Crítica de Filme | Mistress América

Bruno Giacobbo

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9 de novembro de 2015

Musa do cinema indie norte-americano, Greta Gerwig está na estrada, batalhando seu lugar ao sol no reino encantado das grandes estrelas, desde 2006. Aos olhos do público brasileiro, digo daqueles que consomem filmes apenas nos cinemas, parece menos tempo, já que seu primeiro trabalho a repercutir fortemente por aqui foi “Frances Ha” (2012), onde além de interpretar uma jovem desajeitada, com vocação para a derrota, mas curiosamente feliz, ela divide a autoria do roteiro com o diretor e namorado Noah Baumbach. No entanto, apesar dos trabalhos anteriores, incluindo um com o próprio companheiro, talvez este longa-metragem seja mesmo um marco na carreira da atriz. Por sua participação nele, ela foi indicada a oito prêmios, entre eles o Globo de Ouro, e seu nome foi seriamente cogitado para o Oscar. Não rolou e me lembro bem das queixas dos fãs. Agora, de novo ao lado de Baumbach, Gerwig tem nova chance de adentrar tal reino, embora, no horizonte das premiações para o próximo ano, a concorrência pareça ainda mais assustadora do que em 2013.

Mistress América é uma história sobre duas jovens, Brooke (Greta Gerwig) e Tracy (Lola Kirke), que estão prestes a se tornarem irmãs graças ao casamento de seus pais. A primeira é aquele tipo pessoa que todo mundo quer ser: bonita, carismática, bem relacionada, mas que, apesar disto tudo, não tem um rumo na vida. Vive entrando e saindo de projetos; e nunca cursou uma faculdade. A segunda sonha em ser uma escritora de sucesso. Contudo, sua estima normalmente baixa está ainda mais afetada pelo fato de não ter sido aceita na fraternidade de escritores de sua faculdade. A princípio, elas não têm nada a ver uma com a outra, mas seus caminhos se cruzarão nas ruas de Nova Iorque quando, por sugestão de sua mãe, Tracy decidir procurar Brooke para estreitar o futuro laço de parentesco.

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Apesar de ser menos melancólico e mais divertido do que o filme anterior do casal, é possível ver traços de Frances, inicialmente, em Tracy, e, à medida que a trama se desenrola, em Brooke. Naturalmente bela, a personagem de Kirke tem sua beleza maculada pelo permanente ar de melancolia de quem sabe que tudo vai dar errado. Ela é o patinho feio que ainda não desabrochou. A convivência com Brooke será positiva. Fará com que acredite em si e logo se mostrará confiante em suas próximas atitudes. Com a personagem de Gerwig acontecerá o contrário. Ela murchará aos poucos. A autoconfiança inicial de quem é capaz de fazer qualquer coisa para viver, desde ministrar aulas particulares a trabalhar como professora de spinning, dará lugar a uma insegurança própria de quem, no fundo, não sabe o que quer da vida. No fim, estas duas personas estabelecerão uma relação simbiótica, onde ambas crescerão.

Dos créditos iniciais, em um colorido néon berrante, a trilha sonora dançante, diversos são os elementos que remetem aos clássicos adolescentes dos anos 80. Em determinado momento de Mistress América, as confusões aprontadas pelas protagonistas mais parecem saídas de uma das muitas obras daquela década. Contudo, um longa-metragem específico não saiu da minha cabeça durante toda a projeção: “Curtindo a Vida Adoidado” (1986). Brooke, em sua versão confiante, aquela que tudo pode e nada teme, é quase um Ferris Bueller (Matthew Broderick) de saias e batom. Há, também, outra semelhança: os deliciosos e mordazes diálogos da dupla Baumbach e Gerwig, que são uma garantia de diversão para todo tipo de público. Eles também, perfeitamente, poderiam ter sido escritos por John Hughes. Genial.

Desliguem os celulares e excelente diversão.

(Filme assistido na 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo)

FICHA TÉCNICA:
Direção: Noah Baumbach.
Roteiro: Noah Baumbach e Greta Gerwig.
Produção: Scott Rudin, Lila Yacoub e Rodrigo Teixeira.
Elenco: Greta Gerwig, Lola Kirke, Heather Lind, Cindy Cheung, Jasmine Cephas Jones, Matthew Shear, Kathryn Erbe e Michael Chernus.
Trilha Sonora: Dean Wareham e Britta Phillips.
Diretor de Fotografia: Sam Levy.
Montagem: Jennifer Lame.
Duração: 84 minutos.
País: Estados Unidos.
Ano: 2015.

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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