Discurso Marginal

Marcus Di Bello

Estamos à margem. Literalmente. Estamos na praia, no limite da cidade, o mais afastado possível do grande centro pulsante, longe da máquina. Estamos à margem. Mas somos engrenagem. A máquina precisa de nós. Aqui é possível acender um fino pra sintonizar. Aqui é possível observar as estrelas e continuar sonhando. Apenas marginais continuam sonhando. Quanta honra. Somos marginais reunidos num domingo de páscoa no Vale do Anhangabaú para acompanhar um show de rock. Somos marginais reunidos numa quarta-feira para assistir um filme italiano no cinema mais alternativo da cidade. Marginais do mundo, uni-vos! Estamos nas periferias, estamos nas ruas, estamos nas praças, estamos nos filmes, estamos no teatro, estamos na música. Estamos na vida. Exercemos tão bem a função de marginal, que às vezes o sistema tenta nos recompensar por esse papel e nos tirar dessa condição. O importante é seguir com o discurso. O importante é seguir sonhando. O importante é seguir. À margem.

Marcus Di Bello

Ator, diretor, dramaturgo, poeta e ser humano. Escreve desde 2006. Influenciado principalmente por Charles Bukowski, Mário Bortolotto, Raymond Carver, Paulo Leminski e Henry Miller. Admira Kafka, Baudelaire, Carlos Drummond de Andrade, Samuel Beckett e Dylan Thomas. Gregório é o protagonista dos contos e uma espécie de alter ego do autor, que mistura passagens autobiográficas e ficcionais.
NAN