Festival Nova Música: ‘Luiza Sales & Vinícius Castro’ e Taís Feijão esquentam a sexta noite
Alan Daniel Braga
A noite da última quarta-feira foi maltratada por uma chuva torrencial e um frio de congelar os ossos no Rio de Janeiro (congelar ossos de cariocas). Em função disso, menos espectadores conseguiram comparecer à Casa de Cultura Laura Alvim para a sexta noite do Festival Nova Música. Nada que fizesse o show parar, embora, pela primeira vez, a abertura tenha atrasado alguns minutos. (Na verdade, para este que vos escreve, foi providencial).
A primeira atração a subir ao palco foi uma dupla. Luiza Sales e Vinícius Castro são enlaçados pela vida. Cantores, cada um tem seu trabalho solo, com discos gravados e estradas distintas. No entanto, a música de um cimenta a estrada do outro. Parceiros em diversas composições e em alguns projetos, a dupla foi convidada pelo festival e decidiu fazer um show inédito e único. Inédito, por incluir canções que ainda não apresentaram ou que nunca cantaram juntos em público. Único, já que é apenas um encontro para celebrar a parceria e não há intenção de continuidade, principalmente, porque Luiza está de malas quase prontas para estender sua estrada a terras estrangeiras.
O show foi suave, tranquilo, levado, quase o tempo todo, apenas com voz e violão. De início, eles mostraram cumplicidade ao cantar frente a frente, um jogando a peteca para o outro. Na lírica “Barco”, gravada por Luiza no disco “Breve Leveza”, ela era a direção, ele o motor. Depois, ele ficou na diagonal, um pouco para ela, um pouco para o público, e cantou “Segundas Intenções”, música que está no disco “Jogo de Palavras”. Aí sim, ela se levantou, deu boa noite e cantou de pé. E a partir deste momento os dois ficaram totalmente abertos para a plateia.
O repertório foi autoral – dele, dela ou dos dois. Por vezes, como em “Bonito” – inspirada na sonoridade argentina -, a dupla busca uma parceria de fora. Neste caso, parte da letra é cantada em espanhol, graças ao toque do cantor e compositor argentino Marcos Lozano. Outras vezes, a parceria surge “na comunhão do palco”, como explicou Vinícius. Pessoas que se entendem no olhar e dividem os sons e as sensações. E foi para comungar e colocar mais cordas em “Quebrupasso” que a dupla convidou o multifacetado e onipresente ator, cantor e músico Gustavo Pereira.
O trio seguiu em harmonia durante a execução de “Linha do Tempo”, música que Luiza interpretou no projeto “Som na Sala”, uma ideia de Vinícius, que recepcionou amigos para a produção ‘informal’ de vídeos musicais na sala de sua casa. O resultado pode ser visto no Youtube.
Gustavo saiu de campo para que a dupla, novamente sozinha, interpretasse a única música que não era de nenhum dos dois: “Leve” de Yuri Villar e Pedro Mangia. Luiza, mais solta, pediu então para ver a plateia, deu um “alô, mamãe” e pediu que todos se juntassem ao coro da simpática “Pétala”. Vinícius seguiu dando boas vindas a duas músicas inéditas, entre elas a curiosa “Procura-se”, feita para a cachorrinha Juju, que um dia figurou em cartazes presos pelas ruas de Botafogo. E com bom humor, Luiza Sales e Vinícius Castro seguiram até o final desta celebração, agradecendo a presença de todos, mesmo com o “frio polar”, e terminando mais animados, ao som das palmas ritmadas de “Canções de amor”.
O intervalo entre os shows foi mais rápido, para compensar o pequeno atraso de programação. Não demorou muito e Taís Feijão e sua banda chegaram aos olhos do público, tímidos em postura, mas com uma sonoridade muito direta e intensa.
Vencedora do Festival de Música Instrumental da Petrobrás em 2010 e com um EP gravado em 2012, Tais Feijão é dessas que não mostra muita dificuldade para cantar. A voz sai fácil e potente. Mas, logo na primeira música, ela já demonstra que não é apenas mais uma vozinha bonita. Taís é plural e tem um toque de muitos. Com sua guitarra em punhos, a cantora lidera a banda e expõe suas melodias, letras, ideias e ritmos. Embora com mais suingue, a cantora faz um som que, como os colegas do show anterior, só pode se definir como MPB, por caminhar em diversas praias e beber de muitas fontes.
Também com um repertório autoral, o show começou com a música “C” (cifra para Dó). O primeiro verso que registrei tinha um quê de ironia: “Às vezes, o silêncio sobrepôs à voz”. Não no caso dela, pensei. E logo Taís deu um rápido ‘boa noite’, agradecendo por todos estarem compartilhando “esse momento incrível” com ela. E assim ela seguiu com suas baladas, balanceadas, choradas, sambadas, soul-jazzeadas misturas musicais. As conversas com a plateia eram apenas para o necessário. As pausas, para goles de água. E mais versos iam sendo registrados: “O acaso me convém.” (de “O Trem”, parceria com Anna Heusele – clipe abaixo); “Um samba feito para ninguém ouvir.” (de “Num Chorinho”, parceria com Fernanda Macedo); “Se você não quis sobremesa, não leve a mal, minha fraqueza está num pedaço de pudim” (essa eu não sei qual é, mas me identifiquei, por algum motivo).
Em determinado momento, minha cabeça já estava longe e não parava de pensar o quanto Taís é síntese de sua eclética geração. Os muitos jovens que levam a música a sério e, embora tenham suas identidades – Taís Feijão que é diferente de Luiza Sales, que é diferente de Vinícius Castro – navegam no mesmo mar. Uma geração diferente daquela que se firmou em grandes gravadoras. Uma geração que já não fica tão marginal e consegue, graças à tecnologia, fazer o seu espaço. E permanece viva por ser realmente uma geração. Um grupo. (E tá aí o Festival Nova Música para mostrar essa aproximação). Não sabemos para onde a geração está indo, mas, por enquanto, é muito bom poder ouvi-la. Lembrei então do pessoal do Sarau, projeto musical registrado em DVD que segue a mesma premissa. E foi nesse momento que Taís apresentou sua participação especial, o cantor, compositor e membro do Sarau, Daniel Chaudon. (O acaso me convém).
Daniel veio da plateia. Como em toda apresentação, aproximou-se com carinho e emprestou sua afinação para mais uma composição da cantora. “Tô com saudade de mim”, cantavam juntos. E num beijo certeiro, ele se despediu dela e voltou à plateia. O show seguiu com curumins e pós de pedra, com caras que têm caras de quem quer maltratar você, e Taís Feijão se despediu da mesma forma que chegou… Com uma voz que sobrepõe o silêncio.
O Festival Nova Música dá mais uma parada e volta na semana que vem, com as últimas apresentações. Na terça-feira, dia 30, rolam os shows de Juliano Rabujah e Marcelo Duani e na quarta-feira, dia 31, é a vez de Mohandas e Choque do Magriça. Para conferir o horário, o valor e a programação completa do Festival, acesse a página do evento no Facebook ou a matéria anterior do Blah.
Show 1
Luiza Sales – Voz
Vinícius Castro – Voz e Violão
Participação especial: Gustavo Pereira
Mais do trabalho dos artistas no site de Luiza Sales e no site de Vinícius Castro.
Show 2
A banda de Taís Feijão é formada por:
Gustavo Tibiriçá – Teclados
Marfa Kourakina – Baixo
Pepê Santos – Bateria e Produção Musical,
Taís Feijão – Voz e Guitarra
Participação especial: Daniel Chaudon
Mais do trabalho de Taís Feijão no site da cantora.
Fotos da Capa: Beth Amaral
Confira abaixo um pouco da música de cada um dos participantes da noite:
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