Dica de Filme: O Ano do Dragão (1985)

Colaboração

*** Colaboração de Bruno Giacobbo ***

Talvez eu esteja simplificando demais, mas encaro filmes de duas formas: ou eles são espetaculares, te arrebatam pelo visual, belas imagens e efeitos especiais, ou eles são minimalistas e te conquistam pela história, pela trama bem construída. Estes são mais profundos e necessitam de uma atenção especial da platéia. É necessário pensar.
Diretores como Steve Spielberg, Ridley Scott, James Cameroon e George Lucas são, essencialmente, realizadores de filmes espetaculares. Eles se enquadram no primeiro grupo. Já gente como Sidney Lumet e Lars Von Trier faz parte do segundo. Brian De Palma, Francis Ford Coppola e David Cronenberg também possuem filmes nesta segunda categoria. Assim como é um desperdício provar um Bordeaux após encher a cara de cachaça, não adianta assistir um Lumet com sono. É melhor deixar para outro dia.
Não estou desconsiderando uma terceira via com filmes que chamem atenção pelo visual e tenham uma trama inteligente. Eles existem, só não são comuns. Por ser um roteirista sensacional, Quentin Tarantino se enquadra no segundo grupo. Porém, em seus dois últimos trabalhos, “Bastardos Inglórios” (2009) e “Django Livre” (2012), ele flertou com o primeiro. Começou a trilhar a tal terceira via. No entanto, antes dele houve um diretor, hoje bastante esquecido, que fez o mesmo e, devo dizer, com maestria.
Em 1985, Michael Cimino lançou o controverso “O Ano do Dragão”, estrelado por Mickey Rourke e um sem número de atores asiáticos. O filme mostra a ascensão de um jovem gangster, Joey Tai (John Lone), ao comando do crime organizado de Chinatown (Nova Iorque) e a luta do capitão da polícia, Stanley White (Rourke), para combatê-lo. O trabalho de White é dificultado ainda mais pela corrupção de seus colegas de farda. Além disso, ele tem apenas uma única aliada: a jornalista Tracy Tzu (Ariane Koizumi).
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O Ano do Dragão” é um filme policial. Rotulado como racista pela comunidade asiática dos Estados Unidos, detonado por parte da crítica devido ao excesso de violência, ele, entretanto, foge do estereótipo dos policiais comuns. Cimino mostra de forma nua e crua a realidade dos asiáticos, em Nova Iorque. O “herói” é preconceituoso e sua opinião só começa a mudar quando ele se envolve com a bela jornalista. Ninguém é totalmente bom, ninguém é totalmente mau. Todos têm qualidades e defeitos inerentes aos homens. Ao contrario do que foi dito na época, acho que o filme presta um grande serviço ao ser tão franco.
Com 2 horas e 14 minutos de duração, ele é longo como qualquer obra de Cimino, mas em momento algum fica arrastado. A ação se desenrola de forma frenética. A ascensão de Tai se dá logo na primeira cena. É para o público sentir o que vem pela frente. E como todo filme espetáculo, “O Ano do Dragão” é dotado de uma bela fotografia; assim como a ação em si é bem coreografada e orquestrada. Destaque para o atentado a um restaurante e o embate final entre o policial e o gangster.
Como curiosidade e até para exemplificar seu caráter polêmico, este portentoso filme foi indicado, paralelamente, a dois Globos de Ouro (melhor ator coadjuvante – John Lone – e melhor trilha sonora – David Mansfield) e a cinco Framboesas de Ouro (pior filme, pior diretor, pior roteiro – Michael Cimino e Oliver Stone – pior atriz e pior nova estrela – os dois últimos para Ariane Koizumi), algo bastante incomum.
Por tudo o que já foi dito e escrito até hoje, “O Ano do Dragão” merece ser visto e revisto, do mesmo jeito que merecem outras duas películas de Cimino: “O Franco Atirador” (1978) e “O Siciliano” (1987). Recomendo os três.
Desliguem os celulares e boa diversão!
BEM NA FITA: l_annee_du_dragon_year_of_the_dragon_1985_portrait_w858A ação, os tiroteios, a fotografia, as cenas entre Mickey Rourke e a bela Ariane Koizumi; e a coragem de fugir do estereótipo dos filmes policiais.
QUEIMOU O FILME: Eu teria sido ainda mais nu e cru em algumas cenas. Talvez, não tenha sido possível devido à época que o filme foi rodado.
FICHA TÉCNICA:
Diretor: Michael Cimino
Elenco: Mickey Rourke, John Lone, Leonard Termo, Raymond J. Barry, Caroline Kava, Eddie Jones.
Produção: Dino De Laurentiis
Roteiro: Oliver Stone, Michael Cimino
Fotografia: Alex Thomson
Trilha Sonora: David Mansfield
Duração: 134 min.
Ano: 1985
País: EUA

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