Eu estava no inferno, baby

Marcus Di Bello

em todos os cantos era possível encontrar garotas
exibindo os seus corpos
bundas deliciosas
coxas malhadas
luzes, fumaça, música alta
a lata de cerveja mais cara do rolê
e muitas garotas exibindo os seus corpos
eu estava no inferno, baby!
e eu sentia o cheiro e eu sentia o jogo
e eu sentia o calor e eu sentia o tesão
mas não sentia o amor
então o cheiro virou artificial, o jogo parecia manjado
os corpos gelados e o tesão fingido
um amor fingido
… se não ama, ao menos, finja que ama
elas fingiam bem
e tem aquela que conversa melhor
tem aquela que parece menor de idade
tem aquela muito gostosa
tem aquela que se abre com você e revela um lado incrivelmente sensível
mas no fim elas só querem o seu dinheiro
o dinheiro está acima do tesão, do amor e da sensibilidade
elas só não podem sacar que você está sem grana
não importa se ela falou que você é o cara mais bonito que ela já viu por ali
não importa se ela se emocionou quando você estava beijando sua nuca
e mesmo que você seja o amor da vida dela – e ela compreenda isso
e mesmo que você tenha mexido com o coração daquela mulher
ela só quer o seu dinheiro
ela só não pode sacar que você está sem grana.

Marcus Di Bello

Ator, diretor, dramaturgo, poeta e ser humano. Escreve desde 2006. Influenciado principalmente por Charles Bukowski, Mário Bortolotto, Raymond Carver, Paulo Leminski e Henry Miller. Admira Kafka, Baudelaire, Carlos Drummond de Andrade, Samuel Beckett e Dylan Thomas. Gregório é o protagonista dos contos e uma espécie de alter ego do autor, que mistura passagens autobiográficas e ficcionais.
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