Festival Nova Música: Alice Passos e Antonio Guerra Sexteto embalam o quinto dia

Alan Daniel Braga

Na noite da última terça-feira, dia 23, houve a missa de abertura da Jornada Mundial da Juventude na praia de Copacabana. Mas nem o grande movimento de fim de ano no bairro vizinho – ou mesmo a chuva e o frio – afastou o público da Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema. O quinto dia do Festival Nova Música teve um bom movimento de espectadores encasacados e preparados para apresentações mais leves, em uma noite essencialmente instrumental.

Nos agradecimentos inicias, mais uma vez, o público foi lembrado de que o evento é feito com apoios, amigos e muito amor à música. A primeira atração a ganhar o palco foi Alice Passos. A cantora, que começou a carreira aos 15 anos, se apresentando em casas da Lapa, vem de uma família de músicos e mostra a tradição musical em cada “passo”. A voz é forte, segura, e transparece muita maturidade.

Foto: Sarah Pontes

Foto: Sarah Pontes

O repertório do show, segundo a própria cantora, fará parte do primeiro disco que, se tudo der certo, sairá em breve. Logo na abertura, o samba exaltação “Flor Misteriosa”, de Romildo Bastos e Toninho Nascimento, gravado inicialmente por Elizeth Cardoso, veio mostrar como se daria a seleção musical e o arranjo instrumental, que iniciou os trabalhos contando com cavaquinho, surdo, tamborim, pandeiro, violão e, claro, um toque especial com o saxofone.  Uma multiplicidade instrumental que seguiu por uma hora, com chocalhos, reco-reco, moringa, caxixi, triângulo, clarinete, banjo e outros.

Na primeira conversa com o público, Alice lembrou o show que Mariana Baltar fez no Teatro Rival em junho passado. Durante a apresentação, Mariana cantou ‘Tresvarios’, música de Mauro Aguiar. A palavra significa um estado de delírio, alucinação, mas na música surge como um sinônimo do ‘andar na contramão’. Um “farol no breu”. Alice, então, agradeceu pelo convite e afirmou que considera este um festival tresvariado, já que aposta todas as fichas no que é inédito.

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De mitos a cantos de liberdade, as músicas seguiam com seus temas diversos, até a chegada da participação especial. Emocionada, com alma “conhecedora” do enredo, Alice convocou o premiado compositor e violonista Guinga e interpretou, a voz e violão, três composições de autoria dele – a maioria com o parceiro Thiago Amud, presente na plateia. Em dia de missa, o destaque ficou para “Avenida Atlântica”, um mergulho na paisagem da praia urbana pelos olhos contemplativos e embriagados do poeta. “Deve ser o vinho, deve ser o mar”.

Um poema de Mário Quintana trouxe a banda de volta ao palco. Depois de algumas músicas, a cantora voltou a ficar só com o violão. Desta vez, a homenagem foi a Vinícius de Moraes, com a interpretação de “Poema aos olhos da amada”, que levou os olhos de Alice às lágrimas. Ainda houve espaço para as ótimas “Valsa do violeiro” e “Bordado de rancho” antes do show chegar ao fim com a animada “Jongo de Mãe Preta”. Alice Passos, descalça e relaxada, arriscou uma pequena dança e, realizada, ‘foi-se embora’, abrindo espaço para a atração seguinte.

Foto: Sarah Pontes

Foto: Sarah Pontes

Entre as alterações do intervalo, houve o conserto do projetor de imagens que não funcionou durante a apresentação anterior. E quando o projeto não funciona, o Festival perde um pouco de sua alma.

A segunda atração da noite foi o instrumental Antonio Guerra Sexteto. O “líder” do grupo, que empresta o nome a ele, é como a maior parte das atrações do festival: alguém muito jovem que já não consegue saber se há algum limite entre vida e música. A apresentação o definiu como uma pessoa de ‘coração grande’. Sentado à frente, acompanhado de seu ‘teclado’ e de músicos mais velhos, Antonio Guerra abriu um sorriso para quem estava à frente e atrás e começou o seu ‘Forró de Abertura’, com suavidade. As imagens do telão se encaixavam com o clima do show, atrapalhadas apenas pelo reflexo da luz nos pratos da bateria.

Foto: Sarah Pontes

Foto: Sarah Pontes

A simpatia do jovem, que é compositor de quase todas as canções do espetáculo, mostrou, a todo momento, a felicidade que ele sentia em estar no palco, executando suas músicas e em sintonia com os outros cinco. Em “Jongo Guaratiba”, percussão, bateria e sax soprano deram a densidade do arranjo, enquanto em “Som Profundo”, piano, bateria e saxofone, acompanhados de perto pelo contrabaixo e o violão, apresentaram um jazz com ares bem urbanos. Depois, “Saudade de Pernambuco”, trouxe de volta a brasilidade, variada em pandeiro e atabaque, mostrando o ecletismo do sexteto.

DSCF5814Antonio deu uma pausa no som para trazer o convidado especial, o acordeonista Kiko Horta. Segundo o pianista, um músico que sempre trouxe muito conhecimento e sabedoria. A participação também foi apresentada como uma homenagem a Dominguinhos, que falecera ontem, aos 72 anos, em São Paulo. A primeira música executada, “Bendita Sanfona”, foi composta por Guerra após a participação de Kiko em show da Orquestra Petrobras Sinfônica. O convidado seguiu com a banda por quase todo o show, saindo apenas durante uma música.

A grande vantagem de um espetáculo instrumental é que, quando não há solo, a atenção de cada espectador é que faz o show. E foi assim com o sexteto (quase hepteto). Ora o baterista puxava o foco, com a habilidade nos quatro pratos, ora era a vez do percussionista, com o troca-troca de instrumentos. Ora a atenção estava na dupla de cordas, ora no clarinete, com seu rapidíssimo toque. E, claro, o piano e a sanfona, que juntos, passaram a guiar a festa.

Após a execução da leve “Consciência”, Antônio dedicou à namorada e à família desta a música “Orquídea”, feita para a avó dela. Com o tempo de show ultrapassado, o Antonio Guerra Sexteto finalizou com o alegre frevo “Abraçajaca”, arrancando os aplausos calorosos do público.

Foto: Sarah Pontes

Foto: Sarah Pontes

Ainda hoje, a Casa de Cultural Laura Alvim abre as portas para o sexto dia do Festival Nova Música, com as apresentações de Luíza Salles & Vinícius Castro e da cantora Taís Feijão. Para conferir o horário, o valor e a programação completa do Festival, acesse a página do evento no Facebook ou a matéria anterior do Blah.

A banda de Alice Passos é:
Alice Passos – Voz
Gabriel Menezes – Cavaco
João Camareiro – Violão
Magno Júlio – Percussão
Marcos Thadeu – Percussão
Marcelo Bernardes – Sopro
Participação especial: Guinga
Antonio Guerra Sexteto são:
Antonio Guerra – piano
Alfredo Machado – Violão
André Siqueira – Percussão (e, segundo Antônio, o “Diretor de Clima”)
Ivan Machado – Contrabaixo (e, segundo Antônio, Diretor Musical “da vida”)
Theo Zagare – Bateria
Yuri Villar – Sopro
Participação especial: Kiko Horta
Fotos da Capa: Micael Hocherman
Confira abaixo um pouco da música de Alice Passos e Antônio Guerra Sexteto:

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Alan Daniel Braga

Publicitário e roteirista de formação, foi de tudo um pouco: redator, produtor, vendedor, clipador, operador de som e imagem, divulgador, editor de vídeos caseiros, figurante e concursado. Crítico, irônico e um tanto piegas, é conhecido vulgarmente como Rabugento e usa essa identidade para manter um blog pouco frequentado (Teorias Rabugentas). Também mantém uma página no Facebook (Miscelânea Rabugenta), com a qual supre a necessidade de conhecer músicas, artistas e pessoas novas. Está longe de ser Truffaut, mas gosta de dar voz aos incompreendidos. (Acesse http://teoriasrabugentas.blogspot.com.br/ e curta https://www.facebook.com/MiscelaneaRabugenta)
NAN