Lupa e Dona Cislene: rock para todos os gostos no Solar de Botafogo

Sarah Azevedo

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30 de março de 2019

Uma das frases que eu mais gosto de ouvir é quando dizem: “o rock morreu!”. O que mudou foi a maneira de se fazer rock. E, se existe um lugar que foi e continua sendo celeiro de grandes nomes, esse lugar é Brasília. Na última quinta-feira (28), o Teatro Solar de Botafogo recebeu dois nomes que já são figurinhas carimbadas quando o assunto é música boa vindo da cidade planejada: Lupa e Dona Cislene.

Fazendo as honras do Rio, a abertura da noite ficou por conta da banda Ratel, prata da casa, que aqueceu o público com seu som que mistura reggae, rock e muita energia boa. Pouco tempo depois, os cariocas já se despediam para entregar o palco à Lupa. Em sinal de retribuição, ao começar o show, Múcio, vocalista da banda, pediu para a plateia se aglomerar em torno dos integrantes da Ratel, fazendo com que tudo parecesse uma espécie de corda do caranguejo, enquanto tínhamos de trilha sonora a música “Oi”, faixa recentemente lançada.

Bora brincar, Rio de Janeiro!”, – disse Múcio, logo após apresentar a primeira música da noite e emendar com “Labirinto Não Tem Fim” e “Coração de Leão”, que ganhou uma nova introdução ao vivo. A apresentação também contou com um cover de “Exagerado”, do Cazuza, e “Bem Me Quer”, que foi marcada com participação de uma fã cantando junto. Após um “É pra pular!” sussurrado pelo vocalista antes de começar a faixa “Lunático”, a plateia seguiu a risca esse pedido. A canção “Quimera” fez com que todos ligassem as lanternas de seus celulares, porém, ao longo da música, ninguém sabia mais se dançava ou se continuava segurando o telefone.

“Justo Eu”, uma das músicas mais populares da banda e a última do show, já começou tendo seu refrão cantado pelo público sozinho. No final, João (baterista) levou um surdo da bateria para o meio da plateia, seguido de André (tecladista) e Múcio, que se misturaram às pessoas abaixo do palco e tornaram-se parte de quem assistia, onde prolongava-se o refrão “Eu conheço os seus segredos!” em uníssono. Na última vez em que se apresentou na cidade, o quinteto estava em um palco pequeno e, felizmente, dessa vez, a banda teve acesso a um palco que comportasse todo o seu talento. Lupa é uma banda que a gente ouve quando quer esquecer as preocupações, fechar os olhos e só se deixar levar. É engraçado perceber que a própria banda se deixa leva, e isso faz com que a identificação de seu público ocorra muito mais fácil.

Foto: Sarah Azevedo / BLAH!ZINGA

Depois de dois anos sem se apresentar na cidade, a Dona Cislene subiu ao palco do Solar. Com o desfalque de um de seus guitarristas, Guilherme de Bem, que se acidentou em uma brincadeira pouco antes do show, a banda seguiu a apresentação com seus outros integrantes. Porém, para quem está acostumado a sempre ver o quarteto, com certeza sentiu falta de uma certa cabeleira batendo de um lado para outro no palco. Embora os primeiros acordes tocados nos levassem para “1 em 1 milhão”, música do primeiro disco da banda (Um Brinde aos Loucos), a primeira faixa da noite foi “Tattoar”, música do último CD.

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O que acordou mesmo a galera foi “Acorde a Cidade”, que talvez seja uma das músicas mais conhecidas da banda, e que não foi tocada no último show, deixando muita gente saudosa, na época. Em seguida rolou “Ilha”, música em homenagem a sua cidade natal, Brasília, que fez um monte de carioca cantar como se fosse de lá também (embora eu não duvide que tivessem alguns brasilienses na plateia também).

Nem só de bate cabeça vive a Dona Cislene, já que em seguida tivemos “90”, uma música um pouco mais calma. Apesar de ganhar mais movimento ao vivo, ela não deixa de ser boa para se relaxar e pensar nas coisas legais que se tem na vida e não paramos para dar a devida atenção na maioria das vezes. Logo após tivemos “Bateu Bonito”, single lançado na semana passada pelo quarteto e que já foi cantado pelo público como se fosse uma música mais antiga da banda. Música presente na maioria dos shows, a querida “Obsessivo”, também fez parte do repertório da noite.

Voltando ao setlist depois de muito tempo, a faixa homônima a banda, “Dona Cislene”, fez a alegria de quem estava presente e sempre pedia pela música em shows anteriores. A banda ainda emendou com um pedaço de “Zóio de Lula”, do Charlie Brown Jr, seguida de “Good Vibe”, uma das músicas mais queridas do público e que sempre tem uma roda punk pra chamar de sua. Porém, o Solar não permite isso, já que existem muitos degraus. Deu pra perceber que o público sentiu falta disso.

Percebendo isso também, logo após apresentarem “Annunaki”, outro single da banda, Bruno convidou: “Já que não dá pra fazer uma roda punk aí, cês topam fazer aqui?” Acho que não é necessário dizer que não foi preciso pedir duas vezes, não é mesmo? Em pouco tempo estavam todos fazendo uma roda punk em cima do palco junto à banda, mesmo que com cuidado pra não derrubar os pedestais ou os próprios integrantes, enquanto “Má Influência”, a última música da noite, era cantada.

Todo show é uma conexão entre público e banda. Se isso não rolar, não adianta uma casa cheia ou o melhor palco. Mesmo incompletos, a Dona Cislene não se esqueceu dessa conexão tão importante. Com um show com pouco tempo de duração, não diria que deu para matar a saudade dos fãs que não curtiam seu som ao vivo há quase dois anos, mas com certeza deixou o gostinho de “quero mais”, tanto em seus fãs antigos quanto naqueles que conquistaram nesta noite.

Sarah Azevedo

Publicitária com alma de jornalista que gosta de algumas bandas de nomes estranhos e livros. Extremamente curiosa, acabou encontrando o caminho do Kpop sem querer e não conseguiu mais sair.
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