CRÍTICA | ‘Samantha!’ resgata a nostalgia encantadora da TV nos anos 80

Giovanna Landucci

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28 de junho de 2018

A televisão brasileira nos anos 80 é um espetáculo à parte, essa é uma  época que merece saudosamente ser lembrada. É exatamente isso que a série ‘Samantha!’ faz com maestria. Em sua primeira série de comédia nacional, a Netflix traz esse ar nostálgico de volta, que resgata os bastidores de como era um dia comum na TV aberta brasileira. A série faz uma nítida referência ao ícone Simony, aquela mesma, da turminha infantil Balão Mágico com um hit chiclete sobre um disco multi cor, um disco voador, brilhanteeee… e lá estamos nós com a musiquinha do seriado na cabeça.

Quando falamos em música ou TV, os anos 80 pode ser considerado como uma das décadas mais fascinantes e marcantes. Uma identidade peculiar e visual expresso em tons neons, blazers com ombreiras, cabelos com permanente, topetes e muito laque. Quem não se lembra? Estilos musicais que imperavam a ruptura com o passado e tentavam planejar o futurismo em meio a uma nova era tecnológica. Nesta época, VHS, fitas cassete e aparelhos portáteis de música, como o walkman, demonstravam sua irreverência, , onde a TV era o palco que ditava o nível de sucesso de alguém, hoje, medidos isso pela internet.

Samantha

Em sua busca incansável pelo sucesso de outrora, a personagem interpretada por Emanuelle Araújo se encontra paralisada no tempo, em sua fanática vontade de se reerguer e ser novamente a estrela que enxerga que um dia foi quando criança. A série traz deliciosas referências, um figurino tão comum para os anos 80, mas que gera uma estranheza e desconforto enormes para os olhos do presente, que o veem como algo de baixo orçamento. Com episódios leves e rápidos, a trajetória da ex-estrela mirim se une ao cenário virtual do momento, quando em um dos episódios, seu ex marido, ex presidiário e ex estrela do futebol começa a sair com uma youtuber famosa do momento. Isso incita muito mais que conflitos de geração, mas uma leve crítica à forma como o mundo passou a se relacionar, mediante o uso excessivo das redes sociais e da tecnologia.

Aliando os conhecimentos de um dos maiores produtores da TV norte-americana, Chuck Lorre, com a produtora brasileira Alice Braga, conseguiram resgatar de forma caricata e icônica o nosso passado, tudo isso com muita originalidade. Quem cresceu assistindo programas emblemáticos como Clube da Criança, que marcou a estreia da Xuxa na televisão na saudosa emissora Manchete, e os subsequentes, como Mara Maravilha e Angélica, irá identificar muitos elementos. A presença de Lorre traz credibilidade internacional de alguém que produziu diversos sucessos de público, como é o caso de Two and a Half Men e The Big Bang Theory, ambas satíricas, cômicas.

Samantha

Com a marca da Netflix assinando a produção em diversos países, Samantha! mostra um pouco da veia brasileira, deixando de lado os assuntos tratados em ‘O Mecanismo’, expondo outro lado do Brasil. Embora cambaleie em seus três primeiros episódios e tenha diálogos rasos, por vezes se demonstrando forçados, e alguns atores, principalmente os mirins, terem falas robóticas, para uma  primeira série de comédia brasileira, ela fez bonito e conseguiu mostrar a que veio.

Samantha

Com um enorme abismo entre esses dois mundos, ‘Samantha!’ traz consigo um humor que tem contextualizações autênticas, apresenta vários assuntos interessantes, como as mensagens subliminares existentes nos discos de vinil e inserções de comerciais de produtos no meio da programação infantil. Faz também um paralelo com as selfies e as hashtags sem sentido que bombam as redes sociais, sem perder o tom e a ironia. Com esta produção, provamos a excelente qualidade de entretenimento que o Brasil possui e  que temos muito potencial para evoluir em futuras séries.

Samantha

Apesar de a personagem Samanta já está adulta, a série vai e volta no tempo para mostrar suas lembranças. Sua família também é atual, portanto, o perfil robótico deve ser guardado para as cenas da era infantil e não da versão do mundo atual.  O talento infantil nos anos 80, Samantha se agarrando ao pouco que resta de sua fama, enquanto cria planos mirabolantes para voltar ao estrelato, isso é só um pouquinho do que você pode esperar. Assim como 3% inovou, mas também melhorou a partir da segunda temporada, essa série demonstra que correrá pelo mesmo caminho. Vamos aguardar!

::: TRAILER

::: FOTOS

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::: FICHA TÉCNICA

Título original: Samantha!
Direção/Criação: Luis Pinheiro, Julia Jordão/Felipe Braga
Elenco: Emanuelle Araujo, Douglas Silva, Sabrina Nonata
País: Brasil
Ano: 2018
Gênero: Comédia

Giovanna Landucci

Publicitaria de formação, sempre gostei de escrever. Apaixonada por filmes e séries, sim, posso ser considerada seriemaníaca, pois o que eu mais gosto de fazer é maratonar! Sou geek principalmente quando falamos de Marvel e DC. Ariana incontestável, acho que essa citação de Clarice Lispector me define "Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania. Depende de quando e como você me vê passar." Ah, como é de se notar pela citação, gosto de livros e poesia também.
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