Festival Nova Música: La Vereda e Biltre alegram o quarto dia

Alan Daniel Braga

A quarta noite do Festival Nova Música começou mais morna que a anterior, já que o movimento foi menor na Casa de Cultura Laura Alvim. No entanto, o ânimo da produção não diminuiu e a alegria em cima do palco não foi em nada afetada.

Foto: Sarah Pontes

Foto: Sarah Pontes

A primeira banda a subir no palco foi apresentada como um Pop que preza pela qualidade. Mas, ao se apresentar, ela mostrou que vai além. La Vereda é uma reunião de amigos cariocas que joga diversos sons na panela para cozinhar sua música. Entre os temperos, pode-se acrescentar uma pitada de música latina, outras de Folk ou Jazz, uma e outra balada e uma boa porção de “música dançante” (Funk, Groove, Rock N´Roll). E assim, coloca-se no forno a receita de uma banda que pode se tornar, para muitos ouvintes, um desses “casos de afeto gratuito”.

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A rosa flutuando no teto e os pedestais dos microfones com ornamentações coloridas davam a intenção da banda logo no começo do show: cor e festa, sem perder a sutileza. Com o tempo, ficou claro que a carta da manga é poder misturar e fazer sim um som mais Pop, mas sem descuidar das letras e sem se tornar mais uma banda no estilo “mexe a cadeira”.

A dupla de cantores mostrou afinação, tanto na voz quanto no jogo de cena. Por vezes cantaram juntos, noutras um saía para o outro ter o seu momento. Ela, quase sempre, com as músicas mais lentas, ele com as mais agitadas. Em determinado momento, uma balada me remeteu à Marina (Lima) da década de 80. Talvez, pelos teclados. Depois, o Pop Rock parecia muito os feitos por bandas da década de 90. Com La Vereda, mesmo sem querer (por querer), eu viajei no meu tempo musical.

No repertório, além das muitas originais, coube música incidental (um rabicho) de Mercedes Sosa, canção em inglês (a jazzística “Tulipa´s Song)”, além de uma versão suingada e cheia de variações para “Como nossos pais”, de Belchior, imortalizada por Elis Regina. Destaque para a energia boa de “Nó de Forró” e as irreverências presentes em letras como “Caqui”.

O vocalista anunciou o fim do show em uma música cheia de ditados populares, em um momento que ele e a vocalista brincavam em um jogo cênico, sem que ela cantasse. Mas é claro que o show não terminaria assim… E a dupla voltou a cantar junta em “Amanheceu”, enquanto o videoclipe da música era exibido no telão. E assim, La Vereda botou o pé na estrada, deixando o seu jeitinho bom, a sua canção.

Foto: Sarah Pontes

Foto: Sarah Pontes

Veio o intervalo e a troca de cenário. A rosa no teto deu lugar a uma banana. Os enfeites coloridos nos pedestais deram lugar a cachos de banana. Os músicos da banda seguinte, à vontade, de bermuda, camisa e meião, chegavam ao palco para a troca de instrumentos. Mas onde está a bateria ou a percussão? Batidas de aparelhos eletrônicos tomavam o teatro, enquanto os demais instrumentos eram testados: um baixo, uma guitarra e um trompete. O terceiro sinal tocou e os músicos continuavam no palco. Alongamentos. Brincadeiras. “Pode começar?” “Dá o play?” “Quero sair às 10!” E os integrantes da Biltre, enfim, foram convencidos a deixar o palco para a devida introdução da banda.

Foto: Sarah Pontes

Foto: Sarah Pontes

O grupo tem como marcas o lado brincalhão, a versatilidade e, principalmente, uma sonoridade muito dele. O cuidado com os equipamentos eletrônicos é justificável porque são estes que fazem a diferença. A variedade de talentos é explorada de todo jeito: Nenhum deles toca um instrumento só. Com exceção do trompete, nenhum instrumento é de um só. E todos cantam. Uns variam menos, outros mais, mas o que importa é não ser a mesma banda o tempo todo.

DSCF5707“Nós somos biltres, todos nós, seres humanos…Vamos cantar pra ver lavar o coração! ” E a máxima, aliada ao “vamos dançar”, tomou conta do palco pelos braços, pernas e cabeças dos cinco jovens biltres. Em determinado momento, uma voz veio da plateia, que reclamou do volume baixo dos microfones e do “batidão”. Tudo foi acertado e o show seguiu com músicas como “Piranha”, que, com levada nortista e direito a uma pequena coreografia, diverte com uma letra simples.

Depois, com direito ao clipe e a dancinhas no estilo de “Lotus Flower”, uma das influências da banda vem ao palco na canção que desabafa: “- Eu queria ser o Radiohead”. E tudo é cantado com a satisfação de ouvir, momentos antes, o grito de um fã: “- Vocês são melhores que o Radiohead!”. O repertório seguiu faminto, com churros (O amor é como um churros / É tão bom no primeiro pedaço / Mas depois é um esforço danado / Pra espremer um docinho do fundo), biscoitinho de castanha (do Pará – num clima romântico, a la Tim Maia) e 3 coxinhas (e às vezes, quando dá, um Açaí! – a trágica sina do trabalhador brasileiro). Ainda houve espaço para a versão de “Tudo que você podia ser”, de Lô Borges e Márcio Borges, gravada por Milton Nascimento.

Quase no fim, houve distribuição e promoção dos produtos da banda: a camisa, o ‘BananoLed’ e o ‘BananoDrive’. Os integrantes chamaram o público para interagir em uma música sobre o rei do Pop (ele mesmo, que “era preto, ficou branco e agora é cinza”) e, na última música, “Cobra Coral”, parte dos espectadores já dançava em um canto do teatro. Pela primeira vez no festival, houve tempo para o bis e o Biltre, ‘com muito gosto’ e diversão, encerrou a segunda semana de festival.

Foto: Sarah Pontes

Foto: Sarah Pontes

O Festival Nova Música dá mais uma respirada e volta na semana que vem com os shows de Alice Passos e de Antônio Guerra Sexteto, na terça-feira, dia 23, e de Luíza Salles & Vinícius Castro e da cantora Taís Feijão, no dia 24, quarta-feira. Para conferir os horários, o valor e a programação completa do Festival, acesse a página do evento no Facebook ou a matéria anterior do Blah.

La Vereda são:
Daniel Sili – Bateria
Diogo Sili – Guitarra
Guilherme Marques – Teclado
Henrique Botkay – Voz
Julia Gorman – Voz
Pedro Silveira – Baixo
Mais informações sobre a banda no site oficial ou na fan page do Facebook.
Biltre são (melhor não especificar tudo o que cada um toca pra não me perder):
Arthur Ferreira
Claudio Serrano
Diogo Furieri
Vicente Coelho
Pablo Tupinambá
Mais informações sobre a banda no site oficial ou na fan page do Facebook.
Fotos da Capa: Micael Hocherman
Confira abaixo um pouco da música das bandas La Vereda e Biltre:

Alan Daniel Braga

Publicitário e roteirista de formação, foi de tudo um pouco: redator, produtor, vendedor, clipador, operador de som e imagem, divulgador, editor de vídeos caseiros, figurante e concursado. Crítico, irônico e um tanto piegas, é conhecido vulgarmente como Rabugento e usa essa identidade para manter um blog pouco frequentado (Teorias Rabugentas). Também mantém uma página no Facebook (Miscelânea Rabugenta), com a qual supre a necessidade de conhecer músicas, artistas e pessoas novas. Está longe de ser Truffaut, mas gosta de dar voz aos incompreendidos. (Acesse http://teoriasrabugentas.blogspot.com.br/ e curta https://www.facebook.com/MiscelaneaRabugenta)
NAN