Festival Nova Música: Juliano Rabujah e Marcelo Duani iluminam a sétima noite

Alan Daniel Braga

A última semana do Festival Nova Música começou com um movimento morno na Casa de Cultural Laura Alvim. O frio continuou, mas a chuva da semana passada deu uma trégua. Como anunciado no começo dos shows, os cantores programados tinham o mesmo diferencial: os dois são radicados no Rio. Nenhum deles nasceu na cidade, mas ambos fizeram dela um palco para vida e carreira e já estão misturados no movimento musical que inspirou a criação do evento.

O primeiro a se apresentar veio de Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, mas passou também por Viçosa, Manaus, Vitória… Por um tempo, Juliano Rabujah fez parte do trio Tabacarana – com Andrey Junca e Thiago Vieira – e passou também por países da Europa, até rumar para a carreira solo e lançar o primeiro disco, “O que meu samba tem”, sob a produção de Rodolfo Simor. O jovem viajante veio para o Rio. Os anos passaram, outras composições vieram, e, assim, a vontade de um segundo voo. Foi aí que o cantor e compositor aproveitou o convite recebido para o festival para fazer deste show o pré-lançamento de seu segundo disco, o EP “Quarto e Sala”.

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O repertório trouxe músicas dos dois discos. No início, vieram as músicas mais antigas. “O que meu samba tem”, a primeira a ser executada, já deu o recado do que estava por vir: uma voz grave embalada por guitarra, baixo, bateria e efeitos eletrônicos. Com suingue meio misturado, o ‘samba’ do homem de sapato vermelho tem arranjos pop. A voz, por vezes, saía abafada, prejudicando um pouco o entendimento das boas letras das canções.

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Depois da segunda música, “Suma”, Rabujah chamou a primeira participação especial, o guitarrista Gustavo Macacko, para solar e dar mais força à bem humorada “Cleyton Cult”. Macacko deixou sua marca e passou a bola para a banda, que emendou uma releitura de “You don’t know me”, de Caetano Veloso, e a lírica “O Sonho de Maria”. A segunda participação especial da noite veio com a música “Sou Ninguém”, que ganhou movimento e graça com a presença e a voz de Juliana Linhares, da banda Pietá, que já fez festa no Nova Música.

O repertório novo começou com “A moça do café”, que trouxe um forte texto declamado pelo cantor. Uma pitada de Racionais na eclética influência do artista, que também prestou homenagem à Jorge Ben em “Nada que mais”, chorando e vibrando com “Mas que nada”. O cantor agradeceu a presença de todos, lembrando o quanto é importante a presença de cada um e a falta que cada pode fazer. Na sequência, para agitar um pouco mais, uma nova música na voz de Bruno Monteiro, a terceira participação especial.

Quase no fim do show, Rabujah acendeu a luminária que ficou o tempo todo ao seu lado. Em tom de brincadeira, ele informou que era pra estar acesa desde o começo, como parte do cenário. “E eu voltei três vezes em casa só pra pegar isso…” O show terminou ao som da animada “Eu, você e Bebu”, do novo disco. “Sim, era exatamente isso que eu queria dizer…” E disse. Recado dado (O disco ainda será lançado e, a princípio, disponibilizado apenas em meio digital. Logo depois, sairá o físico). E o inspirado Juliano Rabujah deixou o palco feliz, com a presença de parentes e amigos na plateia.

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O intervalo veio com muitas mudanças de palco. Saem luminária, bateria, baixo e guitarra, entram percussão, teclado, violões, trompete e nova guitarra. A volta do intervalo, no entanto, trouxe menos espectadores. Azar de quem foi embora antes da hora.

Marcelo Duani nasceu em Porto Alegre, em uma casa musical, visto que foi o gosto dos pais e irmãos mais velhos que levaram o cantor e compositor para a vocação e a estrada. O início da trilha foi como integrante de um grupo de samba. Com a bagagem mais cheia, decidiu seguir como cantor solo e, no decorrer de mais de dez anos, gravou três discos: “Ser Feliz”, produzido por Alexandre Rodrigues; “Pó de Pimenta”, produzido por Renato Mujeiko; e, já no Rio de Janeiro, lançou “Filho de Xangô – Samba Exportação”, também produzido por Mujeiko e que conta com a participação de artistas como Paulo Calasans, Gabriel Moura, George Israel, Mu Chebabi, entre outros.

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A voz grave abriu o show acompanhada apenas do violão do próprio cantor. O timbre, as composições autorais e a sonoridade iam, música a música, remetendo a diversas fontes. O cantor deu o boa noite logo depois da primeira música e convidou então aqueles que o acompanhariam pelo espetáculo adentro. Uma percussão e um piano foi o que bastou para o palco ficar festivo.

Eu, ouvinte desavisado, estava lá tentando encontrar uma identificação para Duani. Besteira, eu sei. Num primeiro momento, veio a óbvia comparação com Seu Jorge, por estilo e timbre. Depois pensei, é um pouco além. É Farofa Carioca. E eis que o cantor apresentou a música que acabara de executar: “Essa é ‘Até Mais’, música que fiz com Gabriel Moura”. Ah, tá. Não estou tão errado assim.

DSCF6121Duani, então, pegou a guitarra e convocou ao palco a primeira participação especial de seu show, o iluminado trombonista Marlon Sette, que subiu ao palco para dar mais brilho à música “Luz”. O trio principal seguiu com “Filho de Xangô”, música que dá nome ao recente disco. Destaque para o percussionista e sua incrível cuíca de boca. Depois, foi a vez da forte presença de Sistah Mo Respect, representante do rap carioca, que entrou de surpresa no meio de uma música “romântica”: “Tô com saudade de você…” “Tô com vontade de te procurar…”.

Dois momentos tiveram destaque antes do terceiro convidado: “Mas que nada”, que foi puxada com a participação ainda tímida da plateia, provando que a noite era mesmo de Ben(jor), e “Samba Exportação”, outro destaque do novo trabalho de Duani. Em seguida, a Casa de Cultura Laura Alvim ganhou mais cor e mais animação com a presença única do cantor e compositor Macau, que deixou o público mais extrovertido após “O amigo de Nova Iorque”, saindo sorridente e elogioso. Depois de uma ou outra música, já quase no fim do show, Duani chamou seu último convidado, o produtor musical, cantor e compositor Mu Chebabi (“um” que o corretor ortográfico não aceita como Mu), que ficou responsável por mandar o rap de “Tropical”, canção exaltação do Rio.

Quando tudo parecia ter chegado ao fim, o agradecido e agraciado Marcelo Duani, músicos e convidados ainda proporcionaram um dos mais animados e emocionantes momentos do festival ao cantar, em coro, “Olhos Coloridos”, a composição mais famosa de Macau. Com um sorriso largo, o veterano compositor – que disse ser constantemente chamado de “negro lindo” – ouviu Chebabi enaltecer a importância da canção… Com a ajuda dela, o negro hoje é considerado lindo. E, juntos, negros, brancos e mulatos embalaram e congregaram a plateia, lembrando que somos todos brasileiros. Todos iguais. Ou como disse Macau, somos gente, somos humanos.

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A primeira edição do Festival Nova Música termina hoje, com os shows de Mohandas e Choque do Magriça. Para conferir o horário e o valor, acesse a página do evento no Facebook ou a matéria anterior do Blah.

A banda de Juliano Rabujah é formada por:
Filipe Leite – Bateria
Juliano Rabujah – Voz e guitarra
Max Dias – Baixo
Participação especial:
Brunno Monteiro
Gustavo Macacko
Juliana Linhares (Pietá)
Mais do trabalho de Juliano Rabujah seguindo a página cantor no Facebook.
A banda de Marcelo Duani é formada por:
Bebel – Percussão
Edu Oliveira – Piano
Marcelo Duani – Voz, violão e guitarra.
Participação especial:
Macau
Marlon Sette
Mu Chebabi
Sistah Mo Respect
Mais do trabalho de Marcelo Duani no site da cantor ou na fan page do Facebook.
Fotos da Capa: Beth Amaral.
Confira abaixo um pouco da música dos participantes da noite:

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Alan Daniel Braga

Publicitário e roteirista de formação, foi de tudo um pouco: redator, produtor, vendedor, clipador, operador de som e imagem, divulgador, editor de vídeos caseiros, figurante e concursado. Crítico, irônico e um tanto piegas, é conhecido vulgarmente como Rabugento e usa essa identidade para manter um blog pouco frequentado (Teorias Rabugentas). Também mantém uma página no Facebook (Miscelânea Rabugenta), com a qual supre a necessidade de conhecer músicas, artistas e pessoas novas. Está longe de ser Truffaut, mas gosta de dar voz aos incompreendidos. (Acesse http://teoriasrabugentas.blogspot.com.br/ e curta https://www.facebook.com/MiscelaneaRabugenta)
NAN