Dica de Filme: Desafio no Bronx (1993)

Bruno Giacobbo

Sei que não deveria, mas ainda me espanto com a facilidade com que certos filmes são relegados ao limbo da Sétima Arte e tornam-se praticamente desconhecidos do grande público. Na era de “Avatar” (2009) e “A Rede Social” (2010), obras que, me desculpem a franqueza, não vejo nenhum valor artístico, é uma pena que a maioria das pessoas nunca tenha ouvido falar em “Desafio no Bronx” (1993), o primeiro trabalho como diretor do genial Robert De Niro.

Esta obra já mereceria pleno reconhecimento apenas por este detalhe: é a iniciação de De Niro atrás das câmeras. Não é fácil se aventurar em um novo ramo. Deixar pra trás a comodidade do que você faz bem feito (melhor do que quase todos os seus pares) e tentar outra coisa. Contudo, De Niro teve como professores gente do naipe de Coppola, Scorsese, De Palma, Cimino e Leone. Ele sabia o que estava fazendo. Além disso, ele se valeu de um roteiro brilhante, humano, que fala de pessoas reais com dúvidas críveis e lições importantes – me perdoem se soa piegas, mas é isso que é o texto escrito por Chazz Palminteri.

Desafio no Bronx” conta a história de Carlogero Anello, filho único do honesto motorista de ônibus Lorenzo Anello (De Niro). Aos nove anos, o menino testemunha o assassinato de um homem. O autor do crime é Sonny (Palminteri, sim, o roteirista), um respeitado mafioso que controla o crime organizado no bairro do Bronx. Ao se negar reconhecê-lo para a polícia, Carlogero ganha o respeito do “capo” e passa ser tratado como um filho. A partir daí, ele viverá à sombra de dois homens que, paradoxalmente, conseguem ser bem distintos e semelhantes ao mesmo tempo.

DESAFIO_NO_BRONX_22

Ao mostrar o crescimento de Carlogero, a passagem da infância para a juventude, a convivência com criminosos e cidadãos de bem, a proximidade com a delinquência, “Desafio no Bronx”, pra mim, se parece bastante com “Caminhos Perigosos” (1973), de Martin Scorsese, primeiro grande sucesso de De Niro como ator. Se parece, eu escrevi, mas é melhor. Muito melhor. Ops, perdoe-me Scorsese!

A semelhança se deve, imagino, ao fato dos dois roteiros terem sido baseados nas experiências de vida de Palminteri e Scorsese. E é isso que confere brilhantismo e humanidade ao texto de Palminteri, pois ele viveu o que é mostrado na tela: cresceu no Bronx, se chama Carlogero, seu pai era um Lorenzo que dirigia ônibus e, provavelmente, conheceu um Sonny. Em determinado momento da história, é dito: “Escolhas influenciam sua vida para sempre”. Eu completaria: “Experiências também”.

Além das ótimas atuações de todo o elenco, destaque, óbvio, para De Niro, Palminteri e os garotos Francis Capra e Lillo Brancato (interpretes de Carlogero na infância e adolescência), esta obra de arte conta, ainda, com uma belíssima música tema: “Streets of Bronx”, de Butch Barbella.

Para quem ainda não teve a oportunidade de assistir “Desafio no Bronx”, recomendo que corra para a locadora mais próxima e alugue-o! Esta é uma experiência cinematográfica que vale muito a pena ser vivida.

Desliguem seus celulares e boa diversão!

BEM NA FITA: O filme como um todo. Não tenho nenhuma ressalva a fazer. Tanto é que concordo com o apelidado dado a ele pela querida Fernanda Salvatore: “Pequeno Poderoso Chefão”. Contudo, se tivesse que destacar apenas um ponto, escolheria o roteiro de Chazz Palminteri.

QUEIMOU O FILME: Nada.

FICHA TÉCNICA:
Diretor: Robert De Niro.
Elenco: Chazz Palminteri, Robert De Niro, Francis Carpa, Lillo Brancato, Joe Pesci, Taral Hicks e Kathrine Narducci.
Produção: Robert De Niro, Peter Gatien, Jon Kilik e Jane Rosenthal.
Roteiro: Chazz Palminteri.
Fotografia: Reynaldo Villalobos.
Trilha Sonora: Butch Barbella.
Duração: 121 min.
Ano: 1993
País: EUA

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
NAN