Karol Conká Urucum crítica do álbum 2022

Foto: Divulgação

Karol Conká se descancela do ódio em ‘Urucum’

Cadu Costa

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2 de junho de 2022

A rapper Karol Conká, por um momento, foi a mulher mais odiada do Brasil. Ao participar do Big Brother Brasil 21, teve 99,17% de rejeição do público — a maior da história do programa. No país de Bolsonaro, é fácil encontrar respostas para essa situação. Mas ao invés de ficar caçando culpados, ela caçou sua paz e devolveu o que aprendeu em Urucum, seu último trabalho. E entendedores entenderão.

Primeiramente, Karol Conká sofreu com a rejeição do público por ser uma mulher preta. Isso é um fato. Ela teve atitudes erradas dentro da “casa mais vigiada do Braseeeel”? Teve sim. Ela é imperfeita? E daí? Quem nunca explodiu e se arrependeu? Jesus não falava um negócio sobre pecados e pedras? Então pega a visão já daí.

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Cancelamento de Karok Conká no BBB 21

A real é que se Karol não fosse preta, seu cancelamento teria sido muito menor e talvez até chegasse mais longe no programa. Sim, ou não vamos lembrar de Marcos Harter que agrediu a campeã Emilly Araújo e ainda tentou processar a Globo por ser expulso quando se achava favorito? E que ainda tentou se eleger como político (cristão, da família, bons costumes, o pacote todo lá) por mais de uma vez? Felizmente não ganhou nem no programa nem na política. Mas seu cancelamento sequer fez um risco na sua imagem.

E o que dizer de Arthur Aguiar, por exemplo? O ator e cantor traiu a esposa um incontável número de vezes, inclusive usando o dinheiro dela para se encontrar com as amantes. Cancelamento? Claro que não. Campeão do BBB22. Fora os Felipes Prior, os Pyongs Lee, e vários “topzêras” que, cheios de bons costumes, autenticidades e processos nas costas ganharam o carinho do público.

Mas para Karol Conká não. Para ela somente o ódio. E quem esperava que viria um disco todo calcado no “me desculpe, eu amo todo mundo, me perdoem, não faço de novo”, veio, na verdade, um disco mandando quem a julgar ir procurar um novo lugar para meterem o nariz. Alguns até conhecidos, podemos assim dizer.

Urucum pega fogo

Em Urucum, quando Karol Conká avisa que vai começar o “Fuzuê”, é bom saber que ela “vai deixar inflamar”. “No fuzuê tem gente demais / E se quiser, cola em mim / Cabe mais”. E pega fogo mesmo com uma letra bem direta, uma batida trap pesadíssima num berimbau envolvente.

E já com essa primeira música de Urucum, é possível vislumbrar uma Karol Conká num processo sim, de busca de paz interior. Mas algo positivo sem ser vitimista e se desculpando por tudo. A artista tem consciência dos seus excessos, dos seus erros, mas manda você viver da sua maneira e ela da dela como diz em “Se Sai”.

Ou em “Mal Nenhum”, onde ela volta a admitir seus exageros, mas também sabe para quem apontar ao dizer “Não é sobre mim essa amargura aê”. Já em “Cê Não Pode”, outro trap pesado, com triângulo, berimbau e batuques, Karol afirma “Comigo é tudo na verdade”, “Eu sou foda, pode admitir, tem quem vaia e quem vai aplaudir” e “Comigo você não pode”.

Letras diretas em batidas poderosas

Isso é o mais legal de Urucum. São letras diretas em batidas poderosas como Karol sempre fez. Mas seu som sofreu mais influências dos ritmos brasileiros e ainda mostra um alcance vocal surpreendente. Fora que é uma terapia musical fantástica onde a artista expõe suas quatro personas: Jaque Patombá, seu lado estourado; Karoline, a de boa; a poderosa Karol Conká; e Mamasita, que já não tem muita paciência.

“No programa, dei atenção a apenas uma camada de mim e abandonei todas as outras, o que me fez chegar a tamanho desequilíbrio. Agora Karoline canta ‘Calma’ para Jaque, que canta ‘Cê não pode’ para o cancelamento. Agora sou Karoline no dia a dia, e Karol Conká quando preciso”, disse a cantora em entrevista ao documentário A Vida Depois do Tombo.

De qualquer forma, a sonoridade de Urucum retoma a ideia de seu início com samples de música brasileira aliados de arranjos eletrônicos e afrobeats. O trap atual de “Sossego” mostra bem como Karol Conká quer estar sem se importar muito com a opinião dos outros: “Eu quero tá no sossego / Empilhando meu dinheiro / Viajando o mundo inteiro / Acelerando sem freio”.

Já pro fim, três músicas feitas pré-BBB: “Por inteira, “Subida” e “Louca e sagaz”. Mas soam realmente prontas para esse disco, afinal loucura e sagacidade na subida são fundamentais para se manter inteira.

Urucum e Medusa

Por fim, uma ultima menção à Urucum sem falar da capa seria não contemplar toda a obra de Karol Conká. O trabalho, realizado pela artista Alma Negrot foi inspirado na Medusa, a sinistra figura da mitologia grega.

Para isso, Karol Conká explica: “É uma referência ao que eu causei no Brasil ano passado: a petrificação das pessoas, a paralização de um país para me eliminar num paredão; o ódio coletivo, a manada do raiva, um convite para um mergulho na intensidade. Mas agora convido o Brasil para paralisar dessa vez pra refletir e não para me odiar”.

Se ela teve êxito, não sabemos ainda. Vamos esperar o final do ano. Daquele jeito que você deve imaginar.

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Cadu Costa

Cadu Costa era um camisa 10 campeão do Vasco da Gama nos anos 80 até ser picado por uma aranha radioativa e assumir o manto do Homem-Aranha. Pra manter sua identidade secreta, resolveu ser um astro do rock e rodar o mundo. Hoje prefere ser somente um jornalista bêbado amante de animais que ouve Paulinho da Viola e chora pelos amores vividos. Até porque está ficando velho e esse mundo nem merece mais ser salvo.
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