Capa do livro O Primeiro Beijo de Romeu

Com beijo gay na capa, roteirista Felipe Cabral lança seu primeiro romance juvenil LGBTQIA+

Wilson Spiler

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18 de novembro de 2021

Se a DC Comics tem o beijo gay deles, nós também teremos o nosso. Isso porque o livro O primeiro beijo de Romeu, primeiro romance jovem LGBTQIA+ do roteirista, ator e autor carioca Felipe Cabral, chegou às lojas na última terça-feira, 16 de novembro, pela Galera Record.

A obra tem como inspiração os ocorridos na Bienal do Livro do Rio de 2019. Para quem não se lembra, no evento, houve uma tentativa de censura por parte do ex-prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella.

Romeu e seu primeiro beijo

A publicação narra as vivências de Romeu, um jovem, prestes a dar seu primeiro beijo, tem sua vida virada de cabeça para baixo. Afinal, além de ser arrancado do armário para toda a escola, ele descobre que o livro que seu pai lançaria na Bienal do Rio acaba de ser censurado pelo prefeito da cidade.

“A história nasceu ali. Um mês depois da Bienal, eu já tinha toda a premissa do livro na cabeça. É uma releitura, uma livre interpretação dos fatos, uma ficção, mas que escrevo contagiado pelas minhas lembranças. Um dos desafios da escrita, inclusive, foi justamente transmitir a sensação de estar no meio daquele furacão. Celebrávamos os 50 anos da Revolta de Stonewall e eu me senti no meio de uma revolução dos livros”, pontua Felipe.

A saber, naquela edição da Bienal, o autor foi mediador e curador de duas mesas sobre a literatura LGBTQIA+ na Arena #SemFiltro.

Assinatura de Jean Wyllys

Discutindo, entre outras coisas, a LGBTfobia, bem como a liberdade de expressão e as novas composições familiares, o livro O primeiro beijo de Romeu tem orelha assinada por Jean Wyllys.

Além disso, realiza um marco. Afinal, pela primeira vez, uma obra young adult nacional publicada por uma grande editora mostra um beijo entre dois garotos na capa. A ilustração é do artista Johncito. A escolha preconiza uma mudança no meio editorial. Abrindo espaço, dessa forma, para novas abordagens nas histórias LGBTQIA+.

“Até minha adolescência, nunca havia lido um gibi sequer que tivesse um personagem gay com o qual eu pudesse me identificar. Só aos 20 anos, quando me aceitei gay, fui atrás de um livro onde pudesse me enxergar. E não existiam muitas opções”, salientou.

Mais avanços

O jovem autor ainda destacou que houve avanços com o decorrer do tempo, mas ainda não é suficiente.

É inegável que houve um avanço nesta literatura. Em 2017, resolvi criar o canal ‘Eu Leio LGBT’ justamente para mostrar que já existiam histórias onde estamos presentes. Mas é importante frisar que ainda existe uma carência de histórias que abarquem as outras letrinhas da nossa sigla”, aponta Felipe.

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Foto: Fabio Audi / Divulgação

Ausência de referências

A ausência de referências ao longo da vida transformou o jovem autor num entusiasta e precursor em evidenciar o afeto LGBTQIA+ na TV. Como colaborador de Rosane Svartman e Paulo Halm, Felipe escreveu o primeiro beijo gay de uma novela das 19h na TV Globo em “Bom Sucesso”.

Um pouco antes, no entanto, realizou o mesmo feito na quarta temporada de “Vai Que Cola”, do Multishow, com o o primeiro beijo do personagem Ferdinando (Marcus Majella) em seu flerte; assim como na série “Quero ser solteira”, também exibida pelo canal pago, onde escreveu seu primeiro beijo gay na TV, em 2012.

Contudo, sabendo que nem tudo na vida gay são doces beijos, na novela “Totalmente Demais” também escreveu uma sequência contra a homofobia.

“É muito importante que nossos beijos sejam cada vez mais comuns na indústria cultural. As novelas, filmes, peças e livros constroem o imaginário de uma sociedade e podem derrubar preconceitos através da arte. Quanto mais beijos forem exibidos, menos tabus eles serão”, comenta Felipe.

Dentre as circunstâncias de seu primeiro romance, o autor destaca o processo de auto aceitação de Romeu e as relações familiares como as mais emocionantes.

“Romeu começa o livro – e isso não é spoiler – sendo tirado do armário à força para toda escola. De uma hora para outra, seus medos e inseguranças vêm à tona da pior forma possível. Mas quando eu escolho esse menino como protagonista, eu quero mostrar que ele não está sozinho”, pondera o autor.

Felipe ainda espalhou 182 títulos de livros com protagonismo LGBTQIA+ pelo texto como forma de homenagear essa literatura.

Esperança e otimismo

Em sua jornada de aceitação, Romeu contará com Valentim e Samuel, seus pais. “Esses dois pais, com seus quase 40 anos, adotaram esse menino e vão fazer de tudo para que ele seja feliz. Quero reforçar que toda família merece ser respeitada e ter seus direitos garantidos. É nesse núcleo familiar que está o coração da minha história”, adianta Felipe.

Para o autor, o livro é esperançoso e otimista. Mesmo apresentando temas sérios e relevantes.

“Eu desejo que o meu leitor termine ‘O primeiro beijo de Romeu’ e fique com vontade de ir atrás de outros livros com personagens LGBTQIA+. Que tenha coragem para ser quem ele é. Muito já foi conquistado, mas é preciso ir além: dar espaço para histórias com personagens negros, contratar autores negros, valorizar a literatura nacional, ampliar essa representatividade dentro da própria sigla LGBTQIA+. Eu sou otimista e acredito que estamos num bom caminho”, finaliza.

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O primeiro beijo de Romeu

Autor: Felipe Cabral

Editora: Galera Record

Valor: R$ 49,90

Páginas: 434

Gênero: Ficção, Infantojuvenil e Jovem Adulto

Onde comprar: Amazon

Capa O Primeiro Beijo de Romeu

Wilson Spiler

Will, para os íntimos, é jornalista, fotógrafo (ou ao menos pensa que é) e brinca na seara do marketing. Diz que toca guitarra, mas sabe mesmo é levar um Legião Urbana no violão. Gosta de filmes “cult”, mas não dispensa um bom blockbuster de super-heróis. Finge que não é nerd.. só finge… Resumindo: um charlatão.
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