CRÍTICA | ‘The Handmaid’s Tale’ (3ª Temporada)

Leandro Stenlånd

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14 de agosto de 2019

Às vezes, temos aquela sensação de que algo está por dar errado. Esse pressentimento muitas vezes tarda, mas não falha. Assim sendo, isso aconteceu ao anunciar que um seriado exemplar como The Handmaid’s Tale teria um terceiro ano a caminho. Confesso que me deixou bastante irritado a forma como a segunda temporada terminou dando gancho ao próximo ano.

Ao final do segunda ano de The Handmaid’s Tale, os roteiros muito bem escritos deixaram os fãs diante do que parecia ser a sorte de June. Após se recusar a deixar uma filha pela outra, June e as aias formaram uma espécie de laço que lhes daria força para seguir em frente.

Sabemos que governos ditatoriais são difíceis de serem derrotados e essa deve ter sido a razão de muita gente ter ido dormir tarde. Mesmo sem entender bulhufas de inglês, assistir ao último episódio era o foco. Os espectadores, cada vez menos, provam que, quando a produção é boa, a TV ainda atrai e isso independe de streaming ou TV aberta. A aia June (interpretada por Elisabeth Moss), após recusar uma rara chance de escapulir de Gilead com sua filha recém-nascida, decide permanecer lutando contra uma sociedade em que as mulheres são proibidas de ler e escrever, sendo forçadas à servidão.

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Outrossim, durante dois anos ininterruptos, houve grande acertos e não se pode falar neles sem mencionar a trama do show. The Handmaid’s Tale, em primeiro lugar, possui narrativa reflexiva. Essa parte deu um brilho extra a um elenco pouco conhecido. Assim, houve um trabalho minucioso de composição rítmica onde a série ganhou visão por causa de bons plot twists. A trama pauta grande parte da ação visando no que há de melhor em enaltecer como as mulheres eram tratadas. Parece-me que os roteiristas começaram a corromper coisas que antes eram bastante funcionais.

Inegavelmente, deixemos claro que, o que outrora era uma tortura feminina na série, tornou-se uma agonia incessante para quem assiste. A produção adaptada do romance homônimo de Margaret Atwood está fraca, sem apreço nenhum, ou melhor dizendo, sem o ‘tchan’ envolvente. Todos os episódios, sem nenhum tipo de exceção, mostraram um ‘novelê’ incrível, com todas as tramas se resolvendo ao mesmo tempo.

A terceira temporada contabilizou dez episódios bem tortuosos que reabriram a narrativa, encontrando poucos caminhos que empolgassem. Antes de mais nada, continuar uma história tão bem encerrada em 2018 não era tarefa fácil. Afinal, a série ficou conectada à temporada anterior pelos seus temas centrais: Traumas causados pela violência às mulheres.

Se é para apresentar alternativas que não têm impacto narrativo, então qual é o motivo de introduzí-los? Este é um dos pontos que torna alguns episódios sem razão de existência como Unfit. Problemático em pelo menos maioria de seu existir, existem uma grande porção de questões ignoradas ou “resolvidas” às pressas.

BRUTALIDADE NECESSÁRIA

Nesse ínterim, o ritmo está mais lento e a alta dose de drama não funciona mais, ao menos nos primeiros episódios. The Handmaid’s Tale criou takes para chocar aquele que assiste a narrativa, mas há falha com seus atores, que estão dormentes.  O clima que paira sobre Gilead na terceira temporada está monótono demais. June, no caso, a protagonista, quer vingança. Aliás, revolução seria a palavra certa. Tudo leva a crer que, hoje, ela tem total domínio sob as demais aias. Ainda não há como crer que escolher deixar de se refugiar pra salvar sua filha seja uma boa tática. Como mencionado na crítica de “La Casa de Papel”, há coisas que nem Rambo ou 007 conseguiriam. Estamos falando de um regime que é uma ditadura teocrática.

Outrossim, as cenas de estupro por patriarcas (comandantes) com o objetivo de repovoar um planeta infértil não é mais tão visto. Aliás, deixou de ser o foco. O clima de sedução para tentar se dar bem, também está extinto. June não quer apenas sobreviver e resgatar sua filhinha Hannah, mantida sob os cuidados de uma família fiel ao regime. Ela quer desestruturar o sistema. Agora, diga-me como? The Handmaid’s Tale mudou de tom, com menos violência e sofrimento, dando ênfase a uma possível revolução.

Uma coisa precisa ser dita: Gilead é um lugar focado na violência e suas ramificações e lugares brutais se expressam por meio de violência e isso, ao menos nessa temporada, é pouquíssimo explorado. Às vezes se mostrou difícil de encarar, inclusive na cena onde uma mulher tem a vagina retirada.

UM OU OUTRO NOVO PERSONAGEM DESNECESSÁRIO

Para tentar reacender a chama da série, os diretores chamaram novas mulheres. Na verdade, são bem poucas mesmo, pois, independente de quem fosse, reviravolta ou não, o resultado final seria o mesmo. Na real, apenas mudariam o protagonismo. Aliás, o fizeram sem uma nova personagem. Serena, interpretada por Yvonne Strahovski, tem jogo de cintura para liderar melhor a série do que June. Ela foi uma das defensoras e mentoras de Gilead, e depois passou a ser provocada por June.

MELHORA NA RETA FINAL

Nesse Ínterim, a presença de Serena serve como um imenso poderio bélico para abater o sistema de Gilead, sem deixarmos de lado facetas de June. Se por cerca de nove episódios tivemos um emaranhado de enrolação, são nos três capítulos derradeiros que há  melhora considerável. Essa reta final, invisível e tendenciosamente inverossímil para a maioria dos espectadores, agora se consolida. Todo sacrifício, sofrimento alheio e próprio, resultou em soluções vagarosamente degustadas com louvor do Senhor que abre suas Aias. As possibilidades de mudança na trama geral do show, ao menos no início da temporada, teve uma breve asfixia. Com episódios irrisórios e lentos, houve o equilíbrio entre o opressor e modelo de pacificar. Isso retardou o entendimento do público do que estaria por vir.

As supostas punições que compensavam as vitórias de June estão de volta. O roteiro dos capítulos restantes consegue dar um baque nas expectativas e resolve guiar os episódios seguintes para outras veredas. Embora esses caminhos sejam funcionais e destoem do que costumamos ver em todas as demais temporadas, havia vitória. Mas o sofrimento era muito maior para as protagonistas do show. Com isso, depois de vermos nossos amados Waterfords se lascando bonito, eis que surge o grande impasse para o desfecho da temporada. Engrandecido por um plano incrível da mulher de Fred, uma baita jogada de xadrez dá as caras. Uma das mais impactantes vitórias do programa veio com a morte de uns e a prisão de outros e, com isso, a abertura de possibilidades para mudanças dentro dessa sociedade, apareceu. June está à vontade para lutar contra o sistema de Gilead. E sem maiores impedimentos.

EMPODERAMENTO FEMININO HÁ DE VENCER

Em The Handmaid’s Tale, personagens que mais davam ênfase à narrativa com sua influência máxima, agora estão fora de cena.  Os opressores, as vítimas e de seus atos vis estão presentes nos episódios finais. Embora com menos impacto, lá estão. Eis que sanções internacionais e incitações de guerra acontecem com frequência no atual cenário. Tais atos acabam por enfraquecer o país economicamente. Ao menos é o que nosso suposto herói, Lawrence, analisa sobre toda a situação.

Como de costume, após uma vitória, a reação do sistema ditatorial virá enfurecido e com todas suas cartas nas mangas. As mulheres, enfim, se levantarão contra esses desgraçados.

SEASON FINALE

Todos sabem que o último episódio de uma série pode definir o destino inteiro dela. Uma temporada ruim com um desfecho bom pode trazer fãs inquietos para o show. Um ano bom com um final ruim pode alienar aqueles que até então eram defensores incondicionais. Apesar de todos os problemas desse terceiro ano de The Handmaid’s Tale até a chegada do antepenúltimo capítulo tivemos a sensação de que aqueles personagens pelos quais amamos perderam sua essência. June estava oca e não demonstrava nada, enquanto Serena estava estranha e bipolar. Fred era um mero coadjuvante chinfrim e outros personagens perderam seu brilho.

Mayday é um balde de água morna em forma de episódio que media a lógica estabelecida pelo seriado e abandona a coerência por motivos ridículos: causar um sentimentalismo barato e um ritmo de thriller que nunca foi o que definiu a eficiência do seriado. Nada que corrompa o lapidar do diamante bruto, embora o silêncio sempre foi um integrante importante dessa tensão, dado que, no universo da série, abrir a boca quase sempre significa arrependimento mais à frente.

Leandro Stenlånd

Leandro não é jornalista, não é formado em nada disso, aliás em nada! Seu conhecimento é breve e de forma autodidata. Sim, é complicado entender essa forma abismal e nada formal de se viver. Talvez seja esse estilo BYRON de ser, sem ter medo de ser feliz da forma mais romântica possível! Ser libriano com ascendente em peixes não é nada fácil meus amigos! Nunca foi...nunca será!
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