Hoje eu quero que todos vejam

Bruno Giacobbo

Os cinéfilos de plantão, aqueles que possuem o hábito de acompanhar as novidades de Cannes, Veneza e outros festivais de cinema, já perceberam que é cada vez maior o número de filmes com temática gay. No entanto, por diversos motivos, a maioria não é vista pelo grande público. Infelizmente, ainda há muito preconceito.

>>> Crítica de Filme: Hoje Eu Quero Voltar Sozinho

Ciente deste fato, o cineasta Daniel Ribeiro, um paulistano de 31 anos que até hoje só tinha feito curtas-metragens, pensou em um filme leve, que se comunicasse e fosse visto por todos os públicos, ao escrever o roteiro de Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, que narra a história de Leonardo (Ghilherme Lobo), um adolescente cego em busca de seu lugar no mundo.

Apesar da limitação natural imposta pela deficiência visual, ele é como qualquer outro jovem de sua idade: tem sonhos, briga com os pais, ouve música e está em busca do amor. O que Leonardo jamais poderia imaginar, é que se apaixonaria por Gabriel (Fábio Audi), seu novo colega de colégio.

Reunidos em uma sala do Itaú Artplex, em Botafogo, no Rio, Daniel Ribeiro, e os atores Ghilherme Lobo, Fábio Audi e Tess Amorim, intérprete de Giovana, a melhor amiga do protagonista, conversaram com a reportagem do BLAH CULTURAL e falaram sobre o filme, que recebeu dois prêmios na última edição do Festival de Berlim. O diretor revelou como surgiu a ideia para a história.

“Este é o filme que eu queria ter visto, e infelizmente não vi, quando tinha 16 anos. Sempre desejei que fosse o meu primeiro longa-metragem. Contudo, quatro anos atrás fiz, primeiro, um curta-metragem que tem um nome parecido, Hoje Eu Não Quero Voltar Sozinho, pois não tinha currículo para atrair patrocínio para esta história. Coloquei na internet, inscrevi em alguns festivais e a partir daí as coisas aconteceram naturalmente. Ampliar a trama e rodar o filme foi um passo natural”, disse.

Por mais singelo que seja o desabrochar do relacionamento entre Leonardo e Gabriel, é natural que os atores tenham encontrado, no dia a dia, um pouco de preconceito. Certo? Não, errado. Pelo menos é o que eles garantem.

“Há quatro anos, eu estava entrando no colegial e teve um garoto que fez uma piada, mas foi só isto. A turma quase toda olhou para ele e o chamou de infantil”, lembrou Lobo.

Audi concordou e contou, inclusive, que recebeu o inesperado apoio de um familiar.

“Sinceramente? Encontramos zero preconceito até agora. Aliás, muito pelo contrário. Minha avó disse que gostou e elogiou o nosso trabalho. E ela nasceu na década de 30, cara!”, contou dando um risada.

A relação entre os personagens principais não é o único tema delicado abordado por Hoje Eu Quero Voltar Sozinho. Há, ainda, o fato de Leonardo ser cego. Lobo, que enxerga muito bem na vida real, revelou como foi sua preparação.

“Durante o curta-metragem, eu fiz uma imersão na biblioteca do Centro Cultural São Paulo. Foi lá que eu aprendi a escrever em braille e tive aulas de como guiar um cego. Quando começamos a rodar o longa-metragem, precisei tomar novas lições, mas é mais ou menos como andar de bicicleta. Não se desaprende”, garantiu.

Quando começou a selecionar o elenco, quatro anos atrás, a maior preocupação de Ribeiro era quanto àquele olhar característico, perdido, que os deficientes visuais têm. Ele temia não encontrar um jovem ator que conseguisse reproduzi-lo de forma convincente. Seus medos acabaram ao conhecer Lobo.

“Ele, literalmente, chegou pronto neste aspecto. E tinha somente 14 anos ao fazer o teste para o papel. Enfim, consegui respirar aliviado”, contou.

Com um orçamento de R$ 2,5 milhões, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho chega aos cinemas de todo o Brasil, na próxima quinta (10/04). E a julgar pelos comentários dos fãs do curta-metragem, nas redes sociais, é um dos filmes mais aguardados de 2014.

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
NAN