Foro Íntimo

Foro Íntimo, bom filme nacional

‘Foro Íntimo’ | CRÍTICA

Alvaro Tallarico

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20 de setembro de 2019

Foro Íntimo é mais um filme nacional de qualidade que tem a coragem de trazer algumas experimentações. Por um lado, pode ser visto como um longa-metragem de tribunal, contudo, muito diferente dos estadunidenses que estamos acostumados; por outro, como mote principal, é um suspense claustrofóbico e refinado drama psicológico.

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Claustrofobia extrema

Aliás, a película começa com um sol surgindo por entre um prédio de concreto de linhas retas, duras, frias. Cortes rápidos mostram outras cenas enigmáticas trazendo indicações. Tudo em preto e branco. E, a partir disso, utilizando artisticamente a fotografia, variando entre um branco estourado em momentos de mais delírio, sonho, pesadelo; bem como o cinzento árduo rodeando os conflitos e pouca luz quando o momento pede (olha só a imagem mais abaixo). A saber, Foro Íntimo foi todo filmado no Fórum Lafayette, no centro de Belo Horizonte, durante o recesso do judiciário e mostra um dia na vida do juiz Dr Teixeira. O filme é baseado em eventos reais, inclusive.

A cena em que o protagonista vê um ponto de ônibus como um paraíso mostra um pouco da simbologia do filme, o qual faz um bom uso da tela dividida em alguns momentos, a partir das câmeras de vigilância. Além disso, a forma como o diretor filmou apresenta uma sensação de claustrofobia extrema. Principalmente, quando a câmera segue em travelling pelas costas do protagonista, fazendo com que a sala pareça cada vez menor. Ao mesmo tempo que dá destaque ao fundo e utiliza a profundidade de campo com maestria.

Direção de arte e fotografia acima da média (Embaúba Filmes)

CLOSES, OLHOS, JANELAS. SAÍDAS?

Definitivamente, Foro Íntimo faz muito uso de closes, diversas vezes com precisão cirúrgica, como quando foca em olhos. Algumas dessas cenas fizeram com que lembrasse do velho clichê: “uma imagem vale mais do que mil palavras”. Isso realmente acontece aqui.

Por outro lado, destaco também a detalhista montagem de som do filme. Tudo muito bem gravado, cada ruído tem seu objetivo e complementa. O tic-tac do relógio aumentando a tensão chega a quase fazer o espectador suar. Do ranger das cadeiras aos insetos caminhando, passando pelo burburinho das ruas, tudo colabora para a atmosfera claustrofóbica e nervosa da exibição.

Algumas vezes, o excesso de closes pode incomodar. Entretanto, as constantes utilizações da profundidade e do foco variante entretém, do mesmo modo que contribuem para a simbologia criada naquela diegese (realidade dentro do filme).

Experiência cinematográfica das mais interessantes

Em resumo, Ricardo Mehedff entrega uma interessante experiência cinematográfica, em cima da aparente contradição de um juiz “preso”, sobre um roteiro instigante de Guilherme Lessa e boa atuação de Ricardo Werneck. Dudu Miranda é o responsável pela relevante fotografia com direção de arte esmerada de Priscila Amorim. Não é por acaso que ganhou prêmio de melhor filme em vários festivais ao redor do mundo (Portugal, Londres e Argentina, por exemplo). De fato, mais um ótimo e contundente filme nacional.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título: Foro Íntimo
Diretor: Ricardo Mehedff
Elenco: Gustavo Werneck, Alexandre Cioletti, Léo Quintão, Alex Mehedff
DistribuiçãoEmbaúba Filmes
Data de estreia: 26/09/2019
País: Brasil
Gênero: Drama, suspense
Ano de produção: 2017

Alvaro Tallarico

Jornalista vivente andante (não necessariamente nessa ordem), cidadão do mundo, pacifista, divulgador da arte como expressão da busca pela reflexão e transcendência humana. @viventeandante
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