CRÍTICA | ‘Vida Selvagem’ retrata reações humanas aos conflitos que fogem do controle

Giovanna Landucci

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30 de outubro de 2018

Joe (Ed Oxenbould) tem 14 anos e é o único filho de um casal tradicional. Jeanette (Carey Mulligan) e Jerry (Jake Gyllenhaal) passam por certos conflitos de relacionamentos após o marido perder o emprego. A família vive em uma pequena cidade no estado de Montana, nos Estados Unidos, na década de 60, onde, perto dali, acontece um incêndio florestal na fronteira canadense e muitos homens se juntam ao corpo de bombeiros e guardas florestais (sem treinamento algum) ganhando pouco por hora para auxiliar a cidade e prevenir que o fogo se alastre. Jerry, estando desempregado, entra em desespero ao ver que sua esposa volta a trabalhar como professora de natação e seu filho também consegue um bico como assistente de fotógrafo em um estúdio, e, assim, decide se juntar ao grupo para ganhar apenas um dólar a hora. Esse pessoal trabalha longe de onde eles moram e, por isso, Jerry deixa a esposa e o filho sozinhos.

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Já diz o ditado que quem não dá assistência abre concorrência, certo? Sua esposa, que se vê sem dinheiro e impossibilitada de fazer algumas coisas, começa a se rebelar (tem comportamentos que, para a época, seriam uma vergonha). Já é possível entender a partir daí que, com a atitude imatura da mãe, Joe se verá forçado a assumir o papel de adulto. O jovem presencia tudo isso com indignação, pois ainda sonha em ver seus pais juntos novamente. O que parece somente uma distância física entre o casal acaba deixando mágoas e ressentimentos na relação, e, apesar do grande esforço do garoto em deixar a estrutura familiar inteira, a mãe segue um rumo que talvez não tenha volta.

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A direção de arte de Diego Garcia em Vida Selvagem (Wildlife) utiliza-se de paleta de cores em tons pastéis que remetem às fotografias antigas, o contraste de luz e sombra e a iluminação ambiente no rosto dos personagens cria planos incríveis. As músicas escolhidas por David Lang formam parte de uma trilha sonora típica dos anos 60, que nos leva a sentir todo o resgate da década. A fotografia levemente envelhecida, as câmeras fixas e os planos fechados dão ar de proximidade ao espectador, que se sente comovido com os dramas desta família, deixando esse longa-metragem uma obra muito bem dirigida por Paul Dano.

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Foto: Sony Pictures / Divulgação

Medidas extremas serão tomadas e, talvez, não tenham volta. Em uma família tradicional que se vê corrompida pela falta de dinheiro e opções na cidade onde vivem, a culpa recai sobre cada um deles, o que acaba esfriando as relações. Vida Selvagem fala sobre toda a selvageria que pode existir dentro das pessoas que se veem magoadas e com diversos conflitos que não conseguem remediar. Os princípios não são mais utilizados quando estamos para perder quem mais amamos ou quando passamos por necessidades. Ambos os pais vão perder seu juízo, agir com imaturidade sobre as circunstancias da vida e Joe será o único que, mesmo com a pouca idade, demonstrará ser a força da família. Veja os horários de exibição na Mostra de SP.

*Filme visto na 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Wildlife
Direção: Paul Dano
Roteiro: Paul Dano, Zoe Kazan
Elenco: Ed Oxenbould, Carey Mulligan, Jake Gyllenhaal

Distribuição: Sony Pictures

Data de estreia: Mostra de SP
País: Estados Unidos
Gênero: drama
Ano de produção: 2018
Duração: 104 minutos
Classificação: 16 anos

Giovanna Landucci

Publicitaria de formação, sempre gostei de escrever. Apaixonada por filmes e séries, sim, posso ser considerada seriemaníaca, pois o que eu mais gosto de fazer é maratonar! Sou geek principalmente quando falamos de Marvel e DC. Ariana incontestável, acho que essa citação de Clarice Lispector me define "Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania. Depende de quando e como você me vê passar." Ah, como é de se notar pela citação, gosto de livros e poesia também.
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