crítica de O Homem Mais Odiado da Internet série minissérie documentário da Netflix 2022

Foto: Netflix / Divulgação

‘O Homem Mais Odiado da Internet’ e a terra sem lei da rede mundial de computadores

Wilson Spiler

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1 de agosto de 2022

Dos mesmos produtores de O Golpista do Tinder e Don’t F**k With Cats, a minissérie O Homem Mais Odiado da Internet (The Most Hated Man on the Internet) é a história real sobre Hunter Moore, um indivíduo que criou um site de pornografia de vingança, com o “intuito de destruir vidas”, nas palavras de uma das fontes ouvidas no documentário.

Não apenas fotos e vídeos íntimos eram postadas na homepage, como também nomes completos, detalhes de ocupação ou estudo e links para redes sociais das mulheres retratadas, de forma a garantir que as imagens que deveriam ser privadas invadissem a vida pública das vítimas.

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Quem é Hunter Moore?

Hunter Moore tinha apenas 24 anos quando fundou o site “Is Anyone Up?” (Alguém Acordado?, em tradução para o português). Durante dois anos em que a página esteve no ar, se tornou um centro de compartilhamento de imagens íntimas na internet. Lá, os usuários eram convidados a hospedarem não apenas imagens e vídeos, mas também informações pessoais dos retratados, principalmente mulheres jovens — incluindo menores de idade. Mas a ideia era uma só: fazer pornografia de vingança.

À medida em que a página ganhava reconhecimento, Moore começou a virar uma espécie de estrela pop para o excremento que frequentava o site. O próprio começou a se referir como um “arruinador profissional de vidas” e “o rei do pornô de vingança”, exibindo em suas redes sociais um estilo de vida regado a festas, álcool e drogas. Deixando bem claro que todo o dinheiro vinha dos lucros de um negócio dedicado a exibir imagens privadas. Ele publicava, até mesmo, os pedidos que vinham por e-mail para retirada das imagens do ar, deixando claro que seu objetivo final era a humilhação, pura e simples.

O termo “O Homem Mais Odiado da Internet”, que intitula a série da Netflix, também é real. Esse título veio através de uma reportagem da rede britânica BBC em 2012, quando Moore ainda acreditava estar no auge. Afinal de contas, ele gerenciava um serviço com 100 milhões de acessos e que rendia US$ 25 mil de lucro mensal.

‘The Hunter Games’

Capa da Vice com o título apropriado de ‘The Hunter Games’, o mundo de Moore começa a ruir quando Charlotte Laws, ativista e mãe de uma das vítimas, se mostra determinada a retirar as fotos da filha do site. Ela entrou em contato com cerca de 40 vítimas e a história chegou até o FBI.

O que mais espanta em O Homem Mais Odiado da Internet, talvez não seja em como o grande responsável por arruinar vidas de diversas mulheres seja um escroto sem tamanho. Pode ser que, se estivéssemos ainda em 2012, isso assustasse mais. Mas diante dos acontecimentos que tivemos recentemente mundo afora, inclusive no Brasil, com um genocida como presidente da República dando voz a neonazistas garantindo que isso é liberdade de expressão, nos espantasse mais.

Legislação frágil

A crueldade de Hunter é sim execrável, de embrulhar o estômago, mas – ao menos para mim – o que é mais assustador é o próprio agente do FBI dizer que o crime deveria ser investigado como ataque hacker e não necessariamente expor fotos de pessoas que não autorizaram o uso de suas imagens ao site. Os direitos autorais passam longe aqui. E é ainda mais aterrorizante que ainda não exista uma lei federal a respeito do assunto na dita maior democracia do mundo. Charlotte Laws ajudou a implementar legislações sobre o tema em 40 estados da Terra do Tio Sam, mas cada uma à sua maneira.

Além disso, se reclamamos da impunidade da Justiça brasileira, ao que parece, esse é um mal que assola o mundo todo. E não, aqui não vai um ataque ao Supremo Tribunal Federal (STF), Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Superior Tribunal de Justiça (STJ) ou outros tribunais país afora, antes que você que esteja lendo esta crítica pense besteira. A crítica vai aos nossos congressistas, que fazem parte do Poder Legislativo, onde forjam leis sempre com brechas para que ricos com bons advogados possam se dar bem. Isso porque a condenação de Moore foi de apenas 30 meses de prisão (dois anos e meio); enquanto a do hacker foi de 25 meses, ou seja, pouco mais de dois anos.

Até quando?

A direção de Rob Miller é sagaz e prende o espectador do primeiro ao último minuto. Entremeando depoimentos reais com dramatização das cenas narradas, o diretor consegue contar a história de forma instigante e, claro, tornando “O Homem Mais Odiado da Internet” ainda mais odiável.

Temos vídeos com a presença de Hunter na TV, algo meio na vibe “SuperPop” – se é que vocês me entendem -, que expõem bem a sociopatia e a misoginia de Moore. E, ainda assim, ele tem seu reduto cada vez maior de fãs denominados de “A Família”. Não é tudo muito parecido com o que vemos atualmente?

A minissérie O Homem Mais Odiado da Internet chega até tarde como um alerta do que o mundo está se transformando. É preciso ter cuidado com quem nós transformamos em Messias ou até mesmo com quem achávamos que fossem pessoas pacatas e ‘cidadãos’ de bem. Mas, sobretudo, um aviso pesado de que a internet ainda é uma terra sem lei. Até quando?

Onde assistir à minissérie O Homem Mais Odiado da Internet?

A saber, O Homem Mais Odiado da Internet estreou nesta quarta-feira, 27 de julho de 2022, no catálogo da NetflixAliás, está de olho em algo na Amazon? Então apoie o ULTRAVERSO comprando pelo nosso link: https://amzn.to/3mj4gJa.

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Trailer da minissérie O Homem Mais Odiado da Internet, da Netflix

https://youtu.be/ySFpxEdKxMw

Ficha Técnica: minissérie O Homem Mais Odiado da Internet, da Netflix

Título original da série: The Most Hated Man on the Internet
Temporada: 1
Episódios: 3
Duração: de 43 a 59 minutos
Direção: Rob Miller
País: Reino Unido
Gênero: documentário
Ano: 2022
Classificação: 18 anos

Wilson Spiler

Will, para os íntimos, é jornalista, fotógrafo (ou ao menos pensa que é) e brinca na seara do marketing. Diz que toca guitarra, mas sabe mesmo é levar um Legião Urbana no violão. Gosta de filmes “cult”, mas não dispensa um bom blockbuster de super-heróis. Finge que não é nerd.. só finge… Resumindo: um charlatão.
4

Créditos Galáticos: 4

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