Dica de Filme | O Franco Atirador (1978)

Bruno Giacobbo

Ferida aberta na história dos Estados Unidos, a derrota na Guerra do Vietnã tem sido, ao longo dos anos, um farto manancial para a indústria de Hollywood: “Apocalypse Now“, “Nascido em 4 de Julho“, “Bom dia, Vietnã“, “Forrest Gump” e “Pecados de Guerra“, são alguns dos filmes que se não falam do conflito propriamente dito, pelo menos o usam como pano de fundo para suas narrativas.

Dentre os citados, “Apocalypse Now”, de Francis Ford Coppola, talvez seja o mais aclamado de todos. No entanto, passa longe da lista dos meus favoritos. Particularmente, gosto muito mais de “Pecados de Guerra”, a obra-prima de Brian De Palma, e de “O Franco Atirador“, de Michael Cimino.

O Franco Atirador” conta a história de cinco amigos, Michael (Robert De Niro), Nick (Christopher Walken), Steven (John Savage), Sam (John Cazale) e Axel (Chuck Aspegren), todos operários de origem soviética, de uma cidadezinha do interior da Pensilvânia, que nas horas vagas, entre uma cerveja e outra, saem para caçar cervos. Todavia, a vida deles mudará completamente quando Michael, Nick e Steven forem convocados para lutar no Vietnã. Antes, entretanto, Steven deseja casar com Ângela, que está grávida de outro homem, e eles precisam desesperadamente caçar uma última vez. O que, em um primeiro momento, parece um desejo bobo, se revela algo importante, pois, inconscientemente, eles sabem que nunca mais serão os mesmos.

Quem espera muita ação, trocas de tiros e vietcongues voando pelos ares o tempo todo, certamente, se decepcionará. “O Franco Atirador” é muito mais um drama psicológico. Há, sim, cenas tensas nos campos de batalhas. A melhor delas mostra Michael e Nick, capturados pelos inimigos, jogando roleta russa com seus algozes. Mas, elas não são mais importantes do que os traumas individuais e sociais causados pela guerra.

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Com três horas de duração, o filme se divide em três etapas quase perfeitas de uma hora cada: o pré, o durante e o pós-guerra. A primeira e a terceira parte se desenrolam na tal cidadezinha do interior, Clairton, sede de uma indústria siderúrgica. Nada mais do que uma diminuta versão americana de Volta Redonda. É nesta localidade que primeiro conhecemos o dia a dia dos cinco amigos e depois veremos como suas vidas foram abaladas pelos traumas. É lá, também, que conhecemos a personagem Linda (interpretada pela brilhante Meryl Streep), noiva de Nick, mas que flerta com Michael. Curiosamente, duas das minhas três cenas favoritas se dão nesta comunidade esquecida por Deus.

Vale dizer que “O Franco Atirador” é emoldurado por uma trilha sonora sensacional! As musicas “Cavatina”, de Stanley Meyers, e “Can’t Take My Eyes Off You”, de Frank Valli, acompanham as melhores cenas da película.

Pra finalizar, é importante falar do diretor Michael Cimino. Contemporâneo dos também ítalo-americanos Francis Ford Coppola, Martin Scorsese e Brian De Palma, ele faz parte da geração conhecida como “Nova Hollywood”. Em uma comparação com Coppola, Scorsese e De Palma, Cimino obteve sucesso mais rapidamente que os dois últimos, vencendo o Oscar de melhor direção, em 1979, pelo filme em questão (Coppola venceu por “O Poderoso Chefão II”, em 1975). Scorsese só receberia tal láurea com “Os Infiltrados”, em 2007, ao passo que De Palma até hoje não ganhou. No entanto, as carreiras de ambos são muito mais prolíficas do que a de Cimino.

Ah, faltou dizer uma última coisa: “O Franco Atirador” é mais uma obra-prima surgida nos anos 70, para mim, a década de ouro do cinema norte-americano (esse é um assunto para outra postagem).

Desliguem os celulares e boa diversão!

BEM NA FITA: Quase tudo! A belíssima fotografia, a trilha sonora fantástica e os personagens complexos, mas críveis.

QUEIMOU O FILME: O filme poderia ser um pouco mais curto.

FICHA TÉCNICA:

Diretor: Michael Cimino
Elenco: Robert De Niro, John Cazale, John Savage, Christopher Walken, Meryl Streep, George Dzundza, Chuck Aspegren, Shirley Stoler, Rutanya Alda, Pierre Segui e outros.
Produção: Michael Cimino, Michael Deeley, John Peverall
Roteiro: Michael Cimino, Louis Garfinkle, Deric Washburn, Quinn K. Redeker
Fotografia: Vilmos Zsigmond
Trilha Sonora: Stanley Myers
Duração: 183 min.
Ano: 1978
País: EUA/ Reino Unido
Gênero: Drama
Estúdio: EMI Films / Universal Pictures

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
NAN