Medicine at Midnight

Foo Fighters aposta no groove em Medicine at Midnight

Guilherme Farizeli

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18 de fevereiro de 2021

Disco novo do Foo Fighters na área! Tirei uns dias para ouvir o trabalho com bastante atenção. E, dessa forma, escrever uma resenha à altura da ocasião. A saber, Medicine at Midnight é o décimo álbum de estúdio da banda. Com mais de 25 anos de carreira, não deve ser fácil se manter inventivo, curioso com relação ao próprio som. O FF nunca quis se repetir. É verdade que nem sempre conseguiu inovar, entretanto, não foi por falta de tentativa.

A banda já passou por muitas fases. E, cada uma delas têm características únicas. Nem sempre a abordagem seguinte é a preferida pelos fãs, mas a mudança parece inevitável para o grupo. De um primeiro álbum com vibe de garagem para um fenômeno como The Colour and the Shape, garoto-propaganda do que a gente conhece como post-grunge. Dali para um There Is Nothing Left to Lose, capaz de juntar canções como “Stacked Actors” e “Learn to Fly”. Ou composições de alto nível como “Generator” ou “Aurora”. Enfim, o Foo avança, não importa muito como.

Quase 10 anos desde o último trabalho marcante

Em 2011, mais um desses discos incríveis – Wasting Light. Que conseguiu atingir e atrair uma nova geração de fãs. Desde então, no entanto, a banda parecia um pouco. Sonic Highways e Concrete and Gold não atingiram o nível de composição e produção de seu antecessor.

Eis que então, finalmente, chegou Medicine at Midnight. Groove é palavra de ordem do álbum. Entretanto, até na comparação com obras anteriores, o álbum também tem melodias mais inventivas. Ouço uma diferença maior entre uma canção e outra, sem a repetição exagerada da “fórmula Foo Fighters”.

Talvez inspirados em seus maiores ídolos, os Foo parecem ter aprendido lições importantes ensinadas pelo Queen em seus álbuns mais inventivos, Hot Space (1982) e The Game (1980). O álbum soa mais adulto e a produção soa impecável. E sim, é importante ressaltar isso porque fenômenos como One by One e In Your Honor são bem mal produzidos. Ponto para o produtor Greg Kurstin, que, segundo a banda, teve um pouco mais de autonomia em relação aos últimos trabalhos.

Medicine at Midnight soa mais natural do que nunca

Em termos de sonoridade, Medicine at Midnight evoca os tempos áureos dos álbuns lançados pelo FF nos anos 90. Baixo, bateria, guitarra e voz estão em destaque, deixando os outros detalhes em segundo plano, como deve ser. Ele tem a capacidade de soar atual, ao mesmo tempo em que nos remete a um sentimento de pertencimento muito agradável na discografia da banda.

O disco abre com a incrível “Making a Fire”, que conta com o melhor timbre de baixo da discografia do Foo Fighters! A mistura do cromatismo no riff, o baixo com drive e o coro mandando um indefectível ‘na na na’, é das melhores coisas do álbum.

A linha de bateria ajuda a perpetuar o groove, ao mesmo tempo em sai do óbvio e deixa a faixa ainda mais interessante. Na letra, Dave Grohl reflete sobre o imediatismo de todas as coisas ao mesmo tempo em que urge em dar um “basta”. Imediatamente. No primeiro verso, ele salienta: “Threw away those broken heroes, they’re just wood and wires / Hallelujah, spread the news, but don’t believe the hype“.

Álbum começa em grande estilo

A sequência inicial do disco é bem divertida e pega o ouvinte em cheio. “Shame Shame” é a segunda faixa e apresenta um meio termo com o qual a banda não costuma dialogar. Se normalmente o FF investe em músicas mais animadas ou as baladas de sempre, aqui não é o caso. A canção apresenta um andamento mid-tempo, sem perder o peso e o groove. Além disso, para apimentar, ainda rola um cowbell sendo tocado de forma sincopada, no contratempo da bateria. Se é pra dançar, vamos dançar. E, se é pra bater cabeça…

https://www.youtube.com/watch?v=cIk-yg2KiA4

A gente consegue perceber que um álbum é realmente bom quando cada pessoa tem uma faixa preferida. E esse é o caso de Medicine at Midnight. Pelo que tenho percebido nas redes sociais, a faixa seguinte, “Cloudspotter” já é uma das queridinhas dos fãs. Além de ter novamente a presença do cowbell para diversificar o groove, ela tem uma vibe quase hard rock que, sinceramente, nunca achei que ia ver presente em uma música do FF. De fato, é uma das mais divertidas do disco.

A balada de sempre, com um algo a mais

Na sequência, temos “Waiting on War”, que, segundo a ‘regra’, é aquela balada habitual de todos os álbuns do Foo Fighters. Entretanto, a canção consegue ir além disso. Apesar da repetição de alguns clichês habituais da banda, a letra é bem interessante.

Ela fala sobre sobre a capacidade inata do ser humano em amar. E como o aprendemos a guerra e o ódio ao longo da vida. Dave traça um paralelo com a própria infância e questiona o âmbito geral de todas as coisas. A canção poderia até passar batida, não fosse a segunda parte e a ideia genial de aumentar o andamento nesse trecho. Em uma era de “robotização” da música, é ótimo termos algo um pouco diferente.

Álbum evoca as principais influências da banda

Na faixa-título, temos mais groove e uma vibe bem David Bowie. Já em “No Son of Mine”, talvez a mais pesada do álbum, a banda chega a flertar com o Motorhead. Confesso que não é minha faceta preferida da banda. Dá pra sentir que essa será uma das preferidas da banda ao vivo. Aliás, xô pandemia, vem vacina.

Muitos dos temas das canções parecem que surgiram em jams como as rolam nos shows ao vivo da banda e isso é um elemento legal. É o que a gente vê na faixa “Holding Poison”. Por fim, destaco a verdadeira balada de Medicine at Midnight, “Chasing Birds”. Ela é bem diferente das baladas habituais da banda. Tem uma vibe anos 70, a la Beatles. Música de gente grande, portanto.

Medicine at Midnight é bom?

Sim! Com exceção da última faixa, “Love Dies Young”, o disco está repleto de música super legais. Algumas, inclusive, se destacam na discografia completa da banda. A gente vive uma era de singles, feats e, no máximo EPs. Então, essa expectativa por um ‘álbum completo que seja incrível’ parece um pouco de preciosismo, sim. Mas, nós que amamos as histórias que essas obras nos contam, alimentamos essa expectativa. Não tem jeito.

Dessa forma, o Foo Fighters acertou em cheio! Quando decidiu embarcar em um caminho desconhecido, rumo ao mundo do groove. E, principalmente, quando trouxe de volta a sonoridade de momentos tão especiais da banda. Com tudo misturado, saiu esse disco incrível, para ouvir no repeat.

Guilherme Farizeli

Músico há mais de mil vidas. Profissional de Marketing apaixonado por cinema, séries, quadrinhos e futebol. Bijú lover. Um amante incondicional da arte, que acredita que ela deve ser sempre inclusiva, democrática e representativa. Remember, kids: vida sem arte, não é NADA!
8
Créditos Galáticos

Créditos Galáticos: 8

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