CRÍTICA | Chuva de informações deixa trama de ‘Uma Dobra no Tempo’ confusa

Giovanna Landucci

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30 de março de 2018

Originalmente escrito por Madeleine L’engle e adaptado para o cinema pela roteirista Jennifer Lee, Uma Dobra no Tempo (A Wrinkle In Time), conta com muitas cores e magia, o que já é de se esperar dos estúdios Disney. É uma história focada no público infantil, mas que, por trás dessa “outra dimensão” pela qual o enredo lhe faz viajar, torna-se uma fábula.

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Parafraseando a diretora Ava DuVernay, que nos pede para não pensarmos que é uma narrativa com faixa etária de 8 a 12 anos, mas sim, uma “carta de amor”, digo que esse roteiro é repleto de metáforas e perfeito para todas as idades, desde que gostem de vivenciar um mundo mágico. Nesse momento, é possível se fazer um paralelo com o “Mágico de Oz”, comparação que ficará bem clara no decorrer da projeção.

O livro homônimo adaptado para o cinema é datado da década de 60 e recebeu inúmeras críticas, sendo até mesmo banido de bibliotecas por ser considerado anticristão, adepto da bruxaria e do espiritualismo. Sim, uma saga comparável a “Harry Potter”, mas que, através de mundos mágicos, revela que a resposta sempre estará dentro de si mesmo. O mundo Disney sempre traz produções com esse cunho. Podemos ver em contos como “Rei Leão”, “Ratatouille”, “Dumbo”, “Pinóquio”, entre outros, que despertam no espectador, seja ele criança ou adulto, caminhos para a realização de sonhos e desejos.

O longa trouxe muitos dos aspectos presentes na obra literária, já que conseguiu transportar praticamente todo o universo da literatura para o contexto visual, e isso fez com que a riqueza de detalhes utilizados deixasse a trama confusa. No primeiro ato temos uma história de família, que mostra a chegada de um irmãozinho, despertando união e felicidade. Alguns anos se passam, mas isso não fica claro, o que deixa no ar um aspecto confuso na passagem cronológica da narrativa.

A filha mais velha, Meg Murray (Storm Reid) na escola, sofre bullying e claramente tem problemas de autoestima com relação à sua aparência, baseada no que suas colegas falam e fazem. Nesse próximo ato, aparece uma mulher vivida por Reese Witherspoon, atriz que se destaca na película quase como protagonista, e que, no meio de uma tempestade (estilo Mary Poppins que chega de repente), entra na casa e se apresenta.

Charles Wallace (Deric Maccabe), seu irmão mais novo, parece já conhecer essa personagem, pois se mostra bem familiarizado, sabendo seu nome e a chama de amiga (uma menção às crianças que têm seus amigos imaginários, propondo que talvez não sejam tão imaginários assim). Com atuação exemplar, do ponto de vista da quantidade de falas e riqueza de palavras, esse pequeno ator se destaca na trama.

Personagens místicos e mágicos que aparecem na residência dessa família são excêntricas mulheres que, de repente, se apresentam para Meg, como um reflexo da alma humana representados pela Sra. Quem (Mindy) e Sra. Qual, vivida por Oprah Winfrey, que é um ícone nos Estados Unidos, apresentadora de talk show, mas que no longa perde força. O único detalhe que destaca a sua atuação é a maquiagem e produção (figurinos extravagantes). Meg tem um colega de escola chamado Calvin que irá com eles nessa viagem emblemática, mas, se nem eles de início conseguem entender o que está se passando (somente Charles confia e se propõe a ir com Sra. Quequé), como poderiam os espectadores se localizarem na história?

Esse roteiro, que é rico em detalhes, foi capaz de transcrever praticamente todo o livro, mas, ao mesmo tempo,  deixou a desejar  porque a quantidade de informação pecou na capacidade de fazer com que quem está assistindo possa desde o começo viajar por esse mundo e se colocar na trama, exatamente o que os livros fazem. Faço um paralelo com Nárnia, que é um mundo rico em detalhes e foi quebrado em alguns filmes por capítulos para não dispersar quem está assistindo.

Ainda sobre atuação, Gugu Mbatha-Raw, que faz a mãe das crianças, não consideraria nem atriz coadjuvante, não só pela pouca aparição da personagem, mas pela falta de firmeza nas falas que trariam a força e garra que geralmente mães solteiras que perderam seus maridos apresentam. Chris Pine, intérprete do pai das crianças, apesar de ser o motivo da viagem por este mundo paralelo, não ganhou tanta relevância. Seu personagem está desaparecido há quatro anos, após apresentar seu projeto científico relativo a um fator quântico (denominado Tesserato) e ser considerado louco pela comunidade científica. Falta de força nas falas, algo que ele costuma apresentar em outros papeis. Como essa Sra. Quequé sabe sobre o Tesserato, sobre seu marido e fala com propriedade que esse fator existe e que não é loucura? A trama trará as respostas ao longo da jornada.

Voltando aos aspectos de produção, apesar da Disney através de grandes efeitos especiais e emblemáticos figurinos (design de Paco Delgado) ter dado vida a cada personagem, o que mais deixou a desejar nesse universo foi a trilha sonora, pois a expectativa vem de repertórios como “Alladin”, “A Bela e a Fera”, “A Pequena Sereia” e “Moana”, com músicas que embalam corações e marcam de maneira forte cada história.

O que mais chama atenção em todo contexto de Uma Dobra no Tempo é este universo paralelo, onde habitam o bem e o mal, apresentados com cores psicodélicas e muitos efeitos especiais que acabam se tornando atrativos às crianças. É fácil transportar essa magia para a vida real, onde temos todos os dias que enfrentar batalhas, e, por isso, a trama pode também ser considerada uma parábola que fala sobre encontrar dentro de si a chave e a força para transpor seus problemas.

::: TRAILER

::: FOTOS

::: FICHA TÉCNICA

Título original: A Wrinkle in Time
Distribuição: Disney
Direção: Ava DuVernay
Elenco: Oprah Winfrey, Storm Reid, Reese Witherspoon
Data de estreia: qui, 29/03/18
País: Estados Unidos
Gênero: fantasia
Ano de produção: 2017
Classificação: 10 anos

Giovanna Landucci

Publicitaria de formação, sempre gostei de escrever. Apaixonada por filmes e séries, sim, posso ser considerada seriemaníaca, pois o que eu mais gosto de fazer é maratonar! Sou geek principalmente quando falamos de Marvel e DC. Ariana incontestável, acho que essa citação de Clarice Lispector me define "Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania. Depende de quando e como você me vê passar." Ah, como é de se notar pela citação, gosto de livros e poesia também.
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