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Foto: Amora Imagem / Taty Larrubia / Ultraverso

Auto-referência e intimismo no retorno de Humberto Gessinger a Porto Alegre

Adriana Amaral

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5 de setembro de 2022

No longínquo ano de 1987, entrei pela primeira vez no Auditório Araújo Vianna – localizado no coração da Redenção em Porto Alegre – para assistir o show de lançamento do álbum A Revolta dos Dândis, da banda de rock Engenheiros do Hawaii. Acredito que, durante aquele período, esse foi um dos álbuns nacionais que escutei até o vinil quase furar.

Dessa forma, apesar de distante, minha memória daquele show era de um grupo de artistas bastante jovens e energéticos que davam tudo de si a uma plateia em formação. O próprio Araújo Vianna era muito diferente. Sem a cobertura, era um auditório ao ar livre e não havia cadeiras numeradas, o que garantia que quem chegasse mais cedo iria ver o show de mais perto.

Passados 35 anos dessa memória, da qual gradativamente me afastei do chamado Brock ou rock brasileiro ao longo dos anos e me embrenhei cada vez mais em outros gêneros musicais como a música eletrônica, por exemplo.

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Espetáculo maduro

Então, fui ao Auditório Araújo Vianna na última sexta-feira (2) para assistir ao fundador dos Engenheiros do Hawaii, Humberto Gessinger em um show solo da turnê “Não Vejo a Hora”. Fui imaginando que assistiria uma espécie de ode à nostalgia dos anos 80/90 – o que me incomodaria bastante por n motivos . Mas saí positivamente surpresa com a maturidade do espetáculo.

Apostar na nostalgia como elemento mercadológico tem sido a tônica da cultura pop dos últimos anos em termos de consumo. Observamos o resgate de séries, franquias, livros, o que não é diferente com a música. Por isso, acreditei que o show seguiria essa linha que tinha tudo para aguardar um público essencialmente quarentão/cinquentão, branco e classe média. Talvez por isso, minha expectativa inicial tivesse incorporado também um certo ranço que a crítica musical sempre teve com Gessinger e com sua antiga banda.

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Haters e fãs

Apesar de tocar em sua “terra natal”, as críticas e o haterismo – bem anterior à internet – sempre foram pesadas sobre o artista. Acusado de “messiânico” também por conta de uma base de fãs bastante fiel que o acompanha até hoje. Em tempos de um pop esvoaçante feito para rebolar até o chão, que lugar teria Gessinger para os jovens em 2022? Para quem o artista falaria?

Minha hipótese inicial seria para os fãs descritos na linha acima e, sim, eles formavam uma maioria. No entanto, seria leviano não perceber que colados na primeira fila estavam muitos jovens de uma faixa de 12 ou 13 anos, mais ou menos a minha idade quando fui naquele show em 1987. Muitos deles acompanhados por pais, mães e tios.

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Nada apelativo

Assim, apesar de alguns momentos calcados nos hits do passado (“Infinita Highway”; “Somos Quem Podemos Ser”; “Refrão de Bolero”; “Toda forma de Poder”; entre outras), e nem teria como deixar de ser assim em uma carreira de mais de 30 anos de atividades muito bem representadas pelas imagens de diferentes eras de Humberto – os cabelos de jogador de futebol da segunda divisão, como diria Bono sobre si mesmo – e pelos logos e capas de álbuns dos Engenheiros, o show não foi nostálgico.

Foi autorreferente como todo trabalho de Gessinger, mas não se deixou levar pelo apelo fácil, trazendo músicas recentes e materiais de álbuns como Gessinger Trio e até mais MPB, bem como experimentalismo do que do que o pop-rock progressivo ao qual nos acostumamos a assistir em seus shows. A contribuição dos músicos Felipe Rotta, Nando Peters, Esteban Tavares e Paulinho Goulart, assim como a iluminação mais intimista dos momentos acústicos, colaborou com a construção dessa narrativa.

Ao final do show no Auditório Araújo Vianna, o Humberto Gessinger versão rockstar retorna ao posto e entrega os efeitos tecnológicos na sonoridade e seus clássicos passos com o baixo finalizando um espetáculo interessante, muito bem-produzido e que dialoga com diferentes momentos da carreira do músico e com o público mais jovem e o mais velho.

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Altamente técnico e profissional

Apesar de todo o massacre que recebeu da crítica nos anos 90, Gessinger conhece como ninguém o seu próprio público e encara a vida de artista de maneira profissional em um nível técnico bastante distinto de alguns outros colegas do mercado musical gaúcho da mesma época e sua “estética descompromissada”.

Talvez o artista seja um dos últimos moicanos do dinossauro gênero “BRock” e, em um futuro recente, os arqueólogos das mídias e da cultura precisarão escavar em seus materiais (álbuns, livros, etc) para compreender suas várias variáveis entre a captura de momentos históricos e referências pop transnacionais e o popular brasileiro; entre refrões ainda válidos e letras sorvete na testa, mas que ainda trazem um apelo ingênuo garantindo um show lotado em uma noite muito fria.

Talvez essa seja a essência de um porto-alegrismo (atitudes de uma aldeia onde todos se conhecem e uma pretensão a “grandiosidade”) que insiste em dar as caras por mais que ele seja um artista nacional.

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Foto: Amora Imagem / Taty Larrubia / Ultraverso

Setlist do show de Humberto Gessinger no Auditório Araújo Vianna, em Porto Alegre (2022)

Infinita Highway / Até o fim

Partiu

A revolta dos dândis I

Pra caramba

Armas químicas e poemas

Um dia de cada vez

A perigo

Tudo está parado

Pra ser sincero

Terra de gigantes

Bem a fim

Perfeita simetria

Vida Real

Cadê?

Estranho fetiche

De Fé

3×4

Maioral

Surfando karmas & DNA

Calmo em Estocolmo

O Preço

Eu que não amo você

Dom Quixote

Refrão de bolero / Piano Bar

Bis

Somos quem podemos ser

Toda forma de poder

Adriana Amaral

Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação. Pesquisadora com experiência na área de Comunicação, com ênfase em Cultura Digital, atuando principalmente nos seguintes temas: cultura digital, cultura pop, métodos digitais, indústrias criativas, estudos de fãs, estudos de som e música, subculturas e gêneros fantásticos nas mídias digitais. Para mais informações, visite o Instagram @cultpoplab.
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