Crítica de Filme | Transtorno

Bruno Giacobbo

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7 de outubro de 2015

Segundo longa-metragem da francesa Alice Winocour, Transtorno é uma mistura de drama intimista e thriller psicológico. A história é centrada em Vincent (Matthias Schoenaerts), um soldado de elite francês que acabou de voltar de uma demorada missão no Afeganistão. Como muitos outros militares, a readaptação a vida normal não tem sido nada fácil. Assim, seu maior desejo é retornar para frente de batalha. O problema é que a guerra cobrou seu preço. Além de ter dificuldades para dormir, sua audição foi parcialmente afetada e ele teve, recentemente, diagnosticado um quadro de paranoia. Logo, seu realistamento depende do resultado de um exame médico que será entregue pelos correios, nos próximos dias. Enquanto aguarda, angustiado, Vincent aceita fazer parte de uma equipe de segurança, toda composta por soldados como ele, que trabalhará na festa de Imad Whalid (Percy Kemp), um rico figurão da política francesa. Este serviço acaba gerando outro ainda mais lucrativo: o de guarda-costas de Jessie (Diana Kruger) e Ali (Zaid Errougui-Demonsant), mulher e filho do milionário, enquanto este faz uma viagem de negócios.

A necessidade de contratar um segurança particular não vem apenas do fato de Whalid ser riquíssimo. O convidado de honra da tal festa era um ministro e potencial candidato à Presidência da República. Sua fortuna, como vamos descobrindo ao longo do filme, tem origens controversas. Desta forma, ele é um homem visado devido as suas conexões políticas e alguém com um número considerável de potenciais inimigos. Estas informações, espalhadas aqui e acolá pelo roteiro, servem para elevar o nível de paranoia de Vincent e, consequentemente, do público. Aos poucos, fica claro que ele terá bastante trabalho. Esta sensação de perigo iminente é amplificada pelo fato de quase toda a ação acontecer dentro da enorme casa branca, batizada de Maryland, aonde a família mora. Com quase nenhum empregado à vista, cômodos gigantescos e uma penumbra constante permeando as cenas, a sensação de que os três estão abandonados à própria sorte é cada vez mais latente.

Transtorno tinha potencial para ser um grande filme. O clima de tensão é bem construído, tanto pelos elementos já descritos, quanto pelo uso do som de maneira eficaz na hora que Vincent ameaça ter um de seus surtos paranoicos. Além disto, Schoenaerts e Kruger são interpretes que defendem bem seus papéis e química entres eles funciona, mas, existem alguns problemas incômodos como, por exemplo, a falta de conexões entre determinados fatos que ocorrem ao longo da história. Há, ainda, um entra e sai de personagens que nada acrescenta. Um deles, ao se envolver em uma pequena confusão com o protagonista, até ameaça ter seu quinhão de importância na trama, só que, lá pelas tantas, também desaparece sem deixar vestígios. No fim, a impressão que fica é que Winocour se preocupou demais em prender a atenção dos espectadores com um mistério repleto de tensão, usando, competentemente, recursos interessantes. Contudo, ao priorizar este aspecto, acabou deixando de lado o resto.

Desliguem os celulares e boa diversão.

(Filme assistido no 17º Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro).

FICHA TÉCNICA:
Direção e roteiro: Alice Winocour.
Co-roteirista: Jean Stephane-Bron.
Produção: Genevieve Lemal, Isabelle Madelaine e Emilie Tisné.
Elenco: Matthias Schoenaerts, Diane Kruger, Paul Hamy, Zaid Errougui-Demonsant, Percy Kemp, Franck Torrecillas, Philippe Haddad, Pierre Duroy, Chems Eddine, Victor Pontecorvo e Michael Dauber.
Trilha Sonora: Gesaffelstein.
Direção de Fotografia: Georges Lechaptois.
Edição: Julien Lacheray.
Duração: 101 minutos.
País: França.
Ano: 2015.

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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