constante, mas Senhor Ninguém sempre está lá para recriar o caos de uma forma bem bizarra.

Nada é o que parece

Essa bizarrice tem um porquê. Não basta apenas deixar os heróis fora de prumo e rumo. Você, como espectador, também ficará. Foram diversos episódios até que conseguíssemos entender que não estávamos entendendo nada, na realidade. E isso, para nossa surpresa, foi um choque tão impactante quanto para os heróis que trilharam uma jornada tétrica por longos 13 episódios até que começassem a entender que, para derrotar o narrador, teriam que narrar seus próprios contos, desconstruindo a trama dele.

Com inúmeros vilões sem pé nem cabeça adicionados ao seriado, desde Heinrich Von Fuchs ao Homem-Animal-Vegetal-Mineral, eles mostraram que vieram para desconsertar o conserto. Um deles,  intitulado de Admiral Whiskers, por exemplo, foi um dos mais esquisitos. Enquanto que, em Vingadores: Ultimato, um rato foi a salvação de toda humanidade, em Patrulha do Destino esse mesmo animal é um dos maiores malfeitores e, graças a ele, esses heróis precisaram fazer uma sessão de terapia em Therapy Patrol. Aqui, isso se dá sob o ponto de vista de que temos um grupo que, mesmo juntos, possuem seus problemas, suas lembranças e, consequentemente, problemas de relacionamento. Mesmo que o famoso Ciborgue tente acalmá-los!

Patrulha do Destino

Foto: Divulgação

As bizarrices

Para isso, os roteiristas precisavam ter uma capacidade enorme para que os espectadores se mantivessem interessados em algo que vai ficando cada vez mais estranho. E, por incrível que pareça, através dos novos eventos, essas insanidades vistas a cada novos 55 minutos dão mais um passo e ganham sobrevida.

A união desses indivíduos para fazer alguma coisa heroica estava traçada. Os episódios foram passando e, mesmo os famosos enche-linguiça, vão sendo aceitos pela galera. Estava na cara que esse momento chegaria. Isso fez muita falta durante a busca desenfreada por Niles. A meta heroica inicialmente era salvar o chefe. Porém, um grupo de destrambelhados não conseguia seguir em frente, pois eles nunca foram heróis. E o vilão já teria derrotado uma outra equipe da Patrulha do Destino.

Vale tudo pelo riso

A série destoa do heroísmo e tenta fazer com que esses seres desengonçados usufruam de suas habilidades para fazê-lo rir. Mesmo que o Homem-Negativo e o Ciborgue não tenham esse apelo cômico todo. Mas vale ressaltar que a união desses seres em determinadas situações é que faz tudo virar brincadeira de criança. Ainda mais quando o assunto é deslocar-se de onde estão para qualquer lugar. E isso inclui a ida ao Paraguai num ônibus que mais parece uma Fiat 747 espatifada. Não basta Cliff zoar o Ciborgue por ele ter saído da Liga ou estar nela somente em 2020. Há também espaço para este mesmo Homem-Robô e seu humor inconveniente jogar nomes como Batman Aquaman no ar com a intenção de irritar Ciborgue. As situações com todo o grupo deixam qualquer um morrendo de rir, afinal, as tiradas são muito bem aproveitadas.

Por fim, temos uma série quase perfeita. Apenas seu series finale deixou a desejar em alguns quesitos. Entretanto, não deixa de ser uma boa pedida recheada de ótimas sacadas e excelentes atuações. É o seriado da DC que finalmente merecíamos! Além disso, é uma das mais criativas e irreverentes dos últimos anos. Com poderes bizarros, vilões extravagantes e uma ironia constante, o seriado ecoa sem nenhuma vergonha o espírito que definiu a Patrulha do Destino no final dos anos 80, graças aos poderes de Grant Morrison.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Doom Patrol
Temporada: 1
Direção: Larry Teng
Roteiro: Shoshana Sachi
Elenco: Diane Guerrero, April Bowlby, Joivan Wade, Alan Tudyk, Matt Bomer, Timothy Dalton, Riley Shanahan, Matthew Zuk, Mark Sheppard, Julie McNiven, Lilli Birdsell, Ted Sutherland, Jeanette O’Connor, Ezra Buzzington, Curtis Armstrong, Skye Roberts, Orelon Sidney, Michael Scialabba, Swift Rice
Distribuição: DC Entertainment TV
Duração: 55 min
Classificação: a definir

Leandro Stenlånd

Leandro não é jornalista, não é formado em nada disso, aliás em nada! Seu conhecimento é breve e de forma autodidata. Sim, é complicado entender essa forma abismal e nada formal de se viver. Talvez seja esse estilo BYRON de ser, sem ter medo de ser feliz da forma mais romântica possível! Ser libriano com ascendente em peixes não é nada fácil meus amigos! Nunca foi...nunca será!
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