Entrevista com a atriz Sandra Alencar do monólogo “Adoração”
Anna Cecilia Fontoura
A atriz Sandra Alencar, que esteve em cartaz no Rio com o monólogo “Adoração”, composto por dois textos de Nelson Rodrigues, conta um pouco sobre sua carreira, novos projetos e sobre os desafios de se produzir um espetáculo teatral independente.
Sem mais blah blah blah, vamos a entrevista!
Blah Cultural – Como é fazer um espetáculo solo? Requer preparação especial?
Sandra Alencar – O processo é sempre o mesmo: abrir mão daquilo que você aparentemente sabe, para estar disponível para aquele texto, aquela direção, que são únicos.
No caso de ‘Adoração’, estávamos diante de dois textos não dramáticos, riquíssimos de imagens, mas sem personagens delineados. Isso me trouxe um desafio enorme de contar essas histórias sem encená-las, sem interpretá-las, mas dispondo corpo e voz a serviço daquelas imagens para comunicar ao público toda poesia e drama destas histórias.
Blah Cultural -Como é interpretar um texto de Nelson Rodrigues? Já encenou outros textos dele?
Sandra Alencar – Sim. Além de ‘Adoração’, com direção de Beto Russo, participei da montagem de ‘Vestido de Noiva’ (2012/CCBB RJ), direção de Caco Coelho, ‘A Mulher Sem Pecado’ (2011/ Theatro São Pedro, Porto Alegre/RS), direção Caco Coelho e Beto Russo e Valsa nº 06 (1996/ Universidade Federal de Santa Maria/RS).
Sou muito apaixonada por Nelson, suas personagens estão sempre no limite: a vida, a morte, a paixão, a loucura…é de uma riqueza estupenda que permite muitos estados de atuação.
Blah Cultural – Qual autor ainda tem o sonho de interpretar?
São tantos….entre eles, Shakespeare e Ionesco.
Blah Cultural –Fale um pouco sobre sua carreira e o Grupo dos Cinco
Sandra Alencar- O Grupo está completando 13 anos de atividades. Em Porto Alegre tivemos a oportunidade de participar de um projeto de grande fomento ao trabalho de grupo, que é o projeto Usina das Artes, no Centro Cultural Usina do Gasômetro. Lá fortalecemos nossa pesquisa de linguagem e desenvolvemos inúmeros trabalhos integrando teatro, artes plásticas e performance. Antes da criação do Grupo dos Cinco eu tive a oportunidade de trabalhar com a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, hoje com mais de 30 anos de trajetória, sendo uma grande referência ao teatro de grupo no Brasil.
Blah Cultural– Tem outras peças em vista após o término da temporada de “Adoração”?
Sandra Alencar- Alguns estudos, alguns projetos, mas nada muito definido ainda. Estou me dedicando a produção de novas apresentações de ‘Adoração’.
Blah Cultural – A repercussão de “Adoração” foi a esperada?
Sandra Alencar- Foi excelente. Com ótimo retorno da imprensa, pudemos contar com um público bastante heterogêneo.
Blah Cultural – “Adoração” vai ter nova temporada em outro teatro? Vai continuar em cartaz?
Sandra Alencar- Sim, estaremos dias 15 e 16 de junho, no Sesc Horto, em Campo Grande/MS, e no segundo semestre devemos estrear em São Paulo.
Blah Cultural – Quais os desafios de uma montagem independente?
Sandra Alencar- O desafio é conseguir produzir com liberdade sem estar condicionado ao apelo de um mercado, é chegar ao público sem utilizar recorrer a uma estética padrão, comercial, massificante. ‘Adoração’ teve o privilegio de contar com o fomento do projeto Usina das Artes, da Usina do Gasômetro/Prefeitura de Porto Alegre. Neste espaço, através de edital, os grupos contam com local e verba pública para desenvolver pesquisa de linguagem e realizar atividades que promovam a formação de plateia. É um projeto exemplar que valoriza o trabalho continuado e a autonomia estética.
Blah Cultural- Há diferença da reação do público de uma apresentação para outra. Ou do público carioca para o gaúcho?
Sandra Alencar- Acho que há mais diferença entre o público de uma apresentação e outra, e não entre cidades, porque o teatro toca cada um de forma muito particular.
Blah Cultural – Você foi indicada ao Prêmio de Melhor Atriz no Prêmio Açoriano de Teatro 2010. Conte um pouco sobre isso.
Sandra Alencar- Foi uma surpresa! 2010 foi um ano inspirador para os artistas de Porto Alegre. Excelentes montagens com grandes atrizes em cena. Ficar entre as cinco finalistas entre mais de 30 produções daquele ano, foi realmente gratificante.