Documentário Meu Sangue É Vermelho crítica do filme indígena

‘Meu Sangue É Vermelho’ escancara o genocídio indígena no Brasil

Wilson Spiler

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17 de setembro de 2021

Os dados de crescimento da violência contra indígenas no Brasil são espantosos. A saber, até o início de 2020 o número de lideranças mortas em conflitos de campo foi o maior em pelo menos 11 anos, de acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT). O principal motivo? A desapropriação de terras em favorecimento da expansão do agronegócio e pecuária. Isso somado à ocorrência da pandemia de Covid-19, em que o potencial de morte para estes povos foi 16 vezes maior. Portanto, a causa pela sobrevivência indígena é urgente, representada também pelas manifestações recentes no Congresso Nacional, em Brasília.

Por isso a união da produtora britânica Needs Must Film com o rapper Owerá, da tribo brasileira Guarani M’bya, foi importante. Afinal, por por meio dessa parceria estão lançando o documentário Meu Sangue é Vermelho (My Blood is Red), um filme que mostra ao mundo a realidade de indígenas brasileiros.

A espécie de road movie acompanha Owerá (conhecido artisticamente como Kunumi MC Wera) em uma peregrinação por comunidades indígenas dos estados de Mato do Grosso do Sul e Maranhão. Dessa forma, o filme dá voz aos seus líderes e expõe como vivem, bem como as injustiças sociais que sofrem. Algo que grande parte do Brasil desconhece. Ao mesmo tempo, o documentário é também um registro da jornada do índio como músico, trazendo sua história e suas vivências nas letras de rap para gerar conscientização.

Ouça a música de Owerá (Kunumi MC Wera)

Problemas do povo indígena

Inspirado e incentivado por Criolo, com quem desenvolve uma bela relação no decorrer do filme, Owerá é ainda orientado por líderes como a carismática Sonia Guajajara; assim como o sábio e gentil Inaldo Gamela; e o antropólogo, indigenista e franco-brasileiro Vincent Carelli, idealizador do projeto Vídeo nas Aldeias. Desse modo, temos um entendimento mais profundo através da sabedoria de personalidades importantes do meio.

Sem dublagem ou narração os próprios índios contam suas histórias, em suas próprias vozes. Então, movido por letras e batidas, o documentário Meu Sangue É Vermelho mostra os diversos problemas pelos quais o povo indígena sempre passou e só vem se agravando no atual governo. Dificuldades como a violência brutal e o genocídio do qual esses povos são alvo; desapropriação de terras, levando alguns deles a viverem na beira de estradas; perda de identidade, que desencadeia depressão; a relação ancestral e com a natureza; desmatamento; entre outros.

Presente e futuro

Além disso, podemos ver também momentos históricos, como o ato durante o acampamento Terra Livre no Congresso Nacional (DF), com cerca de 200 caixões simbolizando as mortes indígenas. Aliás, manifestação esta que foi duramente reprimida pela polícia, bem diferente dos protestos antidemocráticos ocorridos em 7 de setembro deste ano. O filme é, então, sobre extermínio de pessoas e a resposta de um jovem músico sobre isso.

Em suma, o documentário Meu Sangue é Vermelho não é meramente um longa-metragem. Mas sim uma aula de história, com o terrível presente passando diante dos nossos olhos e uma previsão do futuro macabro que ainda podemos evitar. Atenção: ainda podemos.

Meu Sangue é Vermelho estreia no dia 24 de setembro, na plataforma Vimeo e já está disponível no Amazon Prime Video, a fim de democratizar o acesso e incentivar o conhecimento sobre a causa indígena para todo país. O genocídio não se dá apenas com mortes, mas historicamente e culturalmente. Um plano que Jair Bolsonaro e sua trupe tem seguido à feição (e nem têm vergonha de esconder). Por isso, uma maravilha dessas merecia ser vista na telona do cinema e o assunto deveria ser incluído como parte da Base Nacional Comum Curricular.

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Trailer do filme Meu Sangue É Vermelho

Meu Sangue É Vermelho: elenco do filme

Werá Jeguaka Mirim (Owerá)
Criolo
Sonia Guajajara
Vincent Carelli

Ficha Técnica

Direção: Graci Guarani, Marcelo Vogelaar, Thiago Dezan, Tonico Benites
Produtora: Needs Must Film
Produção: Brian Mitchell
Data de estreia: qui, 24/09/21
Onde assistir ao filme ‘Meu Sangue É Vermelho’: Vimeo e Amazon Prime Video
Duração: 86 minutos
Gênero: documentário
País: Brasil, Reino Unido
Idioma: Português, Guarani

Wilson Spiler

Will, para os íntimos, é jornalista, fotógrafo (ou ao menos pensa que é) e brinca na seara do marketing. Diz que toca guitarra, mas sabe mesmo é levar um Legião Urbana no violão. Gosta de filmes “cult”, mas não dispensa um bom blockbuster de super-heróis. Finge que não é nerd.. só finge… Resumindo: um charlatão.
10
Créditos Galáticos

Créditos Galáticos: 10

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