CRÍTICA | ‘Querido Menino’

Bruno Giacobbo

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18 de fevereiro de 2019

Daqui a alguns anos, quando as próximas gerações forem explorar filmes antigos, talvez muita gente se pergunte o porquê de Querido Menino (Beautiful Boy) ter sido esnobado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (AMPAS). Lançado nos Estados Unidos em 7 de setembro de 2018, o longa-metragem dirigido pelo cineasta belga Felix Van Groningen estreou no momento certo: bem no início da temporada de premiação, a tempo de ser visto por todo mundo e não ser esquecido por ninguém. Havia uma grande expectativa no ar. Seus produtores acreditavam que, no mínimo, os interpretes Timothée Chalamet e Steve Carell disputariam todos os prêmios. E o primeiro teve um ótimo ano. Apareceu na lista de algumas associações de críticos, figurou entre os indicados ao Globo de Ouro, ao SAG, ao Bafta e ao Crtics´ Choice Awards, ficando de fora apenas do Oscar. Já o segundo, não.

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Baseado nos livros “Beautiful Boy: A Father’s Journey Through His Son’s Addiction” e “Tweak: Growing Up on Methamphetamines”, ambos ainda sem publicação no Brasil, o filme narra o drama vivido pelo jornalista David Sheff, um pai que vê seu filho primogênito, Nic Sheff, um jovem brilhante de 18 anos, mergulhar no mundo das drogas. Como todos aqueles que amam sem limite, ele tenta de tudo para salvar a vida do rapaz. Dá murros em ponta de faca até chegar a conclusão que, em algum momento, qualquer um acabaria chegando: se uma pessoa não quer ser ajudada, de nada adianta lhe oferecer ajuda. Ela tem que querer. Precisa ter força de vontade para lutar contra o vício. Nestas horas, às vezes, deixar de lado e entregar nas mãos de Deus pode ser mais eficaz do que qualquer outra medida.

Não é necessário ter um caso assim na família para se identificar com os personagens desta história, mas esta é uma daquelas obras em que a proximidade com o drama facilita a tarefa de embarcar na proposta. No entanto, com Steve Carell e Timothée Chalamet dando vida a David e Nic tudo fica mais fácil. Eles demonstram grande entrosamento em cena e são tudo o que este filme precisa para ser um grande filme. Sob a luz dos holofotes, há uma sintonia perfeita. Enquanto o jovem protagonista entrega uma atuação, em diversos instantes, visceral, seu experiente par prova, mais uma vez, que fez muito bem em praticamente largar as comedias e investir nos dramas. Interpretando o pai aflito, ele corria o risco de descambar para a pieguice, caso subisse um pouco o tom de sua interpretação. Algo que não ocorreu e ele está muito bem. Só que Querido Menino não é feito somente de grandes atuações.

Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro por Alabama Monroe (2012), Felix Van Groningen é jovem (41 anos), mas tem total consciência dos recursos a sua disposição. Junto com o editor Nico Leunen, ele optou por uma narrativa que foge da linearidade convencional e embaralha os acontecimentos. Mostrar pai e filho ora felizes, ora tristes, para depois mostrá-los alegres e em paz novamente, tem o poder de fazer o público se envolver, pelo contraste, com esta dramatização de sentimentos. Com a emoção já a flor da pele, o golpe final, que enreda quem ainda não tinha sido cativado, é ouvir “Sunrise Sunset” na voz de Perry Como. A letra fala do espanto quando percebemos que o tempo passou e não nos damos conta que dois jovens, até ontem crianças, cresceram. Da mesma forma, David não percebeu quando Nic cresceu e passou a usar drogas. É triste, tocante e real.

Desliguem os celulares e excepcional diversão.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Beautiful Boy
Direção: Felix Van Groningen
Elenco: Steve Carell, Timothée Chalamet, Maura Tierney, Amy Ryan, Stefanie Noelle Scott
Distribuição: Diamond Films
Data de estreia: qui, 21/02/19
País: Estados Unidos
Gênero: drama
Ano de produção: 2018
Duração: 120 minutos

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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