Watchmen Rorschach

ESPECIAL ‘WATCHMEN’ | O início de um clássico

Pedro Marco

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15 de outubro de 2019

Bem, agora que já temos um panorama geral de o que foi o lançamento de Watchmen, vamos dissecar suas 12 edições, uma a uma, na tentativa de compreender a obra de Alan Moore e Dave Gibbons.

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As Primeiras Edições

Logo na capa de sua primeira edição, temos aquele que seria eternizado como o símbolo máximo de sua saga. Um bottom com um smile manchado de sangue. A representação da mancha na inocência resume, de certa forma, o que viria ser Watchmen. Os heróis não mais seriam um exemplo uno de moral e bondade, mas sim algo real e humano.

A história nos traz o misterioso assassinato de Edward Blake, jogado para fora da janela de seu apartamento. Estando nos arredores, o detetive Rorschach passa a investigar sua morte, descobrindo que Blake era, na verdade, o veterano herói conhecido como Comediante. Preocupado com este estranho acontecimento, o detetive inicia sua cruzada em avisar outros heróis do perigo que possam estar correndo, nos apresentando assim aos heróis Coruja, Espectral e ao Doutor Manhattan.

Este início pode aparecer até ainda um pouco confuso por não trazer grandes explicações e nos trazer esta gama de heróis novos e veteranos em uma Nova Iorque desanimadora. Mas aqui já temos alguns vislumbres deste futuro não tão distante em uma nação que prospera sua própria queda. Aqui, os EUA venceram a guerra do Vietnã, anexando o país como seu 51º estado e reelegendo Nixon como presidente por 4 mandatos seguidos.

Neste mundo, a chamada Lei Keene proibiu o vigilantismo dos heróis, num cenário onde apenas Rorschach permanece com a prática de forma ilegal. Esta proibição de heróis pode parecer um tema batido, visto que a presenciamos em várias obras como Guerra Civil e Kick-Ass, mas em 1986 era algo realmente devastador. Isso coloca Watchmen em um patamar onde a justiça é algo que se encontra em primeiro plano, apesar da moral ser bastante subjetiva.

Os Minutemen

Watchmen, logo de início, traz a nostalgia como um de seus temas centrais. O encontro entre o antigo e o novo se traz presente nesses dois primeiros capítulos com o Coruja Hollis Mason encontrando o Coruja 2 Dan Dreiberg; assim como a Espectral 2 Laurie Juspeczyk com sua mãe e antecessora Sally Jupiter; fazendo a ligação entre os heróis do presente e do passado. Isso também é trazido à tona com a placa de “modelos obsoletos” na casa de Hollis Mason, bem como no diálogo sobre os velhos tempos entre Dan e Laurie.

Adotando uma narrativa quase tarantinesca, Watchmen passa a usar bastantes flashbacks para três épocas distintas. Com auxílio deles e da autobiografia de Holis Manson anexada aos primeiros volumes da HQ, começamos a compreender a primeira equipe de heróis desse mundo distópicos: os Minutemen.

Após o surgimento de um herói vestido de carrasco com uma corda no pescoço, chamado de Justiça Encapuzada, vários outros heróis começaram a surgir nos Estados Unidos. Como era de se esperar, estes decidiram se juntar e formar uma super equipe.

Minutemen Watchmen

Significado

Apesar do nome ser um jogo de palavras (Watchmen, além de vigilantes pode significar homens-relógio, enquanto Minutemen seriam os homens-minuto), o título vem da guerra de independência americana, onde estes seriam os soldados de milícia que caçavam desertores do exército e recebiam o apelido por estarem prontos pra batalha em um minuto.

Em Watchmen, a equipe era formada, além do Justiça Encapuzada, pelo Coruja (Holis Manson), Espectral (Sally Jupiter), Capitão Metropolis, Silhouette, Dollar Bill, Traça e o Comediante. O grupo atuava nos anos 40, lutando contra vilões infames como Moloch, e enfrentando polêmicas, como, por exemplo, a tentativa de estupro do Comediante sobre a Espectral, e a expulsão de Silhouette do grupo por ser lésbica. Em 2012, no movimento Antes de Watchmen, uma revista foi publicada por Darwyn Cooke com as primeiras aventuras do grupo.

Nova equipe

Como visto na segunda edição da revista, uma nova tentativa de equipe foi tentada anos mais tarde. O Capitão Metrópolis tentava reaver sua época de ouro, reunindo os novos Coruja e Espectral; aos polêmicos Comediante e Rorschach; o homem mais inteligente do mundo, Ozymandias; e o primeiro super-herói do mundo, Doutor Manhattan.

Estas duas equipes ajudam a desconstruir todo o conceito de companheirismo que crescemos acompanhando com os Vingadores, Liga da Justiça e afins. A moral duvidosa e os diferentes conceitos de certo e errado se põem à prova nestes sistemas de vigilantismo anárquico, onde cada um funciona melhor sozinho ou, no máximo, em duplas. Manhattan e o Comediante atuaram juntos a serviço do governo na guerra do Vietnã; Rorschach e Coruja mantiveram sua época de parceria como heróis das ruas; e mesmo Coruja e Comediante ajudaram a conter as manifestações populares contra a greve dos policiais. No entanto, os três casos mostravam uma desarmonia arriscada entre eles.

O Comediante Edward Blake atua como um caothic neutral (um abraço pra galera do RPG), onde não mede suas consequências para atingir seu bem pessoal. Seja estuprar uma colega de equipe, atirar em uma vietnamita grávida, ou enxergar no caos da rua a grande piada que existe no sonho americano. Em contraponto, Dr. Manhattan questiona suas ações, apesar de optar por não fazer nada para impedi-lo. Agindo como um vigia, ele parece mesclar em apreciar a observação da humanidade ou simplesmente não dar a mínima.

Watchmen segunda equipe

Metáforas e citações

Então, ao avançar da história, a caçada ao assassino do Comediante vai se tornando cada vez mais um plano de fundo. Mesmo com os constantes vislumbres de seus momentos finais em choro, bebedeira e anúncios sobre uma ilha secreta e sinistra. Curiosamente, apesar de sua moral duvidosa, o Comediante decide buscar seu mais corriqueiro bandido nos momentos finais de sua vida, ao invés daqueles que lutaram ao seu lado. Seja por uma identificação do outro lado, ou pelo total descrédito nos heróis, a complexidade no personagem do Comediante ecoa por toda a história, mesmo após sua morte. Em parte, ele poderia ser considerado também um herói, já que luta contra os bandidos e pelo governo americano. Mas constantemente o vemos atuando como uma pessoa de índole completamente negativa, como uma quebra do grande maniqueísmo que permeava as HQs dando novos tons de cinza.

Enfim, Watchmen é uma história completa, onde além de seu universo complexo, somos agraciados com diversas metáforas e citações que conversam com aquilo que presenciamos. Constantemente vemos encartes da banda fictícia Pale Horse (cavalo pálido) que referencia a passagem bíblica “olhei e vi um cavalo pálido; e seu nome que estava nele era Morte, e o inferno o seguiu. E lhes foi dado poder sobre a quarta parte da terra, para matar com espada, e com fome, e com a morte e com os animais da terra.” (Apocalipse 5, 7-8).

Por fim, dentre as citações, a primeira edição traz uma de “Desolation Row”, de Bob Dylan. A canção fala sobre vigilantes protegendo os habitantes de uma área indesejada da autoridade moral. Para Dave Gibbons, a música de Dylan é “a centelha que um dia inflamaria Watchmen”. Aparentemente, ele estava certo.

Pedro Marco

Pedro Px é a prova de que ser loiro do olho azul e com cabelos e barbas longas, não te garantem ser parecido com o Thor. Solteiro, brasiliense e cozinheiro, se destaca como autor de 7 livros, host do Pipocast, membro da Academia de Letras de sua cidade, fundador de Atlética universitária, padrinho da Helena, e nos tempos livres faz 40h semanais como engenheiro civil. Escreve sobre cinema desde que tudo aqui era mato, sendo Titanic seu filme favorito
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