Crítica de Teatro | Cenas de um Casamento

Anna Cintra

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3 de novembro de 2015

Para aqueles que talvez desconheçam Ingmar Bergman, Cenas de um Casamento, em cartaz no Teatro Ipanema, é uma boa porta de entrada para o universo desse dramaturgo e cineasta que fez de sua vasta obra um sensível tratado sobre a condição humana. Para os já iniciados na força de seu texto, vale a oportunidade de tornar-se mais uma vez voyeur e confidente (sim,tudo ao mesmo tempo!) da complexa história de uma relação em colapso.

Marianne e Johan são casados, possuem duas filhas e, aparentemente, uma vida feliz (ou “na média”, como contentam-se em dizer). Mas quando Johan revela que vai deixá-la para viajar com a amante, por quem está apaixonado, algumas situações vêm à tona e a verdade aparece: o casamento vinha sofrendo, há tempos, uma lenta e gradual erosão. O público acompanha os instantes anteriores a esse momento e a separação, bem como os altos e baixos nos dez anos seguintes da trajetória dos dois, que apesar do amor mútuo não souberam administrar a dificuldade na comunicação, o comodismo, a falta de afinidade sexual, a pressão social e as suas próprias expectativas e frustrações.

A identificação do público com a história é imediata. Tanto pelo tema universal, quanto pela eficiente tradução feita por Maria Adelaide Amaral. Ela conserva a densidade dos diálogos centrais e as nuances psicológicas contidas na narrativa, ainda que o espetáculo tenha optado por suprimir algumas passagens e personagens secundários presentes na série e filme originais da década de 70.

Foto: Thiago Ristow / Divulgação

Foto: Thiago Ristow / Divulgação

Bruce Gomlevsky dirige Juliana Martins e Heitor Martinez (Marianne e Johan, respectivamente), que ganham um palco inteiro só para eles.Apesar do inconveniente e cansativo cenário de Pati Faedo ( peças do tamanho de bancos que são divididas e reconfiguradas pelos atores de acordo com a cena), eles ocupam a totalidade do espaço cênico com inteligência.Heitor, com uma atuação mais segura e à vontade que a de Juliana. A atriz, que também é a idealizadora e produtora do espetáculo e acaba de festejar 30 anos de carreira ( sua estreia foi, ainda criança, em A Gata Comeu, novela de 1985), nos traz uma Marianne correta: inicialmente ingênua, contida e que, após a separação, soube amadurecer emocionalmente. Mas, a sensação de que Juliana poderia mais é constante.

A iluminação,assinada por Elisa Tandeta,é bem coerente com o projeto e, de maneira sutil,pontua cada capítulo em que o espetáculo é dividido.

Acompanhei outros dois trabalhos dela, “A Visita da Velha Senhora” e “Um Estranho no Ninho” (esse, inclusive, também sob a direção do incansável Bruce!): em ambos, sua criatividade e competência estão mais evidentes.

Bergman disse, certa vez, sobre Cenas de um Casamento: “Eu levei dois meses e meio para escrever essas cenas; e toda uma vida adulta para vivê-las.” Ele influenciou vários cineastas, sendo Woody Allen, talvez,o principal deles. E influenciou Bruce, Juliana, Heitor… Torço para que você aproveite essa porta aberta (lembra-se do início desse texto?! ) e deixe-se influenciar também.

SERVIÇO:

Temporada: De 16 de outubro a 15 de novembro
Datas: Sextas, sábados e domingos
Horário: Sextas, sábados e domingos, 20h
Preço: R$ 40,00 (inteira) R$ 20,00 (Meia entrada)
Local: Teatro Ipanema (Rua Prudente de Morais, 824 – Ipanema)
Capacidade: 222 lugares
Duração: 90 minutos
Classificação: 14 anos
Gênero: Drama
Mais informações: (21) 2523-9794

FICHA TÉCNICA:

Autor: Ingmar Bergman
Tradução: Maria Adelaide Amaral
Direção: Bruce Gomlevsky
Elenco: Juliana Martins e Heitor Martinez
Trilha Original: Alex Fonseca
Iluminação: Elisa Tandeta
Cenografia: Pati Faedo
Figurino: Ticiana Passos
Assistente de direção: Luiza Maldonado
Projeto gráfico: Thiago Ristow
Agente literário: Cinthya Graber
Prestação de contas: Letícia Napole
Produção executiva: Ana Casalli
Direção de produção: Fábio Amaral
Produtores associados: Anna Magdalena, Fábio Amaral, Fabricio Chianello e Juliana Martins
Idealização: Juliana Martins
Realização: Bubu Produções Artísticas e Ymbu Entretenimento
Assessoria de imprensa: Minas de Ideias

Anna Cintra

Estudante de Psicologia há dois semestres, metida à mochileira há alguns anos e interessada em Fotografia desde sempre! Tem mania de sair com o cabelo molhado, de tomar mate gelado e de Ricardo Darin. É de Niterói, mora em Maricá e diariamente atravessa a Guanabara para trabalhar. Tá sempre saudosa de Porto Alegre, do Guaíba e do Quintana. Adora lugares com farol, mar e Iemanjá. E jura que viu Deus no último grande show que assistiu: ele estava no palco,usava uma bata, óculos escuros,cantava e tocava piano como ninguém! Pera! Esse era o Stevie Wonder...!
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