CRÍTICA | ‘A Maldição da Residência Hill’ vai muito além de uma simples série de terror e suspense

Leandro Stenlånd

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6 de novembro de 2018

Diversas pessoas nos dias de hoje se esquivam do gênero de terror. Poucas sabem, mas entre o terror e o suspense, as diferenças são bem complicadas, para alguns, de serem discernidas. Isso porque, no senso comum, o terror é usado para se referir aos filmes cuja narrativa apresenta um elemento sobrenatural. E quando a série ou filme possuem uma mescla de terror com suspense? Aí mesmo que a coisa fica ainda mais difícil de diferenciar.

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Ainda é um gênero de um nicho bastante pequeno e, por essa razão, filmes e séries de terror e suspense cada vez mais são raros. Tanto o gênero de terror quanto de suspense sempre foi algo de baixa estima cultural, Além disso, por trabalhar com o medo e com excessos de violência, misticismo e até de sexo, o público acaba se tornando um tanto restrito.

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Com a chegada da A Maldição da Residência Hill, a Netflix vem tentando alavancar um gênero adormecido. Temos então uma mescla interessante de terror, suspense e “Casos de Família”, com Christina Rocha. Pode parecer um tanto quanto estranho essa última opção, porém, logo vocês entenderão.

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No casting, temos Kate Siegel, Annabeth Gish (O Sono da Morte), Samantha Sloyan (também de Hush), Carla Gugino, Henry Thomas (Jogo Perigoso), Elizabeth Reaser, Lulu Wilson (Ouija – Origem do Mal), James Lafferty (O Espelho) e Catherine Parker (de seu primeiro longa, Absentia). O mais valioso é saber que todos esses intérpretes se saem bem contracenando juntos diante de cenas amedrontadoras e longas discussões familiares.

O terror, claro, atualizou-se com o passar do tempo e, nos dias atuais, é preciso ser muito competente para trazer à tona algo similar ao legado deixado por “Invocação do Mal” e seus spin-offs. Com o choque da novidade, a estranheza dos planos, os fundamentos da psicanálise e a curiosidade do mórbido mostram que A Maldição da Residência Hill é melhor do que o imaginado, mesmo com seus percalços.

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Para começo de conversa, temos uma família de sete integrantes, sendo 5 filhos, marido e mulher, que, inicialmente vão parar numa casa afastada de quase tudo e todos (bota clichê nisso), que possui um passado que só é explicado quase que na reta final dos seus longos 10 episódios com cerca de 1 hora de duração cada. Adaptado do livro “A Assombração da Casa da Colina”, de Shirley Jackson, todos os episódios precisam de uma atenção tremenda para entendermos melhor o que se passa na mente da família Crane, atormentada pela casa e precisando enfrentar acontecimentos aterrorizantes que lá estão.

O início da trama é bastante lento e apresenta personagens que, no decorrer da série, vão tendo suas histórias contadas desde o acontecimento da Residência Hill. Hoje, já velhas, essas 5 crianças cresceram, porém, todas elas possuem seus problemas pessoais. Enquanto um é dependente químico, uma das irmãs é sensitiva e a outra ergueu uma funerária que, vira e mexe, está capenga e com poucos clientes. O outro irmão está escrevendo um livro sobre os acontecimentos na casa, querendo lucrar indevidamente com contos sobre o que aconteceu com seus irmãos, sendo que alguns são contra a publicação enquanto uma das irmãs vive tendo paralisia do sono e é a mais sonhadora. Até um certo ponto, o que mais satura a série, é a infinita quantidade de bate-boca entre a família e tudo leva a um marasmo de 5 episódios totalmente arrastados que precisam, talvez, da Christina Rocha, do “Casos de Família”, para lidar com tantas desavenças.

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Claro que não são apenas 5 episódios de discussão, mas há momentos na casa que mostram quando os protagonistas do seriado eram fedelhos e seus pais nem tão velhos como agora, e sofriam com certos acontecimentos. É aí que você começa a compreender que a casa, em si, deixou um legado para essas crianças que hoje estão adultas. Toda criança tem medo do escuro e vive no mundo da imaginação acreditando no bicho-papão, crendo que o curupira existe ou que Papai Noel vai lhe trazer presentes.

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O sexto episódio de A Maldição da Residência Hill é bonito de se ver e precisa de uma maior atenção sua. Um dos mais importantes da série, inclusive. Intitulado “Duas Tempestades”, o episódio narra dois momentos da vida da família Crane: o enterro de Nell e o desaparecimento dela. A partir daí, o seriado vai lhe trazer maiores atrativos. A segunda parte (do sexto episódio em diante) mostra que a família Crain acaba aprendendo a conviver com os sentimentos de dor, raiva, culpa e medo. Eles deixaram a Residência Hill há muito tempo, mas continuam sendo assombrados por lembranças deixadas no local.

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Dentro da casa há inúmeros mistérios. Alguns são jogados na cara do espectador sem pé nem cabeça, apenas para estarem ali, enquanto outros são resoluções de enigmas que só há como entender ao final da temporada, em especial nos três últimos episódios. Claro que algumas charadas são expostas em outros momentos, encantando quem assiste. Por mais que não pareça, precisamos assistir ao seriado uma segunda vez, ou seja, mais 10 longas horas de pura tensão para enfim ter a opinião de que tudo que foi criado nessa série é encantador e deslumbraste.

O que poucos vão compreender é que o trailer vende uma coisa e o que assistimos é totalmente diferente. A síntese do seriado é o drama vivido pela família. O conto tem ênfase no horror, mas realmente é difícil crer que conseguiram sintetizar o melhor elemento que está predominante na maior parte dos episódios, criando uma atmosfera aterrorizante no meio de uma família transtornada por lembranças apavorizantes que assolam seus cotidianos mesmo depois de adultos.

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A sanidade, por exemplo, é totalmente questionável. Isso porque há fenômenos mentais diversos que mostram o cotidiano de uma criança atormentada por seus temores e, quando já adulta, ainda precisa de tratamento para lidar com o passado sombrio que não adormeceu. Há também a exclusão de grupos sociais que, no caso de Luke, o irmão drogado, sofre para conseguir ter êxito quando o assunto é reconquistar a confiança dos familiares. O método de isolamento, aos poucos, é absorvido pela família, raramente mostrada saindo da casa para fazer qualquer outra coisa a ponto de tentarem esquecer tudo aquilo que se passava dentro da mansão.

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O medo está em constante modificação em A Maldição da Residência Hill. Ou seja, os diretores e produtores do seriado, aos poucos, embaralham ainda mais o significado do medo, com o caso do terror psicológico que é o que temos aqui de forma contundente.

Há perseguições das vítimas pelas assombrações, com confirmações demoradas da existência dessas aparições, visto que nenhum adulto que se preze irá acreditar em seus filhos menores de idade. Mas confrontos difíceis para salvar a família vão existir e todos sabemos disso. A Maldição da Residência Hill faz com maestria o papel de tentar definir o conceito que a casa tenta passar ao espectador, pois sabemos que todos que estão no local, ao menos alguns deles, estão salvos, porém não sãos. Há um tipo de apreensão ao desconhecido e os fantasmas aparecem para alguns, enquanto tudo fica por conta da imaginação para outros. Aliás, eles servem mais para mostrar acontecimentos entre o passado e o presente da família, assim, o sobrenatural se manifesta e causa uma reação física negativa, mostrando também as verdadeiras motivações das assombrações e sua anormalidade com esta família em específico.

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Saindo do campo de drama, terror e suspense, visualmente, a série é esplêndida. A parte da fotografia consegue mostrar todo seu primor. Com o tempo, a fotografia também evolui, mostrando técnicas que foram sendo abandonadas por envelhecerem ou simplesmente ficarem ridículas demais, mas que funcionaram perfeitamente na série. O ápice do sexto episódio mostra planos sequências que duram entre 10 a 20 minutos e cortes que fazem sua mente virar um quebra-cabeça para entender o que se passou.

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A Maldição da Residência Hill é a nova aposta da Netflix, que, apesar de mostrar um início conturbado e cheio de discussões, não irá decepcionar. Fiquem tranquilos, afinal haverá muito medo e um season finale tão incrível que, mesmo que todos os episódios iniciais não lhe agradem, entenderá as razões, o drama e as dificuldades dos protagonistas por terem tido uma vida infeliz e mal resolvida.

::: TRAILER

https://www.youtube.com/watch?v=RqOF0CLWdIc

::: FICHA TÉCNICA

Temporada: 1
Elenco: Michiel Huisman, Carla Gugino, Timothy Hutton
Gênero: terror
Produção: Netflix
Estreia: 12/10/2018
Criador: Mike Flanagan
Produtores executivos: Mike Flanagan, Trevor Macy, Darryl Frank, Justin Falvey, Meredith Averill
Ano: 2018
Classificação indicativa: 16 anos

Leandro Stenlånd

Leandro não é jornalista, não é formado em nada disso, aliás em nada! Seu conhecimento é breve e de forma autodidata. Sim, é complicado entender essa forma abismal e nada formal de se viver. Talvez seja esse estilo BYRON de ser, sem ter medo de ser feliz da forma mais romântica possível! Ser libriano com ascendente em peixes não é nada fácil meus amigos! Nunca foi...nunca será!
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