Já Que Ninguém Me Tira Pra Dançar documentário crítica do filme Leila Diniz

‘Já Que Ninguém Me Tira Pra Dançar’: os grandes legados de Leila Diniz

Ana Rita

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8 de novembro de 2021

Controversa e a frente do seu tempo, a atriz Leila Diniz foi, certamente, uma das grandes figuras da TV e do cinema brasileiros. Morreu aos 27 anos, em 1972, devido a um acidente de avião na Índia, mas mesmo em pouco tempo foi uma mulher revolucionária e marcante, seja pelo jeito, sua liberdade ou sua atuação.

A diretora e atriz Ana Maria Magalhães foi uma amiga de Leila e, por meio do documentário Já Que Ninguém Me Tira Pra Dançar, faz uma homenagem saudosa à atriz, relembrando momentos marcantes de sua vida e como uma grande forma de despedida.

O longa conta com imagens e entrevistas de 1982 que foram digitalizadas posteriormente e com o acréscimo de entrevistas e gravações recentes, criando um longa inédito e original.

Alma carioca

Nascida em Niterói, Rio de Janeiro, com forte força de viver e aproveitar a vida, Leila sempre foi o centro das atenções. Gostava de ser percebida, de forma positiva, é claro. A sua liberdade e jeito único cativavam quem a conhecia, vivendo da melhor forma possível a boemia da cidade carioca.

Durante o documentário Ninguém Me Tira Pra Dançar, nas entrevistas e relatos, amigos de Leila falam de forma saudosa sobre a vida nos anos 60 no Rio de Janeiro, que aproveitavam como ninguém. Essa época de descobertas coincide com o crescimento do Cinema Novo, com novos pensamentos e um fervor cultural e de forte consciência entre a classe artística.

Apaixonada por poesia, a atriz escrevia e lia muito como forma de se expressar. Daquelas pessoas que mostravam viver intensamente e se permitindo sentir tudo, segundo os depoimentos.

Alma carioca de Leila Diniz

O modo como Leila é retratada, tanto por imagens de arquivo quanto pelas entrevistas de amigos expõem o que seria essa ‘alma carioca’, a vida mais boêmia, a praia, sempre quebrando tabus sobre a liberdade da mulher, seja no seu jeito de vestir ou de falar.

O Cinema Novo é um dos pontos mais importantes do cinema brasileiro, e no meio desse momento surgiu o primeiro longa de Domingos de Oliveira, Todas As Mulheres do Mundo. Sucesso de crítica e público, a obra também foi responsável pela consolidação de Leila Diniz como uma das musas da dramaturgia brasileira.

O que torna tudo mais interessante sobre o filme é quando Domingos conta que a produção foi um ‘resultado’ da relação amorosa dos dois. Depois de muitas traições dele, uma relação um pouco conturbada com Leila, surge o Todas As Mulheres do Mundo, com atuação da própria atriz no papel da fictícia Maria Alice, personagem inspirado nela própria, que ficou receosa no começo do projeto. 

Os relatos vão e vêm. Contando com depoimentos de Luiz Carlos Lacerda, Marieta Severo, Betty Faria, Nelson Sargento e tantas outras personalidades famosas e importantes nas artes brasileiras. As falas de cada amigo/conhecido se completam seguindo uma linha de raciocínio sobre Leila: apresentação, sua vida livre, sua bondade, como se definia e seu amor pelas artes.

Avante feminismo

Com narração em off da diretora Ana Maria, a condução do filme se torna mais evidente, guiando nessa linha os depoimentos. Assim, conhecemos os avanços de Leila Diniz na libertação da mulher. Quando estava grávida, a atriz chocou o país ao usar um biquíni na praia. O corpo da mulher sempre foi um tabu, mesmo que isso já tenha evoluído. O documentário mostra a importância que esse simples ato deu para a representação do corpo da mulher.

Atriz de cinema, de novela e de teatro, Leila foi também uma vedete, levando sem barreiras o modo de falar sobre o corpo, a sua expressão, abrindo caminho para outras mulheres. Mas as polêmicas da carioca não pararam por aí.

Ainda nos dias de hoje, muitos veem uma mulher falando palavrões como algo muito feio, errado. Nos anos 60 isso era mais forte, e a entrevista de Leila para “Pasquim” foi um verdadeiro escândalo, com direito a asteriscos para substituir os inúmeros palavrões proferidos. Adicionado a tudo isso, a atriz falava com extrema naturalidade sobre a sua vida sexual, sua liberdade. Como disse o saudoso Nelson Sargento, ela contribuiu muito com a emancipação da mulher, e fez tudo isso de forma espontânea, sendo quem ela naturalmente era.

Perseguição e censura

Essa ‘liberdade’ de Leila lhe custou caro. Em 1964, o Brasil inicia um de seus piores momentos políticos: a ditadura militar de extrema direita, trazendo consigo muita censura, perseguição e violência armada.

Imagine só (se você não tiver vivido esse momento, é claro) um governo feito apenas por homens brancos. É claro que uma mulher com opinião e que acredite que tenha qualquer tipo de liberdade é uma grande ameaça.

Uma jovem falando abertamente sobre sua vida sexual, seu corpo e proferindo palavrões era algo horrível de ver, uma verdadeira ameaça aos bons costumes, influenciar outras meninas a serem livres. É quando Leila começa a ser perseguida, intimada pela censura na época mais difícil da repressão, sendo obrigada a assinar um termo de responsabilidade afirmando que não falaria mais palavrões.

Nesse hipócrita discurso de moralidade do governo ditatorial e repressivo, Leila foi sendo censurada mais ainda, a afastando das artes cênicas, uma vez que essa censura se estendeu às emissoras de TV.

Morte de Leila Diniz

Buscando uma liberdade, amigos contam que Leila queria sair do Brasil. Por isso foi para um festival de cinema na Austrália como torcedora do Santos. Então, resolveu fazer uma escalada e, infelizmente, seu avião caiu em Nova Deli, na Índia.

Aos 27 anos, Leila Diniz estava no começo de sua vida e de sua carreira, mesmo que já tivesse tido sucesso. Mesmo nesse pouco tempo, a atriz foi responsável por revolucionar, permitindo um avanço nessa longa caminhada da liberdade da mulher, rasgando o conservadorismo e convencionalismo. Certamente, foi uma mulher única.

O documentário Já Que Ninguém Me Tira Pra Dançar é, portanto, uma excelente oportunidade para conhecer a importante figura que foi Leila Diniz, conhecendo sua intimidade por relatos de amigos e ex-companheiros. Não percorrendo de forma cronológica, nos apresenta a essência da atriz e essa necessidade de liberdade intrínseca a sua natureza.

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Trailer do filme Já Que Ninguém Me Tira Pra Dançar

Ficha Técnica

Direção: Ana Maria Magalhães
Roteiro: Ana Maria Magalhães
País: Brasil
Duração: 92 minutos
Gênero: documentário
Ano de produção: 2021
Classificação: a definir

Ana Rita

Piauiense, nordestina e estudante de Arquitetura, querendo ser cinéfila, metida a crítica e apaixonada por cinema, séries, arte e música. Siga @trucagem no Instagram!
7
Créditos Galáticos

Créditos Galáticos: 7

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