Festival Nova Música: Júlia Vargas e Uzoto agitam segundo dia

Alan Daniel Braga

A quarta-feira começou um pouco mais movimentada no Festival Nova Música. Muitos rostos jovens, alguns já conhecidos do cenário musical independente, acompanhavam o evento que, como a produção mesmo anuncia, é feito por amigos, muito no amor.

A primeira atração da noite chegou acompanhada de um time bem articulado e experiente. A princípio, a faixa etária dos músicos parecia ser uma compensação para aquela aparição jovial. Mas a voz que tomou conta do teatro da Casa de Cultura Laura Alvim mostrou o contrário. Júlia Vargas, 23 anos, corpo de bailarina, sorriso e graça de menina, tomou as rédeas do show com o grave e imponente timbre e os toques de percussão de uma mulher decidida. Mostrou que a experiência vem de berço, já que é filha de músicos, e que a estrada para ela começou há um bom tempo. Estrada que hoje é coroada com o lançamento do primeiro álbum pela Sony Digital.

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Foto: Sarah Pontes

Os ritmos eram variados. Tão variados que saímos do país para passear por países da África. Júlia trocava de instrumentos, dançava, se divertia… E tocava pra gente “se divertir com a Júlia Vargas”. Em meio ao repertório pessoal, ela chamou a ‘Solidão’, de Alceu Valença, para quem já abriu show e de quem recebe o aval. Depois, a cantora convocou os primeiros músicos de fora para participarem da festa. O baixista Miguel Dias e o percussionista Lucas Videla, da banda Uzoto, que entraria no palco em seguida, chegaram para tocar “As Horas”, composição de Luli. Em seguida, já sem os músicos, foi a vez de Júlia dar voz às músicas do padrinho musical, Ivan Lins, em composições como “Se acontecer”, parceria de Ivan com Lenine.

Sem dar trégua para os corações, Júlia convocou mais um convidado. Desta vez, a cantora dividiu o microfone com o pernambucano Carlos Posada, do Posada e o Clã, que trouxe uma composição sua para o repertório. Mais uma e outra música, e não demorou para o percussionista Reinaldo Queirós ser convocado a assumir o triângulo em ‘Onde o Xaxado Tá’. Júlia tomou a zabumba e fez aquilo que eu nunca conseguirei fazer (coordenar dois braços em ritmos diferentes e cantar acelerado uma letra com versos como “Todas elas xaxadeira / Xaxa xaxa xaxadeira” e “Chama o macho pro xaxado / Que xaxá sem ter um macho / Nunca deu bom resultado”). Após a troca de instrumentos, Reinaldo continuou no palco para a incursão internacional, com músicas de Cabo Verde e África do Sul, cantadas em dialeto local. Ao fim, Júlia Vargas trouxe estilos, culturas, artistas, tons e mundos diferentes em pouco mais de uma hora de show. A Nova Música pode ser tudo e um pouco mais.

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FOTO: Sarah Pontes

Intervalo. Novo palco montado, com tapetes espalhados. O público voltou ao teatro, a luz caiu e apenas uma sirene alta tomou conta do breu. Imagens das passeatas recentes surgiram no telão. Aplausos efusivos. E começou o som pulsante da Uzoto. Como já havia alertado o apresentador da noite, a banda é formada por oito integrantes jovens, de 20 e poucos anos, e tem muita atitude. A sonoridade é mesmo urbana. Uma mistura de rock, reggae, groove, com ritmos típicos do Brasil, como baião, afoxé, samba e maracatu.

A atração foi, sem dúvida, a mais cênica do Festival, até então. Os figurinos eram diferentes uns dos outros. Um guitarrista de hippie, com faixa na cabeça, o vocalista de preto, com um turbante (solto apenas no final, na música “Cabelos de menino”), e um dos percussionistas usando uma máscara de gás. Outro guitarrista fazia o vocal, num timbre grave que remetia a Noriel Vilela e o “famoso 16 toneladas” (na verdade, lembrou mais o dos Originais do Samba). A iluminação, desta vez, ganhou destaque e a projeção de imagens no telão ganhou mais efeitos pelas mãos de um VJ, que abusou da temática de protesto, com direito a repressão policial e uma eventual máscara de Guy Fawkes.

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

Não é a toa que ainda não veio / Que mania de acaso / Morrer outra vez, pra quê? / Esperto é Jesus / Esperto é Jesus, esperto é Jesus / Isso não é música gospel!” Letras sempre irreverentes e com mensagens diretas. Com três percussionistas, o grupo pontuou a reflexão das músicas com muito ritmo e dança. Mas como o festival acontece em um ambiente de auditório, o público não atendeu aos chamados constantes do vocalista Tyaro Maia de descolar das cadeiras e ganhar os corredores. A inibição diminuiu um pouco a diversão, mas Uzoto não deixou a bola cair e ‘voltou a curtir’.

O show seguiu e a banda chamou o convidado especial. Pai de um dos integrantes, o guitarrista e cantor Toni Costa, que tem Caetano, Gal e Moraes Moreira no currículo e que hoje toca com a Banda Moinho, subiu ao palco para mais uma música engajada. Ao fim, Toni deixou sua mensagem: ‘- O Brasil tá precisando arejar!’

Tyaro Maia ainda tentou mais uma vez chamar alguém para dançar. Desceu do palco, apontou pra uma, pra outra e puxou uma terceira. Mas a inibição era realmente grande. A interação da banda com a plateia só ganhou mais graça quase no fim do show, com a versão para a música de Rogério Skylab, “Você é feia”. O grupo todo pareceu se divertir ao vir à frente para apontar para os feios. E foi assim, com despojamento, diversidade musical e muito conteúdo que Uzoto conquistou mais uns e outros seguidores.

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

O Festival da Nova Música dará um tempo nas apresentações e volta na terça-feira que vem, dia 16, com os shows de Natasha Llerena e da banda Pietá. Na quarta-feira, dia 17, tem apresentação das bandas La Vereda e Biltre. Para conferir a programação completa do Festival, acesse a matéria anterior do Blah ou a página do evento no Facebook.

Banda de Júlia Vargas:
Alex Merlino – Bateria / Percussão
Jander Ribeiro – Viola elétrica
Marcelo Bernardes – Clarone/ Flauta/ Sax
Nando Vásquez – Baixo
Rodrigo Garcia – Violão / Direção Musical
Mais informações sobre a cantora no site oficial ou na página do Facebook.
Uzoto são:
Artur Pedrosa – Bateria
Diogo Viola– Guitarra
Leon Miguel – Percussão
Lucas Videla – Percussão e voz
Marcos Padilha – Guitarra e voz
Miguel Dias – Baixo e voz
Pedro Amparo – Percussão
Tyaro Maia – Voz
Fotos de Divulgação: Micael Hocherman
Mais informações sobre a banda na fan page ou no perfil do Facebook.
Confira um pouco da música de Júlia Vargas e Uzoto:

Alan Daniel Braga

Publicitário e roteirista de formação, foi de tudo um pouco: redator, produtor, vendedor, clipador, operador de som e imagem, divulgador, editor de vídeos caseiros, figurante e concursado. Crítico, irônico e um tanto piegas, é conhecido vulgarmente como Rabugento e usa essa identidade para manter um blog pouco frequentado (Teorias Rabugentas). Também mantém uma página no Facebook (Miscelânea Rabugenta), com a qual supre a necessidade de conhecer músicas, artistas e pessoas novas. Está longe de ser Truffaut, mas gosta de dar voz aos incompreendidos. (Acesse http://teoriasrabugentas.blogspot.com.br/ e curta https://www.facebook.com/MiscelaneaRabugenta)
NAN