Festival Nova Música: Natasha Llerena e Pietá festejam no terceiro dia

Alan Daniel Braga

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17 de julho de 2013

A segunda semana do Festival Nova Música, projeto que busca promover as novas sonoridades do cenário independente carioca, começou com mais movimento pelos jardins e corredores da Casa de Cultura Laura Alvim. Por ser uma vitrine para o novo, a maior parte dos espectadores foi, mais uma vez, formada por jovens.

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Foto: Sarah Pontes


A terceira noite foi aberta pela cantora e compositora Natasha Llerena. Apesar dos 21 anos, a trajetória da artista é longa, com participação em diversos festivais, shows, gravações e performances. De shows em quatro edições do Back2Black (além de participação na primeira edição do festival em Londres), passando por atuação em peça infantil (quando criança), participação em coletivos de dança e composição, e chegando até a performances no trem da Estação Leopoldina, Llerena trilha um caminho diverso, mas, como mostrou em seu show, sabendo onde quer pisar.
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Formado basicamente por composições próprias, o show foi um dos mais serenos do festival. Músicas leves e um clima de paz, que figurou também na projeção de imagens do festival, que usou da paisagem do próprio Rio de Janeiro para dar o tom. Logo na terceira música, a cantora deixou de lado a dança e a liberdade da interpretação inicial e tomou do violão para mostrar mais uma faceta. O guitarrista foi ao violino e assim o clima seguiu.
Fé e busca eram os temas mais recorrentes nas primeiras músicas. O sonho e os sons entraram em cena com a convocação da participação especial, o cantor e compositor Rodrigo Maranhão. Natasha explicou que o encontro entre os dois se deu durante um sarau, quando o “Sonho” de Rodrigo inspirou a cantora a compor, junto com Lucas Noleto, letrista e parceiro habitual, a canção “Sons de Maranhão”, uma homenagem e uma extensão. Após a execução do som, a trupe de Llerena levantou poeira e deixou o dueto sozinho, para sonharem juntos.
A voz da cantora trouxe os cantores de volta, mas logo ela voltaria a um momento “um banquinho e um violão”. Foi nesta hora que Natasha agradeceu. Filha do diretor do festival, Felipe Llerena, a cantora foi também produtora do evento, que, segundo a própria, está cumprindo o objetivo de unir e fortalecer as diversas vozes que hoje se encontram espalhadas pelo cenário musical.
Depois disso, Natasha cantou seus rabiscos de lembranças e medos infantis em uma canção que fez em parceria com Alberto Americano, da banda Novíssimos. A música terminou ‘a cappella’, trazendo os músicos de volta para um dos momentos de maior destaque do show. A voz, de repente, ficou mais apurada, mais solta, e nos levou “A Navegar”. A liberdade, a nau, o mar. E para completar a diegese, imagens praianas que transportavam os músicos para a beira-mar.
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Foto: Sarah Pontes


O show seguiu com direito a canto ajoelhado, percussionista se virando em três e música em tom do crioulo cabo-verdiano, ‘a lembrar’ Cesária Évora. E num passo largo para alcançar a plateia, Natasha Llerena se despediu deixando uma melodia presa na memória durante o intervalo.
A segunda atração da noite veio com adereços e contornos: tijolos adornados com plantas e flores, espalhados pelo chão; uma mesa no centro do palco, com diversos objetos; e uma luz forte, destacando o lilás do telão, que trazia, em letra estilizada, o nome da banda – Pietá.
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Foto: Sarah Pontes


Os músicos não vieram da coxia. O terceiro sinal tocou e eles ficaram por ali, no escuro, esquentando, afinando e se abraçando. Após o anúncio oficial da banda, um dos integrantes leu o poema de abertura (A casa está aberta, leve o que quiser…) e a vocalista emendou com as boas vindas: Confortáveis, de pé no chão… Façam companhia pra gente.
A musicalidade da banda é muito própria. Formada por três alunos de uma Faculdade de Teatro, que já tinham carreiras musicais distintas, a banda traz um repertório inspirado em diversos ritmos brasileiros. A vocalista, nascida em Natal-RN e dona de uma potente projeção, dá o sotaque, que, em algumas composições do grupo, é acompanhado de uma linguagem regional. Mas as músicas mudam de tema e prosódia rapidamente, assim como os participantes mudam de posição. O violeiro vai para a percussão, o percussionista vai para o violão. O violeiro canta, enquanto a vocalista dança. E assim vão construindo seu festejo.DSCF5554
O show contou com duas participações quase fixas, quase que dentro, agregando sopro e as cordas de um baixo acústico à “cozinha” e trazendo mais leveza a alguns arranjos. Com o passar das músicas, com suas letras fortes, fomos entendendo a presença dos objetos em cima da mesa, perto da vocalista. Uma caixinha de música tocou para encantar. Arroz surgiu de dentro de um bule e foi jorrado em uma xícara, que logo o espalhou pelo chão. E o samba que seguiu, transbordando palavras de ordem, veio alertar: se quer cruzar, vem sem medo de avoar! Depois, o bom humor da música que narra o quanto é bom morar na Lua e que diz que lá, a ordem geral é amar. E aos poucos, letra a letra, o público foi descobrindo o universo, o discurso e a irreverência de Pietá.
A apresentação dos integrantes da banda foi feita pela vocalista com um pregador de roupa no nariz (E eu tive que pesquisar alguns nomes depois). Uma música depois, a banda, de óculos escuros, apresentou uma versão performática para “Neguinho”, de Caetano Veloso. Um homem com uma máscara de porco entrou pela plateia com uma arma. No palco, ele se desarmou. Tirou a máscara, o macacão e se besuntou de sangue. Forte experimentação.
Depois, os convidados saíram e o trio ficou sozinho no palco. Entre as músicas deste momento, destaque para “Justino”, que terminou com a vocalista empunhando uma peixeira. Com a volta dos músicos, nova experiência. Outro poema foi retirado de um livro da estranha mesa. Na verdade, um ‘livro de receita’, que foi finalizado com a mistura de cachaça, pimenta e cebola dentro de um liquidificador. E o som da máquina se tornou, então, parte da música. Com alegria e tendo um dos shows mais ovacionados do festival, até então, o Pietá encerrou a terceira noite do festival com uma máxima: ‘Festejo e fé. Festa não tem hora para acabar. Reza para a vida durar o que puder!’
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Foto: Sarah Pontes


E a festa segue! Hoje tem mais Festival Nova Música, com os shows das bandas La Vereda e Biltre. Para conferir a programação completa do Festival, acesse a página do evento no Facebook ou a a matéria anterior do Blah.
Banda de Natasha Llerena:
Dalus Gonçalves -guitarra, violino
Magno Souza – Baixo
Michel Nascimento – percussão / bateria
Natasha Llerena -Voz e violão.
Mais informações sobre a cantora na fan page do Facebook.
Pietá são:
Frederico Demarca – Violão e percussão
Juliana Linhares – Voz
Rafael Lorga – Percussão e violão
Participações Especiais:
Joana Queiroz – Sopro
Marcelo Müller – Baixo acústico
Mais informações sobre a banda na fan page do Facebook.
Fotos da Capa: Micael Hocherman
Confira um pouco da música de Natasha Llerena e Pietá:

Alan Daniel Braga

Publicitário e roteirista de formação, foi de tudo um pouco: redator, produtor, vendedor, clipador, operador de som e imagem, divulgador, editor de vídeos caseiros, figurante e concursado. Crítico, irônico e um tanto piegas, é conhecido vulgarmente como Rabugento e usa essa identidade para manter um blog pouco frequentado (Teorias Rabugentas). Também mantém uma página no Facebook (Miscelânea Rabugenta), com a qual supre a necessidade de conhecer músicas, artistas e pessoas novas. Está longe de ser Truffaut, mas gosta de dar voz aos incompreendidos. (Acesse http://teoriasrabugentas.blogspot.com.br/ e curta https://www.facebook.com/MiscelaneaRabugenta)
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