Representação teatral de um sorriso negro, projeto malunguetú na coluna de Alvaro Tallarico

um sorriso negro, bloco malunguetú na coluna de Alvaro Tallarico no BLAHZINGA (divulgação: Malunguetú)

Bônus | Malungüetú projeta a cultura negra a partir do carnaval

Alvaro Tallarico

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21 de novembro de 2019

Malungüetú é um projeto que une diversas artes, mas focando em um tema específico – e relevante: a cultura negra. A princípio, foi criado a partir da união de Diogo Rodrigues, produtor, e Tarcísio Cisão, que toca em alguns outros blocos, como o Amigos da Onça, Vulcão Erupçado e Pim Pom Pim. Ambos são negros da periferia do Rio de Janeiro, um de Caxias e outro de São Gonçalo. Resolveram organizar esse projeto visando uma busca por democratizar através da arte negra a construção artística do carnaval de rua do Rio de Janeiro.

Apresentação do bloco Malunguetú na Garagem dos Camelôs, no Rio de Janeiro (foto: Edson Jonathan)

Começaram a perceber que a maior força de trabalho de carnaval é a negra, em todas as áreas. Contudo, o dinheiro e o protagonismo, não. Ué… Tem algo errado nisso. Tirando o carnaval de escola de samba, os blocos de rua, com metais e percussão, não tinham essa valorização com relação aos pretos. Mesmo com o fato de grande parte, e, muitas vezes, os melhores músicos, serem os negros, a administração dessas iniciativas não estava com eles.

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Racismo no carnaval de rua

Apesar de algumas exceções como o próprio Bloco Amigos da Onça, em tantos outros não são os negros pautando ou liderando o carnaval de rua do eixo Centro-Zona Sul do Rio de Janeiro. Diogo e Cisão foram analisando isso e viram que em todo carnaval sempre tinha alguma situação de racismo, não sendo assim uma festa tão democrática quanto era alardeado. Por exemplo, os blocos secretos, que não informam as pessoas até em cima da hora onde vão tocar, sendo assim, quem mora longe não consegue participar, até as situações de racismo que ocorrem no meio das festas de rua. Cadê a democracia?

Malungüetú na coluna de Alvaro Tallarico.

Malungüetú mescla diversas artes, como o teatro (foto: @ernesttoernestto)

Resolveram se impor e lutar, e criaram o projeto Malungüetú, tendo como primeira atitude a formação de um bloco carnavalesco onde somente pessoas negras tocassem e participassem, inclusive, no seu documento de fundação, está a regra que metade deve ser mulher. No momento, aliás, pretendem realizar oficinas de saxofone para mulheres, gratuitas, a partir do dinheiro que o próprio bloco arrecada com suas apresentações. Isso quando conseguem lucro.

A primeira apresentação foi em 2018 na Casa Firjan. Esse ano começaram os ensaios na rua da Carioca, mais precisamente na Garagem dos Camelôs, no Rio de Janeiro. O repertório é maravilhosamente somente com canções de compositores negros e o bloco possui um corpo cênico que realiza intervenções com críticas sociais e ao racismo durante os shows, como quando tocam a música “Sorriso Negro”, famosa na voz da rainha Dona Ivone Lara, a joia rara. Agora, com o Malungüetú, a democratização no carnaval de rua se faz mais real.

*A coluna BÔNUS, assinada pelo jornalista Alvaro Tallarico @viventeandante, sai toda quarta-feira. Quer saber mais sobre o Malungüetú? Clique aqui

Projeto Malunguetú valoriza a cultura negra (foto: Edson Jonathan)

Malunguetú valoriza a cultura negra (foto: Edson Jonathan)

Alvaro Tallarico

Jornalista vivente andante (não necessariamente nessa ordem), cidadão do mundo, pacifista, divulgador da arte como expressão da busca pela reflexão e transcendência humana. @viventeandante
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