Entrevista | Letícia Wierzchowski de romance novo

Anna Cintra

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27 de maio de 2015

Sem ter a pretensão de reinventar a roda ou subverter a linguagem, Leticia Wierzchowski garante: tudo o que ela quer é contar bem uma boa história. E vem contando! Desde que deixou a faculdade de arquitetura e outras ocupações administrativas,vive de carpintaria literária da melhor qualidade. Publicou seu primeiro livro em 1998 – O Anjo e o Resto de Nós – e, a partir de 2002, alcançou imenso reconhecimento com A Casa Das Sete Mulheres, que ganhou edições estrangeiras e adaptação para tv. Dona de uma narrativa ficcional fluida e competente, soube ir além de seu romance histórico de sucesso e em pouco tempo tornou-se uma das mais produtivas escritoras brasileiras, com inúmeros títulos adultos e infantis (confira a biografia completa abaixo) e trabalhos como roteirista.
Quem a lê sabe do seu apreço por desenvolver histórias a partir de um núcleo familiar e de sua sensibilidade para tratar igualmente de questões universais e particulares. Acredito, inclusive, que não tenha feito diferente em Navegue A Lágrima, seu livro recém lançado pela Intrínseca. A julgar pelos pequenos trechos liberados na web, mais uma vez Letícia permeia toda a trama com um pouco (ou muito,vai saber!) de si: talvez não seja à toa o fato dela trazer novamente personagens femininas escritoras. Dessa vez,temos Heloísa, uma editora paulista que adquire a antiga residência do casal Berman (ela,escritora renomada; ele, seu mais ávido leitor) e começa a vê-los por todos os cantos, bem como os momentos de alegria, tristeza e frustração que viveram naquela casa à beira-mar. E esse contato – fantasioso ou não, eis o mistério – mudará intensamente sua própria história de vida.
leticia-Wierzchowski
O Blah Cultural entrevistou Leticia Wierzchowski. 
1-“Uma casa na praia,num idílico balneário no Uruguai,é o cenário de duas histórias de amor e perdas, separadas no tempo.” Essa é a primeira descrição de Navegue a Lágrima no site da Editora Intrínseca. Nos conte um pouco mais sobre seu mais recente romance.
Acho difícil contar de um livro – ele é o que ele é, e só lendo é que pode ser compreendido, ainda que de muitas maneiras diferentes. A mágica da literatura é que cada leitor faz a sua viagem. Mas Navegue a lágrima é a história de dois amores, de quatro pessoas, e do que eles construíram, daquilo que a vida destrói e daquilo que a vida refaz. Eu brinco um pouco – como fiz em Sal – com os limites entre ficção e realidade. Mais uma vez, tenho uma personagem que começa a escrever coisas, coisas que só ela vê acontecer. Em Sal, era o oposto: as coisas que a personagem escreveu vazavam da ficção para a realidade.
Tenho pensado muito nisso ao longo destes anos todos, de todos estes livros – Marguerite Yourcenar disse que a ficção não contém a vida, mas apenas as cinzas da vida. Acho uma belíssima frase, e penso muito nela. Mas as cinzas são o que sobrou da vida, são, portanto, desdobramento da vida.
É um romance sobre o amor, também, e sobre as afinidades que unem as pessoas.
2-Seu primeiro livro   foi publicado em 1998. E , de lá pra cá,já foram 14 romances e 5 livros infantis. Quando você começou, imaginava que seria uma das mais produtivas escritoras brasileiras contemporâneas?!
Foram muitos mais – contando com o meu infantil que sai em junho – Brinca, Menino – estou com 25 títulos publicados!!!
É bastante coisa, mas é muito orgânico para mim – eu escrevo pra viver. E vivo do que escrevo (não financeiramente falando), mas me alimento destas horas de silêncio e de ficção para seguir adiante. Escrever me reordena. Então é uma produção sadia, me ajuda.
Eu não imaginava nada naquele tempo, e nem nunca penso nisso. As histórias surgem e eu as agarro – só isso. Gosto de escrever, mesmo que o processo guarde angústias e sentimentos contraditórios. Escrevo porque preciso. Tenho a sorte de existir leitores que se interessam pela minha ficção.
a-casa-das-sete-mulheres
3- Li que participou da Oficina Literária do Luiz Antônio Assis Brasil. Hoje,você ministra sua própria oficina de escrita criativa, onde os alunos buscam adquirir vivência e habilidade na narrativa. Como é passar de “aluna” para “professora” ? E o que você percebe sobre as expectativas dos que participam?
Este processo foi bem curioso – serviu para eu colocar em ordem o meu próprio processo criativo, que é bem caótico, orgânico, emocional. Eu precisei encontrar um caminho no meio do caos que me rege quando eu escrevo, e isso me ajudou a me entender também. Divido, na oficina, mais as minhas dúvidas do que as minhas poucas certezas. Divido a minha experiência como leitora/escritora, este olhar fundamental de compreensão do processo construtivo do romance alheio, que nos ajuda a pensar no nosso próprio caminho ficcional. Escrever um romance é uma questão de talento (acredito nele piamente), mas também de fôlego e paciência. É um tour de force.
Estou gostando muito de dividir com outros esta solidão que é escrever, que é o processo de escrever um romance.
4- Aliás,sobre seu processo criativo: muitos escritores sentem a necessidade de um exercício cotidiano, de uma certa disciplina para produzir. Como é o seu método de trabalho?
Olha, sou super disciplinada quanto ao meu tempo – romance é ciumento e exigente. Escrever é um pouco como praticar um esporte a sério: sem dedicação, não se avança. Gosto muito de um livro do Haruki Murakami que faz este paralelo entre o esporte e o romance, chama-se: Do que eu falo quando eu falo de corrida.
Então, sim, sou atrapalhada e confusa à medida em que acredito que criar um romance é um processo orgânico e aberto, eu parto de algumas premissas básicas e me atiro no nada, acreditando que vou cair onde eu quero, corrigindo a rota aqui e ali. Neste ponto, sou desorganizada – deixo o instinto me levar. Mas dou muito espaço pro meu instinto se manifestar a me falar: quando estou trabalhando num romance, dedico várias horas por dia pra ele, durante meses, às vezes anos.
NavegueALagrima
5- Certa vez, Eduardo Galeano disse que ” Tem histórias para falar e histórias para contar por escrito.” Como você define quais histórias promover, e quais personagens destacar? Enquanto escreve,imagina qual tipo de leitor lerá seu livro?
Eu deixo as histórias em mim, quietas ali. Aquelas que permanecem, que ficam me chamando, são as que vão adiante. Às vezes, um enredo, um personagem, fica latente durante meses, anos, e de repente eu sinto que é aquilo que eu quero escrever. É super instintivo, e eventualmente tem a ver com as minhas próprias questões internas, pessoais.
Eu não imagino os meus leitores… Eu tenho, como um avatar, a imagem de um leitor – às vezes ele me sopra que estou confundindo isto ou aquilo… Quer dizer, com o passar dos anos, o escritor vai afinando o seu olhar, as suas percepções, e pode ouvir melhor a sua bússula interior. Quanto aos leitores reais, muitas vezes eles nos surpreendem com as suas interpretações…
6- Nas suas redes sociais você cita alguns escritores como, por exemplo, a poetisa portuguesa Sofia de Mello Breyner. Qual tipo de literatura mais te influencia? E , por falar em poesia, não sente vontade de se aventurar por esse gênero?
Eu gosto de livros. E tenho meus autores prediletos – são muitos. Mas gosto demais da Sophia, e uso muito a poesia dela no facebook – porque a poesia calha ao universo das redes sociais à medida que diz muito com pouco… Eu não sei dizer nada que preste com menos de duas laudas.
Obras de Leticia Wierzchowski:
Romances e Novelas
-
O Anjo E O Resto De Nós – 1998, 2001, Record
Prata Do Tempo – 1999, 2004 Record
eu@teamo.com.br – 1999, LP&M
A Casa Das Sete Mulheres – 2002, Record
-
O Pintor Que Escrevia – 2003, Record
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Cristal Polonês – 2003, Record
-
Um Farol No Pampa – 2004, Record
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Uma Ponte para Terebim – 2005, Record
De um grande amor e de uma perdição maior ainda – 2007, Record
Os aparados – 2008, Record
Os Getka- 2010, Record
Neptuno – 2012, Record
Sal – romance, 2013, editora Intrínseca.
Navegue a lágrima – maio 2015

Contos & Crônicas
-
Anuário dos Amores – 1998, Artes e Ofícios

Infantil & Juvenil
-
O dragão de Wawel e outras lendas polonesas (com Anna Klacewicz) –
Todas as coisas querem ser outras coisas – 2006, Record
Era uma vez um gato xadrez – (Jabuti)
O menino paciente (com Marcelo Pires), 2007, Record
Semente de gente – 2008, Record
O menino e seu irmão, 2011, Record – com Alessandra Lago, adotado pelo
PNBE distribuição nas escolas públicas do país.
Come menino, 2103, ed. Nova Fronteira
Dorme Menino, 2013, ed. Nova Fronteira
Brinca menino, 2015, ed. Nova Fronteira
Coração de mãe, 2015, ed. Agir

Edições Estrangeiras
-
Espanha – A Casa das Sete Mulheres (La Casa E Las Siete Mujeres) –
2004, Ediciones B
- Espanha – A Casa das Sete Mulheres (La Casa E Las
Siete Mujeres) – Edição Pocket – 2005, Byblos
- O Pintor Que Escrevia –
2005, Ediciones BUm Farol No Pampa – (no prelo), Ediciones B
-
Grécia – A Casa das Sete Mulheres – (no prelo) – Enalios Publications
-
Itália – A Casa das Sete Mulheres (La Casa Delle Sette Donne) – 2004,
R.C.S Libri
-
Iugoslávia – A Casa Das Sete Mulheres – Alfa Narodna
Portugal – A Casa Das Sete Mulheres – 2003, Ambar, Uma ponte para
Terebin, 2010, Edi9
Sérvia e Montengro: A Casa das Sete Mulheres – (no prelo), IKP Evro-
Giunti, Um Farol no Pampa – (no prelo), IKP Evro-Giunt
Alemanha – A casa das sete mulheres, 2009, Random Bertelsmann /
Blanvalet
França – A casa das sete mulheres, 2012, JC Lattès
Croácia – A casa das sete mulheres

Traduções-
As cartas que não chegaram – autor: Maurício Ronsecof. Editora Record.

Roteiros de cinema e televisão:
Tô Frito, 2010 – série jovem de 8 capítulos, escrita com Marcelo Pires.
Veiculada na Bandeirantes e na MTV.
Grenal é Grenal 1, Grenal é Grenal 2, Grenal é Grenal 3 (estreia 6 de abril
2013) – série de 4 capítulos veiculada na RBS TV, fase 1 ano de 2011, fase 2
ano de 2012.
O tempo e o vento, roteiro do longa metragem de Jayme Monjardim,
baseado na obra homônima de Erico Veríssimo, em parceria com Tabajara
Ruas.
Estreia agosto 2013.
Roteiro da série de mesmo nome a ser veiculada na Globo, 3 capítulos,
fevereiro 2014.
Amor Veríssimo, 2014, GNT, série baseada na obra de Luis Fernando
Veríssimo. Vários roteiristas. Produtora Conspiração.
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Anna Cintra

Estudante de Psicologia há dois semestres, metida à mochileira há alguns anos e interessada em Fotografia desde sempre! Tem mania de sair com o cabelo molhado, de tomar mate gelado e de Ricardo Darin. É de Niterói, mora em Maricá e diariamente atravessa a Guanabara para trabalhar. Tá sempre saudosa de Porto Alegre, do Guaíba e do Quintana. Adora lugares com farol, mar e Iemanjá. E jura que viu Deus no último grande show que assistiu: ele estava no palco,usava uma bata, óculos escuros,cantava e tocava piano como ninguém! Pera! Esse era o Stevie Wonder...!
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