CRÍTICA | ‘Velozes e Furiosos 8’ mantém a sinceridade, mas derrapa em sua execução

Thiago de Mello

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13 de abril de 2017

Acredito que não exista franquia mais direcionada a um público específico do que Velozes e Furiosos. Desde seu debute (em 2001), a série de filmes foca naqueles espectadores interessados em carros turbinados, ação frenética e explosiva, mulheres seminuas, lutas, etc, tudo abarrotado com doses cavalares de testosterona. Assim, com esse universo tão singular, os fãs se divertem com a crescente exorbitação do mais do mesmo.

Velozes e Furiosos 8, que estreia no dia 13 de abril, como era de se esperar, segue esse mesmo conceito. Nada de errado nisso, já que a franquia jamais mentiu a respeito de sua diversão escapista. Porém, o espetáculo muscular, pirotécnico e nitroso jamais consegue ser capturado com a grandiosidade almejada. E, além disso, o roteiro opta por uma linha meramente burocrática, criando as situações propícias para cada cena de ação, mas sem qualquer preocupação ou ambição narrativa.

Isso fica claro no plano da antagonista Cipher (Charlize Theron), a ciberterrorista mais perigosa do mundo que, mesmo detendo uma tecnologia quase infinitamente poderosa, vê a necessidade de subornar Dominic Toretto (Vin Diesel) e obrigá-lo a trabalhar para ela. Assim, Cipher faz com que Dom abandone sua lua de mel – e consequentemente sua esposa Letty Ortiz (Michelle Rodriguez) – em Cuba e traia toda sua família após roubar uma ogiva nuclear. O que era pra ser um plano perfeito, já começa equivocado e, assim, o roteiro vai apresentando suas inconsistências narrativas.

A direção de F. Gary Gray (Straight Outta Compton: A História do N.W.A., Uma Saída de Mestre) não consegue encontrar um ponto comum para trabalhar a ação visual e o roteiro de Chris Morgan (Celular: Um Grito de Socorro, Velozes e Furiosos 5, 6 e 7). O espetáculo visual é pouco vistoso, principalmente pela falta de inventividade ao capturar a ação. O diretor recorre a ângulos de câmera convencionais, uma edição picotada e o constante uso de slow motion para tentar dar dinâmica e valor estético às cenas. Esses recursos pouco funcionam e, rapidamente, cada momento cai num mesmo lugar comum, onde quase nenhum deles realmente se destaca.

Há, porém, uma ótima passagem onde a execução, mesmo que rápida, merece menção: os “carros zumbis”. Como trecho de ação, é uma cena muito bem construída e divertida. Mas como elemento da narrativa, problemática. Tal como o restante da obra.

Assim como a ação, a trama também deixa de capturar o público. Mesmo que a narrativa jamais tenha sido o objetivo da franquia, Velozes e Furiosos 8 tenta criar momentos de tensão (como contagens regressivas) ou plot-twists que jamais conseguem começar a incutir a dúvida na cabeça do público. O filme segue um padrão narrativo óbvio que, se o assumisse, teria sido mais funcional e, provavelmente, eliminaria necessários minutos do tempo final de duração: 2h16. Por mais intenso e acelerado (sem trocadilhos) que o filme seja, há vários momentos onde o tempo demora a passar.

Por outro lado, num aspecto positivo, Velozes trabalha bem seus momentos cômicos. Principalmente na figura de Luke Hobbs (Dwayne “The Rock” Johnson) cuja protuberante musculatura cria ótimos momentos de humor. Além disso, a imponência física de Johnson também é bem utilizada durante a ação. O pequeno arco da prisão, por exemplo, é um dos poucos realmente funcionais em ambos os quesitos. Parte do mérito, é justo afirmar, é da boa química entre Hobbs e Deckard Shaw (Jason Statham). Aliás, a química entre a profusão de atores e atrizes é outro elemento positivo do longa. Não há nenhum trabalho cênico de destaque, que fuja do esperado, mas a relação entre cada membro da família Toretto dá uma confortável dinâmica fraternal à trama. Já do lado antagônico, Charlize Theron parece desconfortável com o papel, relegando sua atuação a um semblante inexpressivo que parece tentar um tom ameaçador. Infelizmente, a ótima atriz realiza um dos seus piores trabalhos.

Outro elemento comum na franquia, mas pouco explorada é a trilha sonora, que sofre com a mencionada pouca inventividade visual da direção. Seus poucos momentos de destaque mal trabalhados. Inclusive, a introdução do filme, uma espécie de prólogo, é completamente descartável dentro da narrativa. E ele é um dos poucos momentos onde a música recebe seu característico protagonismo.

Conclusão

Mesmo mantendo sua sinceridade quanto ao escapismo, Velozes e Furiosos 8 derrapa (agora com trocadilhos) em sua execução. Há grandiosidade nas cenas de ação, mas nenhuma foi capturada com precisão. E o roteiro, mesmo não sendo o objetivo final, apresenta falhas que atrapalham a experiência. Dessa forma, cabe aos atores e atrizes dar conta do recado e oferecer os poucos bons momentos do filme, graças às suas qualidades individuais. Porém, nem todos conseguem manter o nível.

*Texto publicado originalmente no site “O SETE”, parceiro do BLAH CULTURAL

TRAILER:

FOTOS:


FICHA TÉCNICA:
Título original: The Fate of the Furious
Direção: F. Gary Gray
Elenco: Vin Diesel, Dwayne Johnson, Jason Statham
3D
Distribuição: Universal
Data de estreia: qui, 13/04/17
País: Estados Unidos
Gênero: ação
Ano de produção: 2016
Classificação: 14 anos

Thiago de Mello

Jornalista amante de cinema, de rock, de cultura pop e de Bloody Mary. Além de colaborar para o Blah Cultural, é idealizador do osete.com.br.
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